O valor atribuído aos itens de teste no Ensino Médio: o que os dados revelam?

Alex de Oliveira Fernandes, Professor de História, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil

Suzana Santos Gomes, Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil

O artigo “Interfaces entre Avaliação e Currículo de História no Ensino Médio”, de Alex de Oliveira Fernandes e Suzana dos Santos Gomes, publicado no periódico Educação & Realidade (v. 43, n. 4), apresenta os resultados de uma pesquisa de mestrado intitulada O Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (PAAE) em Minas Gerais: interfaces entre práticas avaliativas e currículo de História no Ensino Médio. Trata-se da análise de um programa integrante do Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública (SIMAVE), entre os anos 2004 e 2016, que visa acompanhar o desenvolvimento das habilidades dos estudantes ao longo do ano escolar por meio do resultado em testes.

Os resultados da investigação indicaram que o discurso das vantagens e benefícios promovidos pelos sistemas e programas de avaliação, pautados no modelo de gestão educacional, inspirado em accountability, tende a ocultar a complexidade intrínseca ao campo da didática, ao processo ensino-aprendizagem, em favor de concepções reducionistas de ensino, de viés tecnicista, desconsiderando a pluralidade de conceitos e a dimensão multifacetada do currículo e das práticas de avaliação da aprendizagem escolar. (Afonso, 2009). Especificamente em relação ao PAAE, observou-se uma contradição entre o anúncio do caráter inovador dos itens utilizados, como recurso pedagógico, para avaliar habilidades e competências e a presença hegemônica de questões tradicionais nas provas elaboradas para o programa, em detrimento da modalidade formativa anunciada. (Gomes, 2014). O programa instaurou a cultura de testes padronizados na Rede Pública Estadual de Educação, limitando a perspectiva curricular presente no Currículo Básico Comum (CBC) da disciplina de História.

No contexto de expansão de programas e sistemas de avaliação no Brasil, alguns autores destacam que as avaliações contribuem para a melhoria da qualidade da educação, favorecem a organização do trabalho pedagógico da escola, promovem melhorias nas práticas docentes, padronizam critérios de qualidade nos sistemas, consolidam as diretrizes curriculares e instituem a transparência no serviço público. Por outro lado, muitos estudos criticam as avaliações externas destacando os seguintes argumentos: supervalorização dos testes cognitivos, os limites que os testes padronizados estariam impondo ao currículo e a autonomia docente, a associação das políticas de avaliação aos interesses neoliberais das agências internacionais, em contraposição à função social da escola e ao seu papel na formação de consciências críticas.

Com base nesse debate, a pesquisa foi orientada pelas seguintes questões: De que forma o PAAE interfere nas práticas de ensino de História? Qual a concepção de avaliação e de educação sob a qual se fundamenta o programa? Os itens de teste adotados atendem os objetivos pedagógicos anunciados? Quais as implicações desse programa de avaliação para o currículo de História no ensino médio, e para a organização do trabalho docente?

Como procedimento metodológico foram adotadas a revisão de literatura, pesquisa documental e de campo que envolveu a aplicação de questionários a professores de História, observação do uso de avaliações, a análise de conteúdo de matrizes curriculares e de itens de teste de provas geradas pelo PAAE. Adotou-se como categoria de análise a abordagem sociológica da avaliação, na busca de interfaces no debate contemporâneo sobre a relação entre avaliação, currículo e trabalho docente. (Sacristán, 2011).

Referências

AFONSO, A. J. Avaliação Educacional: regulação e emancipação: para uma sociologia das políticas avaliativas contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2009.

GOMES, S. dos S. Um olhar sobre as práticas de avaliação na escola. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014.

SACRISTÁN, J. G. Educar por Competências: o que há de novo? Porto Alegre: Artmed, 2011.

Para ler o artigo, acesse

FERNANDES, A. O. and GOMES, S. S. Interfaces entre Avaliação e Currículo de História no Ensino Médio. Educ. Real., v. 43, n. 4, p. 1363-1384, 2018. ISSN: 0100-3143. [viewed 20 February 2019] DOI: 10.1590/2175-623684903. Available from: http://ref.scielo.org/v2kqhm

Link externo

Educação & Realidade – EDREAL: www.scielo.br/edreal

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

FERNANDES, A. O. and GOMES, S. S. O valor atribuído aos itens de teste no Ensino Médio: o que os dados revelam? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/02/20/o-valor-atribuido-aos-itens-de-teste-no-ensino-medio-o-que-os-dados-revelam/

 

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