Por Paula Cristiane Strina Juliasz, editora-chefe da GEOUSP e professora doutora no Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
O artigo Tecnologias digitais e geografia escolar: saberes docentes produzidos durante o Ensino Remoto Emergencial (2020-2021), publicado no periódico Geousp – espaço e tempo (vol. 29, no. 1, 2025), trata dos saberes docentes produzidos durante o Ensino Remoto Emergencial (2020–2021) e buscou analisar como esses saberes foram construídos diante da falta de formação prévia, evidenciando a aprendizagem prática e experiencial no contexto da pandemia
Realizado por meio de reflexão teórica e pesquisa em campo, com a finalidade de identificar e analisar os saberes produzidos pelos professores a partir do uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) na geografia escolar durante o Ensino Emergencial no estado de São Paulo, o estudo concluiu que aspectos tanto de ordem da formação inicial quanto continuada: a) a maior parte do corpo docente de geografia da rede estadual paulista não teve contato com disciplinas específicas ou atividades sobre a relação entre TDIC e ensino de geografia; b) pouco mais da metade dos docentes participou de curso relacionado à temática em questão.
Francisco Fernandes Ladeira, professor do Departamento de Geociências (DEGEO) da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em parceria com Tânia Seneme do Canto, Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sistematizou os dados produzidos por meio de questionários, compostos por três perguntas objetivas e treze perguntas subjetivas, respondidos por cinquenta professores de geografia da educação básica da rede estadual de São Paulo.
Ao refletir sobre os desafios encontrados pelos professores no contexto pandêmico, questões sobre o quanto do uso das tecnologias hoje ainda estão presentes no cotidiano escolar e como o conhecimento experiencial foi aprimorando tornam-se pertinentes. Os autores mencionam o estudo de Vieira e Seco (2020) que revisa estudos iniciais do Brasil e de Portugal para analisar os impactos educacionais, destacando os desafios enfrentados por alunos e professores e as estratégias adotadas para adaptar o ensino ao contexto on-line.
Enfatize-se, também, a importância do procedimento empírico para compreender como os professores lidaram com as tecnologias digitais durante o contexto de aulas remotas. Este artigo aprofunda as formas como os professores e estudantes se relacionaram com o conhecimento, pois extrapola dados puramente estatístico e permite a expressão por parte daquele que ensina e produz conhecimento sobre seu objeto, o ensino. Ao longo do artigo, pode-se observar as perguntas respondidas pelos professores e o quadro-síntese sobre os saberes emergentes no contexto da pandemia da Covid-19.

Quadro 1. Saberes docentes emergentes na geografia escolar durante o Ensino Remoto Emergencial. GEOUSP, São Paulo, v. 29, n. 1, e-201427, 2025. p.10
Os dados obtidos foram organizados em três blocos: 1) formação inicial e continuada de professores; 2) práticas pedagógicas na geografia escolar com as TDIC antes do Ensino Remoto Emergencial; 3) saberes e práticas pedagógicas que emergiram na geografia escolar durante o Ensino. Desta forma, o artigo contribui às metodologias de pesquisa com os sujeitos da educação, pois fornece mecanismos de sistematização para análise, compreendendo formação, conhecimento pedagógico e conhecimento específico em um determinado contexto. Os autores partem da concepção de Tardif (2002) sobre saberes docentes: a) saberes disciplinares; b) saberes profissionais; c) saberes curriculares e; d) saberes experienciais.
Os saberes experienciais mostraram-se como o mais evidente e presente no período investigado, pois trata-se da execução do trabalho e das funções do professor. Essa pesquisa apresenta a voz dos professores que vivenciaram os desafios de se ensinar geografia com a distância e no contexto de profunda tristeza com a perda de vidas.
Além do mais, segundo os professores de geografia, as diretrizes propostas pelas autoridades educacionais do estado de São Paulo – resumidas ao aplicativo CMSP e alguns outros poucos documentos normativos – foram insuficientes para o uso das TDIC durante o Ensino Remoto Emergencial. Frases como “não tive nenhum tipo de apoio”, “a Seduc não nos ofereceu um suporte adequado” e “o material que veio do estado para o ensino remoto não estava de acordo com a realidade dos alunos, tive que criar meu material para as aulas” foram comuns, tanto em conversas informais com docentes, quanto nas respostas ao questionário proposto por esta pesquisa. (Ladeira; Canto, 2025, p. 11)
A pesquisa apresenta que 76% dos participantes afirmaram que passaram a utilizar as tecnologias digitais com maior intensidade em sua prática profissional e refletir sobre questões relacionadas ao uso pedagógico dos diferentes recursos digitais. Este artigo nos provoca a compreender a constituição dos saberes produzidos por docentes e o uso de ferramentas e diversas linguagens para a construção de aulas de Geografia.
Para ler o artigo, acesse
LADEIRA, F.F. and CANTO, T.S. Tecnologias digitais e geografia escolar: saberes docentes produzidos durante o Ensino Remoto Emergencial (2020-2021). GEOUSP [online]. 2025, vol. 29, no. 1, e-230053 [viewed 2 July 2025]. https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2025.230053.pt. Available from: https://www.scielo.br/j/geo/a/rv7yqrXPmPnxzTdWSp8JGTr/
Referências
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
VIEIRA, M.F. and SECO, C.M. A Educação no contexto da pandemia de COVID-19: uma revisão sistemática de literatura. Revista Brasileira de Informática na Educação [online]. 2020, vol. 28, pp. 1013-1031 [viewed 2 July 2025]. http://doi.org/10.5753/rbie.2020.28.0.1013. Available from: https://journals-sol.sbc.org.br/index.php/rbie/article/view/4232
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