Julianna Garcia Leão e Felipe Jailson Souza Oliveira Florêncio, assistentes da Revista Intercom, Belém, PA, Brasil
Com dez artigos científicos, uma entrevista internacional e três resenhas de livros, o fascículo da Intercom — Revista Brasileira de Ciências da Comunicação reúne contribuições de 26 autores, oriundos de todas as regiões do Brasil e, em sua versão impressa, distribui os trabalhos ao longo de quatro principais eixos temáticos: mapeamentos de cenários contemporâneos, dispositivos móveis, discursos institucionais e práticas jornalísticas.
No primeiro eixo, o periódico congrega trabalhos que realizam mapeamentos não somente de cenários empíricos, mas também conceituais, por apontarem origens, horizontes e caminhos do que se propõem a cartografar. Abrindo o eixo, temos “Zona Portuária do Rio de Janeiro: entre as `conchas vazias´ e a potencialidade das dinâmicas criativas urbanas cotidianas”, de Micael Herschmann (UFRJ) e Cíntia Sanmartin Fernandes (UERJ), no qual os autores analisam as mudanças ocorridas nessa região, palco de grandes reformas que visavam melhorar a estrutura da cidade em vista dos grandes eventos esportivos de 2014 e 2016, e chegam à conclusão de que houve “uma perda de dinamismo no território desde meados de 2016 e que isso está relacionado não só a um aprofundamento da crise econômica do Rio de Janeiro e do país, mas também a uma descontinuidade das políticas públicas implementadas em âmbito municipal” (HERSCHMANN; FERNANDES, 2018, p. 36). No texto seguinte, “Mapeando as relações de coprodução e codistribuição no cinema brasileiro: uma análise pela ótica da teoria de redes”, Daniela Torres da Rocha, Leandro Rodrigo Canto Bonfim, Michael William Citadin e Fernando Antonio Prado Gimenez (UFPR) traçam um perfil do cenário de distribuição do cinema brasileiro, com cruzamentos e distanciamentos em suas redes de redes de interação. Já em “Disputas sobre performance nos estudos de comunicação: desafios teóricos, derivas metodológicas”, dos autores Adriana Amaral (UNISINOS), Thiago Soares (UFPE) e Beatriz Polivanov (UFF), o olhar se volta para um panorama sobre o conceito de performance na área da Comunicação, realizando uma recuperação conceitual do termo, bem como proposições teóricas e metodológicas para sua utilização.
O foco no universo digital, em especial os dispositivos móveis, fica por conta do segundo eixo, o qual conta com os artigos “A dimensão informacional na regulação do contexto de privacidade em interações sociais mediadas por dispositivos móveis celulares”, de Marcel Ayres e José Carlos Ribeiro (UFBA); e “Rádio, mobilidade e ubiquidade: análise do projeto de inclusão mobile digital da Abert”, de Nelia Rodrigues del Bianco (UnB, UFG) e Nair Prata (UFOP), que analisam apropriações e desdobramentos de atividades ligadas à comunicação mediada por dispositivos móveis. No caso do primeiro, tais desdobramentos e apropriações se dão principalmente para fundamentar a discussão sobre privacidade ao utilizar determinados recursos, como mensagens de texto, fotografias, entre outros. Já no segundo, as autoras discutem o processo de digitalização de rádios por meio da utilização de um aplicativo para transmissão do sinal, algo necessário no contexto atual de crescente informatização: “Não é mais somente o ouvinte, mas o sujeito conectado e multiplataforma que busca mais conteúdos integrados e narrativas complementares” (BIANCO; PRATA, 2018, p. 115).
No terceiro eixo, são apresentadas reflexões sobre a atuação do discurso institucional, seja ele de caráter político ou organizacional. Por meio dos artigos desse eixo, é possível olhar tanto para o passado quanto para o presente, vislumbrando, assim, caminhos para pensar sobre o futuro. No artigo “O trabalhismo de Jango em imagens: os cinejornais da Agência Nacional (1963-1964)”, Tatyana Maia, Cássio Albernaz e Cristiane Mitsue (PUC-RS) resgatam a representação do ex-presidente Jânio Quadros como um político voltado às necessidades do povo, feita por meio de gravações chamadas de cinejornais. Já em “Efeitos de sentidos de (in)sustentabilidade nos anúncios impressos do Banco Real/Santander”, Dinair Velleda Teixeira (UFRGS) explora a utilização desse discurso “verde” para promoção de ações e da imagem de um banco.
O jornalismo se faz presente nesta nova edição da RBCC em seu último eixo, sendo discutido sob diferentes aspectos. No trabalho “Expressividade em Jornalismo: interfaces entre Comunicação, Fonoaudiologia e Educação”, Regina Zanella Penteado e Marcia Reami Pechula (UNESP) propõem uma interessante investida sobre as formas de expressão do jornalista, em especial os de televisão, e como as práticas e estudos fonoaudiológicos podem apresentar um olhar mais crítico sobre a homogeneização de formas de se expressar diante de uma câmera e/ou microfone. Ainda sob essa ótica do jornalismo, o artigo “Estratégias mercadológicas do jornalismo regional: as mudanças empreendidas pelo Grupo Jaime Câmara”, de Ângela Teixeira de Moraes (UFG) e Liliane Maria Macedo Machado (UnB), se aprofunda no processo de regionalização de três produtos jornalísticos do Grupo Jaime Câmara, um dos maiores do país.
Por fim, este número da RBCC conta com um relato de experiência, publicado na sessão Arena, para fomentar discussões a respeito de conceitos e metodologias utilizadas em práticas de ensino em Comunicação. O artigo “Experimentações metodológicas no ensino em Comunicação Social: ‘Biografema com a geração beat‘, de Gabriel Sausen Feil (UNIPAMPA), traz o uso de biografemas de autores da geração literária beat em sala de aula para a proposição de uma metodologia de ensino.
Além dos artigos, a RBCC também traz a instigante entrevista com Franck Nouchi, do Le Monde (Paris), realizada por Érika de Moraes (UNESP), a respeito da cobertura de acontecimentos do Brasil realizada na mídia internacional. “Sem dúvida (…) o Brasil é um país que importa para a nossa cobertura”, conta o entrevistado (NOUCHI; MORAES, 2018, p. 201). As resenhas “O que nos dizem os Clássicos da Comunicação? Algumas questões sobre a constituição do campo”, de Dilermando Gadelha (FAPAN, FAPEN), “Das subalternidades aos sentidos da comunicação local”, de Ingrid Gomes (UMESP) e “Marketing no poder, eclipse da publicidade?”, escrita por Francisco Rüdiger (PUC-RS) completam o atual número.
Sobre a Revista Intercom
A Intercom — Revista Brasileira de Ciências da Comunicação é uma publicação quadrimestral, com avaliação A2 pelo Qualis CAPES. O novo número já está disponível para acesso na SciELO, com todos os textos na língua original e também em inglês, bem como no Portal da Intercom. A partir deste ano, com os novos critérios de indexação da SciELO, o periódico passa a adotar o ORCID para identificação dos autores nos textos. Essa é uma das atividades para atender cada vez melhor aos critérios de qualidade de periódicos, respeitando seu caráter interdisciplinar e aberto. Para saber mais sobre como submeter trabalhos à RBCC, que aceita textos em fluxo contínuo, acesse o Portal da Intercom.
Para ler os artigos, acesse
Intercom, Rev. Bras. Ciênc. Comun. vol.41 no.1 São Paulo Jan./Apr. 2018
Link externo
Intercom – Revista Brasileira de Ciências da Comunicação – INTERC: www.scielo.br/interc
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