Mudanças para a educação brasileira com mais autonomia nas escolas

Por Kátia Kishi, jornalista – Labjor/Unicamp, Campinas, São Paulo, Brasil

PreRel_EP_Mudanças educação brasileira autonomia escolasEm meio às divulgações dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apurados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão subordinado ao Ministério da Educação, o artigo de Antonio Takao Kanamaru, “Autonomia, cooperativismo e autogestão em Freinet: fundamentos de uma pedagogia solidária internacional”, publicado pelo periódico Educação e Pesquisa, volume 40, número 3 discute o modelo de escola idealizado por Freinet e torna-se uma reflexão atual de novos caminhos para mais qualidade na educação brasileira.

Entre os dados divulgados pelo Ideb, constatou-se que vinte e um estados brasileiros não atingiram em 2013 as metas de ensino, elaboradas desde 2007 pelo Plano de Desenvolvimento da Educação para escolas e redes de ensino públicas e privadas, que leva em consideração o rendimento escolar (taxas de aprovação, reprovação e abandono) e as médias de desempenho na Prova Brasil, as notas mais baixas se concentram nos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio e também atingem as escolas particulares que, pela primeira vez desde que o MEC passou a realizar o Ideb, apresentaram queda de desempenho. (Resultados disponíveis no site do Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Segundo Kanamaru, o contexto atual da educação pública, desde fins do século XX, sofre com o modelo de ensino escolástico, no qual o professor detém o conhecimento e a palavra para as discussões com os alunos, além das influências tecnocráticas, mercadológicas e financeiras sobre a autonomia da pedagogia moderna. Esses fatores acabam deixando os alunos sujeitos à passividade, repetição e subordinação, num caminho contrário ao projeto político-pedagógico da escola moderna desenvolvido por Freinet, que defende a autonomia, livre, cooperativismo e a autogestão escolar, com o objetivo de preparar o aluno para a vida.

Uma das críticas apontadas no artigo à pedagogia tradicional é o confinamento do aluno dentro da sala de aula, sendo que em projeto experimental positivo, Freinet levou seus alunos para fora dos muros escolares a fim de estimular a observação sensível, as descobertas da realidade e da natureza com atividades produtivas e a aproximação da escola com a comunidade “por meio de rudimentares pesquisas de campo”, tornando assim o educando um sujeito ativo em seu processo didático.

O método de ensino defendido por Freinet reflete sobre a motivação e a funcionalidade do ensino para alunos com experiências dessas “aulas-passeios” e outras atividades que incentivem suas autonomias, com registros de “diário escolar” que complementem o material didático, abolindo assim os manuais escolares voltados para as repetições e memorizações. Outras mudanças discutidas no artigo são o cooperativismo e autogestão das escolas, que ao adotar a noção do aluno como sujeito ativo do processo ensino-aprendizagem, pode promover mudanças estruturais das salas de aula para torná-las um ateliê de trabalho multidisciplinar ao invés de “confinamento”.

A autonomia do aluno como forma de aprendizado é adotada em instituições americanas, como a Universidade de Harvard e o MIT e já começou a ser adotado pelas universidades brasileiras, como o uso de robôs para simulação de situações de atendimento no curso de enfermagem da Universidade de Brasília (UnB) e a os problemas propostos por empresas que os alunos da Escola Politécnica da USP devem resolver. A reflexão sobre sua efetividade vale para o contexto das escolas do ensino fundamental e médio no Brasil, até mesmo como estímulo ao estudo, preparo para a vida e área de atuação futura do aluno.

Para ler o artigo, acesse:

KANAMARU, A.T. Autonomia, cooperativismo e autogestão em Freinet: fundamentos de uma pedagogia solidária internacional. Educ. Pesqui. [online]. 2014, vol. 40, n° 3, pp. 767-781. Epub Feb 21, 2014. [viewed February 21th 2015]. ISSN 1517-9702. DOI: 10.1590/S1517-97022014005000007. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022014000300012&lng=en&nrm=iso

Links externos:

Educação e Pesquisa – http://www.scielo.br/ep/

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – http://ideb.inep.gov.br/

Contato:

Prof. Dr. Antonio Takao Kanamaru, (11) 3091-8127, e-mail: kanamaru@usp.br

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

Mudanças para a educação brasileira com mais autonomia nas escolas [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2015 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2015/03/25/mudancas-para-a-educacao-brasileira-com-mais-autonomia-nas-escolas/

 

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