História (São Paulo), fazendo História há quase quatro décadas na visão do professor José Luis Bendicho Beired

José Luis Bendicho Beired, Professor, Universidade Estadual Paulista Unesp, Assis, SP, Brasil. 

Paulo Cesar Gonçalves, Professor e editor do periódico História (São Paulo), Universidade Estadual Paulista Unesp, Assis, SP, Brasil.

Capa e Sumário do primeiro volume do periódico História (São Paulo) Imagem: Acervo digital do periódico.

José Luis Bendicho Beired é professor livre-docente em História da América do Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras de Assis (Unesp). Desenvolve suas pesquisas no campo da história política e intelectual da América Latina contemporânea, especialmente em torno da Argentina, dos pensadores, da direita autoritária e do hispano-americanismo, interessando-se pelas relações transnacionais e a comparação com o Brasil. Foi presidente da Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas (ANPHLAC), coordenador do Programa de Pós-graduação em História da Unesp/Assis e pesquisador do Grupo Temático Fapesp “Cultura e políticas nas Américas: circulação de ideias e configuração de identidades (séculos XIX e XX)”.

Nesta entrevista, o professor Beired discorre sobre a trajetória do periódico História (São Paulo), destacando as dificuldades e as expectativas quando da sua criação, o protagonismo do professor José Ribeiro Junior nos primeiros anos de consolidação da publicação e a experiência da edição compartilhada entre os Programas de Pós-Graduação em História de Assis e Franca.

1. Professor Beired, fale-nos sobre os primeiros momentos da criação dos periódicos voltados para a área de História na Unesp.

A trajetória desses periódicos se confunde com o desenvolvimento da área de História no Brasil e com a evolução da Unesp. Antes da criação da universidade, as faculdades isoladas de Assis e Marília publicavam desde os anos sessenta dois periódicos – Anais de História e Estudos Históricos – respectivamente. Imperava a vontade de formar não apenas professores, mas também pesquisadores, naquele empreendimento pioneiro de expansão da formação superior no interior do Estado de São Paulo, expresso, por exemplo, na criação da Associação Nacional de História (ANPUH) e na realização do Primeiro Simpósio de Professores de História do Ensino Superior, na cidade de Marília, em 1961. Os dois periódicos tiveram seus últimos números publicados em 1977, em um momento de transição decorrente da criação da Unesp, no ano anterior, e da incorporação das faculdades isoladas à nova instituição.

A criação do atual periódico História (São Paulo) significou a retomada dos periódicos anteriores em uma nova situação. A implantação da Unesp levou à restruturação dos antigos institutos isolados, implicando a extinção de cursos, como o de História de Marília, por sua proximidade geográfica ao de Assis. Foi, no entanto, mantido o curso de História da cidade de Franca, situado em outro extremo do Estado de São Paulo, que funcionava desde 1963. Assim, a criação do periódico no início dos anos oitenta expressava um novo momento de colaboração entre os cursos de História no contexto da consolidação da Unesp. Por outro lado, foi muito importante a instituição dos programas de pós-graduação em História em Assis (1978) e Franca (1979), ao estimular a criação de um periódico para a difusão das pesquisas. Se inicialmente a publicação privilegiava a produção dos seus docentes e alunos, com o tempo passou a dar ênfase à produção da área, tanto do Brasil quanto do exterior.

2. É possível identificar o protagonismo de algum professor no processo de consolidação do periódico?

O professor José Ribeiro Junior (1939-2018), teve papel preponderante nesse processo como editor do periódico entre 1982 e 1989. O seu reconhecimento intelectual como historiador e liderança na Unesp foram importantes para agregar os professores dos câmpus e viabilizar o periódico. Inicialmente ele foi publicado dentro do formato padrão dos demais periódicos da Unesp e passou a ser financiado pela Fundação para o Desenvolvimento da Unesp (Fundunesp). Em 1989, o formato físico da publicação foi modernizado graças ao apoio da recém criada Editora Unesp. Isso permitiu tanto o aumento da quantidade de páginas, quanto sua reformulação gráfica, com a inclusão de capas originais a cores para cada número e de ilustrações no corpo dos artigos. Correspondia a uma tendência do mercado de periódicos de modo a torná-los mais atrativos para o leitor. O periódico era não só distribuído às bibliotecas do Brasil e do exterior, mas também passou a ser comercializado pela Editora Unesp.

