A consolidação e a relevância do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (BGOELDI) no panorama científico brasileiro são resultado de uma trajetória editorial que alia tradição à constante busca por aperfeiçoamento.
O estudo Rumo à revisão da política editorial do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (PontodeAcesso, vol. 12, no.3, 2018), que compõe uma série de investigações realizadas na última década, de autoria de Jimena Felipe Beltrão e Taíse Cruz Silva, oferece uma análise aprofundada das políticas editoriais adotadas entre 1985 e 2003, destacando a importância da atualização normativa e estrutural do periódico para atender às exigências da ciência contemporânea.
O estudo Análise de políticas editoriais de periódicos científicos nacionais: contribuições para o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas de Beltrão e Silva (Perspectivas em Ciência da Informação, vol. 25, no. 3, 2020) destaca também a importância das políticas editoriais como documentos que expressam não apenas os objetivos acadêmicos do periódico, mas também os valores institucionais do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ao revisitar sua história e propor ajustes contemporâneos, o BGOELDI reafirma seu papel como veículo de excelência para a divulgação científica das Ciências Humanas, mantendo viva a memória da produção amazônica e abrindo-se cada vez mais ao diálogo internacional.
A linguista e editora associada, Ana Vilacy Galúcio, tem “acompanhado de perto o esforço da revista para atingir a excelência dos serviços prestados. Sua visão é de que “Ao primar pela excelência, responsabilidade ética, social e acadêmica, a revista cumpre um papel extremamente necessário de comunicar conhecimentos e relatos sobre temas atuais e importantes para a compreensão de questões relativas à vida no planeta, tendo como foco a Amazônia.”
Ana Vilacy Galúcio, linguista e editora associada do BGOELDI
A revisão da política editorial, fruto de investigação feita com base em documentos históricos do Arquivo Guilherme de La Penha e entrevistas com editoras do Boletim, contribuiu, de forma significativa, especialmente para a adoção de normas internacionais de citação, como a estilo da American Psychological Association (APA) (Beltrão & Silva, 2018, 2019, 2020). Esses estudos se debruçam ainda sobre a ética na escrita científica, investigando diferentes formas de plágio em publicações seriadas. Essa análise revelou casos de má conduta científica por parte de pesquisadores que buscam, de forma imprópria, aumentar sua produtividade acadêmica.
A partir das políticas editoriais de combate ao plágio em 14 periódicos da área das Ciências Humanas, foi possível identificar recomendações e padrões nacionais e internacionais, os quais fortaleceram a política do BGOELDI nesse campo (Beltrão, Silva, T. & Silva, N., 2023). Estudos bibliométricos demonstram o avanço do processo de internacionalização do periódico, consolidando sua presença no cenário científico global (Beltrão et al., 2019, 2025).
De acordo com Taíse Silva, que integrou a equipe do periódico por cinco anos em processo de capacitação, “Tais resultados reforçam que investir em pesquisas sobre políticas editoriais é essencial para o fortalecimento das revistas científicas e para a formulação de políticas públicas voltadas à ciência no âmbito estadual, federal e nos institutos de pesquisa do país.”
Taíse Silva, bibliotecária e autora de inúmeras pesquisas com vistas à revisão da política editorial do BGOELDI
Trajetória foi indicador de mudanças
A análise da história recente do periódico evidenciou ainda dois marcos centrais na trajetória editorial do BGOELDI: a política de 1988, voltada exclusivamente ao periódico, e a de 1997, mais abrangente, contemplando todas as publicações científicas do Museu. Ambas preveem avaliação por pares no modelo duplo-cego, reafirmando o compromisso com a imparcialidade e a qualidade acadêmica. Além disso, destacam a diversidade de idiomas aceitos (português, inglês, francês e espanhol), as seções publicáveis e as normas para apresentação de manuscritos, embora com variações quanto às regras de normalização bibliográfica ao longo dos anos.
Imagem: Arquivo Guilherme de La Penha, do Museu Paraense Emílio Goeldi
No que se refere à gestão editorial, o BGOELDI demonstrou preocupação constante com a qualificação de sua equipe. Documentos de época registram a formação de comissões editoriais, treinamentos específicos e consultorias com especialistas como Rosaly Favero Krzyzanowsky, então diretora do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da Universidade de São Paulo (USP). Tais medidas buscaram profissionalizar o processo editorial, aumentar a qualidade técnica das publicações e ampliar o alcance do periódico por meio de estratégias como a indexação em bases como o SciELO e a Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal (Redalyc).
Ponto central da proposta de atualização da política editorial, a adoção de normas bibliográficas internacionais fez com que o estilo APA substituísse a norma ABNT. A mudança facilitou a submissão por autores estrangeiros e acelerou o processamento editorial, em consonância com práticas de internacionalização exigidas por indexadores de prestígio. Como pontua a editora Jimena Felipe Beltrão, “identificar um modelo simples que mantenha a possibilidade de identificação imediata da referência, inclusive com o uso de DOI e URL, deve se constituir meta”.
Entre as recomendações propostas pelas autoras estavam a explicitação do escopo temático do periódico — com foco em Antropologia, Arqueologia, Linguística e áreas correlatas, especialmente com ênfase na Amazônia —, a adoção de uma política antiplágio mais visível, e a implementação do sistema de publicação contínua.
Este último permitiu maior agilidade na publicação de artigos aprovados, atendendo tanto às expectativas dos autores quanto às diretrizes de ciência aberta promovidas por instituições como o SciELO.
Para ler os artigos, acesse
BELTRÃO, J.F. and SILVA, T.C. Análise de políticas editoriais de periódicos científicos nacionais: contribuições para o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Perspectivas em Ciência da Informação [online]. 2020, vol. 25, no. 3, pp. 3-21 [viewed 08 September 2025]. https://doi.org/10.1590/1981-5344/3301. Available from: https://www.scielo.br/j/pci/a/Sk9ZCHsMdn78gzV8vWp8q3S
BELTRÃO, J.F., et al. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas: uma análise bibliométrica no Período de 2006 a 2015. Revista ACB [online]. 2019, vol. 24, no. 1, pp. 177-196 [viewed 08 September 2025]. Available from: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1532
LEÃO, S.S. Trajetória e novos rumos da política editorial do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/09/08/trajetoria-e-novos-rumos-da-politica-editorial-do-bgoeldi/
A consolidação e a relevância do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (BGOELDI) no panorama científico brasileiro são resultado de uma trajetória editorial que alia tradição à constante busca por aperfeiçoamento.
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