Luiz Carlos Bresser-Pereira, Editor da Revista de Economia Política, São Paulo, SP, Brasil
No último número de 2018 do periódico Brazilian Journal of Political Economy (v. 38, n. 4), Victor Cruz e Silva e Marcelo Curado, professores da Universidade Federal do Paraná, fazem uma comparação entre teoria pós-keynesiana e a teoria novo-desenvolvimentista no artigo, “Crossing boundaries: an assessment to the influence of post-Keynesianism on developmental macroeconomics”. A escola pós-keynesiana é hoje a mais importante escola heterodoxa de economia nos países ricos, a escola novo-desenvolvimentista busca preencher este papel nos países em desenvolvimento (CARVALHO, 1999; OREIRO, PAULA, 2012).
O artigo mostra que o novo desenvolvimentismo nasceu, nos últimos quinze anos, a partir do estruturalismo latino-americano ou desenvolvimentismo clássico e da macroeconomia pós-keynesiana. Suas diferenças principais em relação ao desenvolvimentismo clássico são sua crítica da política de crescimento com poupança externa, a importância relativamente menor dada à política industrial e o fato de contar com uma macroeconomia. Já em relação à macroeconomia pós-keynesiana, as principais diferenças são novamente a rejeição pelo novo desenvolvimentismo da política de crescimento com endividamento externo, o papel estratégico que atribui à taxa de câmbio e ao saldo em conta-corrente, a tendência a crises financeiras cíclicas devido à tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio, não obstante a incerteza, que é essencial para Keynes é também essencial para o novo desenvolvimentismo.
Como editor do Brazilian Journal of Political Economy e um dos defensores do novo desenvolvimentismo eu apenas acrescentaria duas coisas a este excelente artigo. Enquanto a teoria pós-keynesiana corretamente faz o desenvolvimento econômico depender do investimento, mas não inclui na função investimento a taxa de câmbio, o novo desenvolvimentismo, na medida que afirma a tendência à sobreapreciação de longo prazo da taxa de câmbio, afirma que as empresas, ao decidirem investir, avaliam suas expectativas de lucro, que em princípio deveriam depender apenas da demanda efetiva, e tomam em consideração essa taxa de câmbio que as torna não-competitivas e não investem. Dessa maneira é a taxa de câmbio que dá não vê um papel para a taxa de câmbio no processo de investimento e desenvolvimento econômico, o novo desenvolvimentismo a coloca no centro faz o desenvolvimento econômico depender da taxa de investimento mas não tem uma teoria de investimento, o novo desenvolvimentismo torna a taxa de câmbio determinante que possa ser considerada não tem um modelo histórico de desenvolvimento econômico, no modelo novo desenvolvimentismo este mas apena No plano metodológico, enquanto o pensamento pós-keynesiano nem sempre é fiel ao método-histórico e não tanto à incerteza em que operam os agentes econômicos.
Referências
CARVALHO, F. J. C. Políticas econômicas para economias monetárias. In: LIMA, G. T., SICSÚ, J. and PAULA, L. F. (Org.). Macroeconomia moderna: Keynes e a economia contemporânea. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p. 258-281.
OREIRO, J. L. and PAULA, L. F. Novo desenvolvimentismo e a agenda de reformas macroeconômicas para o desenvolvimento sustentado com estabilidade de preços e equidade social. In: OREIRO, J. L., PAULA, L. F. and BASÍLIO, F. (Ed.). Macroeconomia do desenvolvimento: ensaios sobre restrição externa, financiamento e política macroeconômica. Recife: Editora da UFPE, 2012.
Para ler o artigo, acesse
SILVA, V. C. E. and CURADO, M. Crossing boundaries: an assessment to the influence of post-Keynesianism on developmental macroeconomics. Brazil. J. Polit. Econ., v. 38, n. 4, p. 611-628, 2018. ISSN: 0101-3157 [viewed 2 December 2018]. DOI: 10.1590/0101-35172018-2827. Avaliable from: http://ref.scielo.org/5kwkbc
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