3. Fale-nos um pouco sobre as dificuldades e possibilidades do trabalho de edição em conjunto do periódico.

Nos anos 1990, paralelamente à expansão dos cursos de pós-graduação, o periódico História (São Paulo) era reconhecido por seu elevado nível acadêmico, rigor na seleção dos artigos e cuidado nas várias etapas do processo editorial. Qualidades que se traduziram na crescente demanda dos autores para ali publicar. Como, todavia, a internet não se encontrava difundida, os membros da comissão editorial de Assis e Franca viajavam a São Paulo e reuniam-se no palacete da Fundunesp, na Avenida Rio Branco, para discutir as questões que envolviam a publicação de cada número.

Em 2003, o periódico foi um dos primeiros da área a ser veiculado na SciELO, durante a editoria da professora Tania Regina de Luca. No entanto, uma série de desafios se colocavam para os Departamentos de História de Franca e Assis que gerenciavam a publicação. A produção impressa, difícil em razão de custos e escassez de recursos humanos, demandava sempre um enorme esforço e assim mesmo invariavelmente o lançamento ficava atrasado em relação à versão digital. Além disso, os programas de pós-graduação dos dois câmpus mantinham nessa época outros dois periódicos impressos com a participação das coordenações e dos estudantes: Pós-História, desde 1993, em Assis, e Estudos de História, desde 1994, em Franca.

4. Quais os motivos que levaram à extinção dos periódicos editados em cada um dos Programas de Pós-Graduação e à manutenção do periódico História (São Paulo)?

Como coordenador de pós-graduação, percebi que a publicação de três periódicos estava levando à sobreposição e à dispersão de esforços acadêmicos e financeiros, e em função disso, propus a sua fusão em torno do mais antigo e reconhecido na área. Acatada a proposta, a partir de 2007, História (São Paulo) passou a ser o periódico da área de História na Unesp, publicado unicamente em formato digital na plataforma SciELO. Estava claro que a visibilidade do periódico e o acesso dos artigos eram maiores digitalmente do que sob a forma impressa. Passou a ter dois editores – um de cada câmpus – e a ser vinculado aos programas de pós-graduação para fortalecer o seu papel com a pesquisa. Tal decisão permitiu a concentração do trabalho dos cursos de Assis e Franca na confecção do periódico, repercutindo no aprimoramento da sua qualidade e no fortalecimento do seu prestígio junto à comunidade acadêmica nacional e internacional.

5. A trajetória do periódico deixa alguma lição?

Em primeiro lugar, o funcionamento ininterrupto de um periódico prestigiado como este é algo que não se faz da noite para o dia. É o resultado do compromisso permanente dos docentes envolvidos com o conhecimento e sua difusão social. Por outro lado, em 2020, o processo de cooperação dos historiadores dos câmpus de Assis e Franca deu um passo a mais com a fusão dos seus programas de pós-graduação em História em um único da Unesp. Certamente a bem sucedida trajetória de colaboração encarnada no periódico História (São Paulo) foi decisiva para a conquista de tal objetivo. Há muito se discute as limitações resultantes da dispersão espacial de uma universidade como a Unesp. Concretamente com relação à área de história, os seus docentes entenderam que a união de esforços acadêmicos é uma forma de responder ao problema. A experiência de trabalho em comum na gestão da publicação ao longo dos anos demonstrou na prática os bons frutos advindos da cooperação, abrindo caminho para o seu aprofundamento em outros âmbitos.

Links externos

História (São Paulo) – HIS: www.scielo.br/his

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Ciências e Letras – Câmpus de Assis: https://www.assis.unesp.br/

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –

Faculdade de Ciências e Letras – Câmpus de Assis – Pós Graduação em História: https://www.assis.unesp.br/#!/ensino/posgraduacao/cursos/historia/

Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de Histórias das Américas: https://www.anphlac.org/

Sobre o autor

José Luis Bendicho Beired é professor livre-docente em História da Unesp, atua na área de História da América, desenvolvendo pesquisas sobre história política, intelectuais, direita autoritária, hispano-americano e historiografia. E-mail: j.beired@unesp.br (http://lattes.cnpq.br/1231200401568122)

 

 

Paulo Cesar Gonçalves é professor assistente, doutor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Unesp. Atua nas áreas de História Econômica e História Contemporânea, desenvolvendo pesquisas sobre movimentos migratórios, colonização, tráfico de trabalhadores sob contrato, mundos do trabalho, organização do espaço produtivo. E-mail: pc.goncalves@unesp.br  (http://lattes.cnpq.br/2179010532675075)

 

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

BEIRED, J. L. B. and GONÇALVES, P. C. História (São Paulo), fazendo História há quase quatro décadas na visão do professor José Luis Bendicho Beired [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/11/23/historia-sao-paulo-fazendo-historia-ha-quase-quatro-decadas-na-visao-do-professor-jose-luis-bendicho-beired/

 

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