Tiago Seminatti, Assistente editorial da Machado de Assis em linha – revista eletrônica de estudos machadianos, São Paulo, SP, Brasil
A Mael número 22 apresenta estudo de Benito Petraglia, pós-doutorando na Universidade Federal Fluminense, sobre a presença da paisagem urbana nas crônicas de “A Semana”, publicadas por Machado de Assis na Gazeta de Notícias entre 1892 e 1897. Por meio da análise desses textos, o pesquisador mostra como o cronista se expressa com excelência em um período importante para a cidade do Rio de Janeiro, já que nela repercutiam os efeitos da transição da monarquia para a república, sentindo-se a simultaneidade do velho e do novo, conforme observa por meio da tese XIV de Walter Benjamin (1994) acerca dos conceitos de história.
Petraglia detecta que, nas crônicas de “A Semana”, o “centro nervoso” da cidade é a Rua do Ouvidor (2017, p. 128). Além do olhar agudo que Machado desfere sobre os atrativos de tal rua, ocorre também vê-la como um pasmatório, ou lugar em que o burburinho e o boato estão presentes. Já sobre a abordagem que faz das políticas de reforma urbana da cidade, o pesquisador recorre à crítica de Antonio Candido (1995) sobre o Machado ficcionista para destacar que o distanciamento do narrador machadiano em relação aos fatos narrados ocorre de modo similar no cronista, gerando em ambos um estilo dotado de ambiguidade, imparcialidade e uma visão de mundo com senso crítico. Assim, Machado discorre sobre as intervenções urbanas realizadas pelo prefeito Barata Ribeiro de modo a criticar, por exemplo, a preponderância dos interesses privados sobre os interesses públicos, mas com a cautela necessária para não se comprometer ou criar desafetos.
Outros assuntos presentes nesse conjunto de crônicas são os gatunos e o bonde. Sobre o primeiro, Petraglia observa que Machado avalia com humor e ironia as consequências da implementação deste meio de transporte na cidade. Acerca do noticiário policial, sublinha que o escritor não apenas analisa a conduta humana, como dela também extrai matéria para sua ficção. Por fim, com o intuito de avaliar como em Machado a paisagem está vinculada aos dramas humanos, articula a leitura de uma crônica de agosto de 1893 com os argumentos presentes em “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade” (ASSIS, 2011), procurando fundamentar a hipótese de que o texto de “A Semana” é uma “espécie de segunda versão” do célebre ensaio machadiano de 1873 (PETRAGLIA, 2017, p. 145).
Referências
ASSIS, M. Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade. In: ASSIS, Machado de. O jornal e o livro. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 13-26.
BENJAMIN, W. Sobre o conceito de história. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 222-232.
CANDIDO, A. Esquema de Machado de Assis. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 17-39.
Para ler os artigos, acesse
PETRAGLIA, B. O Rio de Janeiro nas crônicas de a semana. Machado Assis Linha [online]. 2017, vol.10, n.22, pp.126-147. ISSN 1983-6821. [viewed 29 January 2018]. DOI: 10.1590/1983-6821201710229. Available from: http://ref.scielo.org/hzcdt3
Link externo
Machado de Assis em Linha – MAEL: www.scielo.br/mael
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