Marina Helena Pereira Vieira, Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba, SP, Brasil.
O trabalho docente passou a ter uma nova lógica nas rotinas acadêmicas, baseada na aceleração e intensificação de atividades, que estimula a produtividade e reproduz no âmbito universitário as características próprias do trabalho flexível, sendo causa de desconfortos físicos e psíquicos. Neste cenário, o artigo “Produtivismo na pós-graduação na perspectiva da ergonomia da atividade”, publicado no periódico Educação e Pesquisa (vol. 46), analisa o trabalho dos docentes no contexto do ensino superior público da pós-graduação, a partir da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), buscando identificar os constrangimentos a que esta categoria profissional está submetida, considerando especialmente o sistema avaliativo da produção intelectual vigente da CAPES, atrelado à validação e classificação dos programas de pós-graduação.
Os programas de pós-graduação stricto sensu são avaliados quadrienalmente pela CAPES, que decide se os cursos atendem às exigências de qualidade para se manterem em atividade. No processo de avaliação, mais de 1/3 da nota recai sobre a produção intelectual do corpo docente, para a qual recomenda-se majoritariamente ser publicada em periódicos classificados nos estratos superiores do “Qualis” da área. Portanto, sendo elemento central na avaliação do curso e, como consequência, da produção docente, o peso dado à produção intelectual indica que se um pesquisador deseja contribuir para a distinção de seu programa, ele deverá observar os veículos de publicação que em sua área assumem maior relevância. Por esse motivo, é um assunto polêmico no âmbito acadêmico sendo melhor tolerado em algumas áreas enquanto em outras, é motivo de maior desconforto.
Embora a CAPES esclareça que a classificação Qualis serve apenas para o processo de avaliação de cada área, sem a pretensão de definir a qualidade de periódicos, o peso atribuído a eles nos estratos é decisivo para veicular as pesquisas, balizando o conhecimento para adequação e aceitação do artigo. Os efeitos do sistema de avaliação da produção intelectual, proposto pela CAPES e replicado nos processos de credenciamento e descredenciamento de docentes do programa de pós-graduação, incluem sentimentos de opressão, desgastes emocionais e propagam atitudes individualistas entre os membros da equipe. Geram, portanto, uma ruptura do coletivo de trabalho, observados na maioria das opiniões avaliadas, o que também é corroborado pela literatura científica.
Referências
MANCEBO, D. Trabalho docente e produção de conhecimento. Psicol. Soc. [online]. 2013, vol. 25, no. 3, pp. 519-526. ISSN: 1807-0310 [viewed 15 June 2020]. DOI: 10.1590/S0102-71822013000300006. Available from: http://ref.scielo.org/h9qvq6
VIEIRA, M.H.P., et al. Análise Ergonômica do Trabalho (AET).: panorama das publicações brasileiras 1950-2015: Panorama das Publicações Brasileiras 1950 – 2015. In: ORDOÑEZ, A.L. (org.). Memorias del Simposio de Ingeniería de la Producción: XVI SEPROSUL. San Rafael: Facultad de Ciencias Aplicadas A La Industria de La Universidad Nacional de Cuyo, 2016. Cap. 2. p. 244-252. Avaliable from: https://www.aacademica.org/del.giorgio.solfa/149.pdf
VIEIRA, M.H.P. Análise ergonômica do trabalho docente na pós-graduação: estudo de caso no departamento de engenharia de produção de uma instituição de ensino superior (IES) pública federal. 2018. 127 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba, Sorocaba, 2018.
Para ler o artigo, acesse
VIEIRA, M.H.P., et al. Produtivismo na pós-graduação na perspectiva da ergonomia da atividade. Educ. Pesqui. [online]. 2020, vol. 46, e220223. ISSN: 1678-4634 [viewed 15 June 2020]. DOI: 10.1590/s1678-4634202046220223. Avaliable from: http://ref.scielo.org/jywznj
Links externos
Educação e Pesquisa – EP: www.scielo.br/ep
https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/9833
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