Rachel de Castro Almeida, professora, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Miguel Chaves, professor, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
Que caminhos as Universidades devem buscar em tempos de crise? A crise na Europa trouxe um tema para a discussão acadêmica – que jovens estamos formando? E, nesse sentido, se ampliaram as perguntas: Que habilidades e competências estão estimulando? Que preparo os jovens tem para atender as demandas sociais, políticas e econômicas? O quanto às universidades estão atentas às qualificações do futuro? Qual o conhecimento que está sendo produzido?
Já na década de 90, a Europa destacava a importância da formação empreendedora. Ressaltava também que a educação com foco no empreendedorismo deveria abranger todos os níveis de escolaridade e não apenas o ensino superior. E o olhar para o empreendedorismo considerava os vínculos com as políticas de desenvolvimento do aprendizado ao longo da vida.
Recentemente, Rachel Almeida (Professora da PUC Minas) em colaboração com Miguel Chaves (Professor da Universidade Nova de Lisboa) pesquisaram a inserção profissional de jovens da Universidade de Lisboa e da Universidade Nova de Lisboa, mais especificamente, os jovens que nos cinco primeiros anos de inserção profissional adotaram alguma iniciativa empreendedora. Essa pesquisa, enquadrada, de forma ampla, no estudo do empreendedorismo universitário europeu, foi financiada pela Capes, no Brasil e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, em Portugal.
Em um artigo acadêmico publicado na Revista Educação e Pesquisa, da Faculdade de Educação da USP, os autores chamam a atenção para três aspectos:
- É preciso tomar cuidado para que o conceito de empreendedorismo não se torne um cliché, como uma solução para todos os problemas e um caminho possível a qualquer indivíduo;
- O conceito de empreendedorismo deve ser observado associado às transformações sociais, econômicas e políticas do novo espírito do capitalismo.
- As orientações para a formação empreendedora têm assumido relevância nas políticas da UE, destacando o protagonismo sem precedentes que alcançaram no sistema de ensino superior europeu.
No Brasil, essa temática começa a ganhar alguma visibilidade, ainda que de forma muito tênue e um pouco embaçada, sem definições precisas de objetivos e alcances dessas iniciativas. Recentemente o SEBRAE e a Endeavor realizaram a pesquisa nomeada “Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras” (https://endeavor.org.br/empreendedorismo-nas-universidades-2014/).
Os dados destacam que cerca de 70% dos jovens brasileiros universitários tem interesse em cursar disciplinas relacionadas ao empreendedorismo, entretanto, grande parte afirma que não consegue porque os seus cursos não oferecem disciplinas nesta área. Esse cenário confirma que o Brasil também está muito aquém do que seria esperado enquanto fomento a educação empreendedora, a despeito do cariz político ideológico que tal promoção pode evocar.
Em tempos de crise, não é por acaso que o termo empreededorismo emerge com tanta força no discurso político. A raiz desse processo está muito atrelada às dinâmicas de absorção e retração do mercado de trabalho. Em momentos de crise, tanto o próprio mercado inicialmente impele os novos negócios quanto o trabalhador é arrastado a acreditar que o risco e a flexibilidade são atitudes a adotar ou mesmo valores a exaltar, de tal forma que o se manter estável em um único emprego pode indicar sinal de fracasso.
É imperioso, portanto, discutir quais caminhos devem adotar as universidades no bojo dessas reconfigurações contínuas e aceleradas de mercado de trabalho para a promoção de uma sociedade mais justa, equânime, sustentável. Busy and Business, estaremos ocupados e desenvolvendo novos negócios, em prol de que tipo de arranjo sócio-político-econômico? Que crises vamos sustentar e ou ultrapassar?
Para ler o artigo, acesse:
ALMEIDA, R.C., and CHAVES, M. Empreendedorismo como escopo de diretrizes políticas da União Europeia no âmbito do ensino superior. Educ. Pesqui.[online]. 2015, vol.41, n.2, pp. 513-526. [viewed 29th July]. ISSN 1678-4634. DOI: 10.1590/S1517-97022015041779. Available from: http://ref.scielo.org/qz2n8s
Link externo:
Educação e Pesquisa – http://www.scielo.br/ep/
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