Dora Porto, Editora científica, Revista Bioética, Brasília, DF, Brasil
Xingar alguém, no trânsito ou em conflito interpessoal, expressa mais do que simples desabafo; revela preconceitos normalmente ocultos sob o manto da civilidade. Afinal, se queremos reprovar alguém lhe imputamos uma condição que consideramos abjeta ou, no mínimo, reprovável. Assim, ao analisar o que é proferido em momentos de raiva, quando os padrões de regulação exógenos não estão no controle do comportamento, podemos entender o que determinado grupo social julga tão vergonhoso a ponto de considerar uma ofensa.
O artigo “Xingamento entre homossexuais: transgressão da heteronormatividade ou replicação dos valores de gênero” apresenta essa discussão, mostrando que valores e atributos atribuídos ao feminino constituem as categorias de xingamento mais ofensivas para o grupo pesquisado.
A constatação da desvalorização do feminino é reforçada no artigo “Que grito é esse: sonoridadede mulheres – uma discussão por reconhecimento”, que debate os valores envolvidos no novo feminismo, representado por movimentos como a Marcha das Vadias, que tem espalhado pelo mundo uma maneira inédita de reivindicar equidade entre mulheres e homens.
Como tema tangencial a essas reflexões amplas sobre o impacto das desigualdades de gênero na vida social, o artigo “A moralidade das intervenções cirúrgicas com fins estéticos de acordo com a bioética principialista” retoma conceitos da bioética clínica para analisar a busca crescente por cirurgias plásticas, em grande parte motivadas pelas mídias sociais, selfies e também pelo fenômeno das celebridades, que disseminam em rede modelos “ideais” de beleza, cada vez mais cobiçados pela população, especialmente a feminina.
Dando prosseguimento à reflexão das temáticas mais frequentemente discutidas no campo da bioética, este número também apresenta estudos sobre cuidados paliativos, testamento vital, morte encefálica, anencefalia, eutanásia em crianças, a partir da aprovação por decreto real, na Bélgica em março, os quais estimulam o aprofundamento do estado da arte em cada um desses tópicos. Ressalte-se o artigo “Sobre diagnóstico e suas implicações na Engenharia Clínica” por se tratar do primeiro trabalho que utiliza a bioética para analisar as práticas dessa área da Engenharia, estabelecendo mais uma ponte para o percurso crítico e filosófico da bioética.
A primeira década da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, promulgada pela Unesco, também é lembrada nesse número. A Declaração firmada em 2005 tornou-se um marco conceitual e pragmático no campo da bioética, pois expandiu seu escopo e âmbito de atuação, permitindo que temas afeitos aos direitos humanos e às dinâmicas sociais fossem incorporados e considerados legítimos nas discussões sobre ética em saúde. A universalidade que embasa os direitos humanos também é discutida em artigo que analisa as tentativas de estabelecer parâmetros para uma moralidade comum na clássica obra de Beauchamp e Childress, a partir de comparação de suas diferentes versões.
Além destes, outros artigos com temáticas complementares, relacionadas ao uso de placebo em pesquisa clínica, ao transhumanismo e os limites da condição humana, à influência da prática religiosa para pacientes de doenças crônicas e à vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis, compõem o número de final de ano da Revista Bioética. Destacamos ainda o editorial que, baseando-se em fatos ocorridos no início do segundo semestre, apresenta análise sobre a importância crucial da publicação em acesso aberto e do modelo SciELO para a disseminação da produção científica brasileira e latino americana.
Dignidade Humana [verbete]
“A vida sempre tem
Um valor que ninguém
Sabe explicar tão bem
Mas que tem, tem…”
(Dicionário Improvável do Sentido Imaginado)
Para ler os artigos, acesse:
BERGEL, S. D. Ten years of the Universal Declaration on Bioethics and Human Rights. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 446-455. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233081. Available from: http://ref.scielo.org/fswc78
FREGNANI, J. H. T. G., et al. Eticidade do uso de placebo em pesquisa clínica: proposta de algoritmos decisórios. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 456-467. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233082. Available from: http://ref.scielo.org/vqsm8n
CANTARINO, L., and MERCHAN-HAMANN, E. Pensar a ética na vigilância dainfluenza?. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 468-474. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233083. Available from: http://ref.scielo.org/7pwbw4
SILVA, F. M., and NUNES, R. Caso belga de eutanásia em crianças: solução ou problema?.Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 475-484. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233084. Available from: http://ref.scielo.org/hfc2wc
RODRIGUES FILHO, E. M., and JUNGES, J. R. Morte encefálica: uma discussão encerrada?. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 485-494. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233085. Available from: http://ref.scielo.org/rzwvg3
GAZZOLA, L. P. L., and MELO, F. H. C. Anencefalia e anomalias congênitas: contribuição do patologista ao Poder Judiciário. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 495-504. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233086. Available from: http://ref.scielo.org/rs2b6j
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VILLAS-BOAS, M. E. O direito-dever de sigilo na proteção ao paciente. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 513-523. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233088. Available from: http://ref.scielo.org/v2pzcb
GRACINDO, G. C. L. A moralidade das intervenções cirúrgicas com fins estéticos de acordo com a bioética principialista. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 524-534. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233089. Available from: http://ref.scielo.org/xvhgwn
TOSCAS, F. S., and TOSCAS, F. Sobrediagnóstico e suas implicações na engenharia clínica. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 535-541. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233090. Available from: http://ref.scielo.org/kggnjx
GONCALVES, E. H., and GENTIL, A. B. Que grito é esse? Sonoridades de mulheres: uma discussão por reconhecimento. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 542-551. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233091. Available from: http://ref.scielo.org/4ns7g2
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SILVA, J. A. C., SOUZA, L. E. A., COSTA, J. L. F., and MIRANDA, H. C. Conhecimento de estudantes de medicina sobre o testamento vital. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 563-571. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233093. Available from: http://ref.scielo.org/24n9v5
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SOUZA JUNIOR, E. Á., TROMBINI, D. S. V., MENDONCA, A. R. A., and ATZINGEN, A. C. V. Religião no tratamento da doença renal crônica: comparação entre médicos e pacientes. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 615-622. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233098. Available from: http://ref.scielo.org/xmpqm4
BAERE, F., ZANELLO, V., and ROMERO, A. C. Xingamentos entre homossexuais: transgressão da heteronormatividade ou replicação dos valores de gênero?. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 623-633. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233099. Available from: http://ref.scielo.org/6fcvbw
AZAMBUJA, L. E. O., and GARRAFA, V. A teoria da moralidade comum na obra de Beauchamp e Childress. Rev. Bioét. [online]. 2015, vol.23, n.3, pp. 634-644. [viewed 19th January 2016]. ISSN 1983-8034. DOI: 10.1590/1983-80422015233100. Available from: http://ref.scielo.org/973mz8
Link externo:
Revista Bioética – BIOET – www.scielo.br/bioet
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