Rosa Emilia Moraes, Jornalista Científica para a Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.
Michel Serres (1993) compara o processo de aprendizado com a travessia de um rio perigoso, reforçando a ideia de que aprender envolve uma experiência de ruptura, na qual deixamos para trás as certezas e o conforto do que já conhecemos e com o que concordamos, em busca de novos conhecimentos. Esta analogia é particularmente relevante na era digital, na qual os algoritmos tendem a limitar e segmentar o conteúdo apresentado aos usuários, baseando-se no que eles já acessaram anteriormente. Nesse cenário, é razoável assumir que os algoritmos predominantes nos ambientes digitais tenham um significativo impacto nos processos de educação e aprendizagem do indivíduo.
No ensaio Os algoritmos e a errância: notas para ensinar em um mundo digital, publicado na Educação & Sociedade (vol. 45, 2024), Luiz Coppi, professor formado pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), propõe o desenvolvimento de atitudes pedagógicas na relação entre educador e educando, capazes de contornar o filtro imposto pelos algoritmos digitais.
O autor não demoniza esses algoritmos. Pelo contrário, reconhece que são indispensáveis, devido à imensa quantidade de informações disponíveis no mundo virtual, e não propõe que sejam diretamente combatidos. No entanto, seu ensaio demonstra a urgência em inspirar os educandos a assumir uma postura de discernimento ao utilizar as redes.
Para isto, Coppi apresenta diversas citações que fundamentam os princípios da pedagogia, conceituando o aprendizado como um processo de afastamento de si e descoberta do mundo. Faz referência à obra de Eli Pariser (2012) para apresentar o modo de operação dos algoritmos digitais, como eles afetam a subjetividade das pessoas e como isso gera o que o autor chama de “subjetividade algorítmica”, que não condiz com os métodos de aprendizagem clássicos.
Ao buscar o engajamento do usuário, a lógica algorítmica diverge muito das condições propícias para o aprendizado, encontradas na pedagogia tradicional, que leva o estudante a abandonar suas certezas, afastar-se de si mesmo e vivenciar o mundo.
O modus operandi dos algoritmos, baseado nos conteúdos acessados e no comportamento do usuário nas redes, cria essa “bolha” quase narcisista de assuntos e informações sobre uma limitada gama de interesses já pesquisados. Assim, o indivíduo fica blindado de ideias e pensamentos divergentes, consumindo publicidade segmentada, conformado com as informações que não o desafiam a questionar, permanecendo imerso em condições confortáveis, que reduzem as oportunidades de aprendizado.
Finalmente, Coppi utiliza-se de uma narrativa singela, carregada de reflexões sobre a dúvida, decisões e responsabilidades, para expor suas considerações sobre a importância de oferecer aos alunos uma experiência distinta da que se vivencia pelo mundo digital, adotando uma postura que desenvolva a disposição para enfrentar a lógica algoritmizada. Os algoritmos acabam com as incertezas, mas são elas que nos movem.
Referências
PARISER, E. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.
SERRES, M. O terceiro instruído. Lisboa: Instituto Piaget, 1993.
Para ler o artigo, acesse
COPPI, L.A.C. Os algoritmos e a errância: notas para ensinar em um mundo digital. Educação & Sociedade [online]. 2024, vol. 45, e279318 [viewed 01 July]. https://doi.org/10.1590/ES.279318. Available from: https://www.scielo.br/j/es/a/YpYHHxcWkGyjFyBPptTFPtw
Links Externos
Educação & Sociedade – ES: www.scielo.br/es
Educação & Sociedade – Redes sociais: Facebook | Twitter | LinkedIn | Instagram
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP): https://www4.fe.usp.br/
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários