Atraso e destruição na formação de nível médio

Paulo Guanaes, editor executivo de Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

tes_logoO volume 15, número 1 de Trabalho, Educação e Saúde em seu editorial apresenta “Um novo cenário de atraso e destruição na formação de nível médio no Brasil”, assinado por Carla Martins, Angélica Fonseca e Marcela Pronko que discorrem sobre a Medida Provisória 746 citando que é “um retrocesso na configuração das políticas públicas de educação e saúde no Brasil” e, em consequência, do campo da formação em saúde, tema central da linha editorial do periódico.

Esta edição traz ainda os resultados de uma pesquisa cujo campo constituiu-se de dois territórios da cidade – Manguinhos e Complexo do Alemão. A pesquisa, realizada pelo Grupo de Pesquisa Desinstitucionalização, Políticas Públicas e Cuidado, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz, abordou a relação entre território e adoecimento em saúde mental no contexto da Estratégia Saúde da Família do município do Rio de Janeiro no período de 2009 a 2013, caracterizado por uma expansão acelerada de cobertura e implantação de um novo modelo de gestão.  O artigo “Saúde mental e atenção básica: território, violência e o desafio das abordagens psicossociais” de Nina Prata e outros apontaram resultados em que as formas de adoecimento advêm da exposição constante ao cotidiano violento de profissionais e pacientes nos territórios estudados, reforçando a importância do reconhecimento pelos profissionais de saúde das relações entre eles e as vulnerabilidades de grupos e comunidades.

Isabelle Araújo e Ângelo Oliveira, em “Agronegócio e agrotóxicos: impactos à saúde dos trabalhadores agrícolas no nordeste brasileiro”, ponderaram sobre a questão dos agrotóxicos e a saúde, correlacionando-os aos casos de intoxicação humana. Ao discutirem o fortalecimento do agronegócio no país, os autores compreendem sua construção como um modelo histórico de modernização em expansão em todo o território brasileiro e crescente no Nordeste. Araujo e Oliveira observam que nos últimos anos o agronegócio se fortaleceu e o número de casos de intoxicação por agrotóxicos cresceu, com destaque para a região Nordeste, que apresenta as maiores taxas de letalidade de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, afetando majoritariamente os trabalhadores agrícolas.

Marcado desde o início de sua implantação como um programa polêmico, o Mais Médicos revelou-se um importante passo no esforço para se alcançar a tão sonhada universalidade do SUS. É o que se depreende do estudo “Ampliação das equipes de saúde da família e o Programa Mais Médicos nos municípios brasileiros”, de autoria de Gabriella Miranda e colaboradores, que trouxe os resultados de uma análise da evolução das equipes de saúde da família do Brasil, entre 2012 e 2015, assinalando que no último ano do período mais de 70% dos municípios tinham aderido ao Programa Mais Médicos, o que correspondia a uma expansão da universalização que, convertida em números, atingia mais de 20 milhões de habitantes de municípios de menor porte populacional.

Em “A educação profissional técnica de nível médio em saúde na rede federal de educação”, Anderson e Lilian Boanafina e Mônica Wermelinger analisaram o atual cenário da formação de recursos humanos na área da saúde promovida por instituições federais no Brasil. O estudo aponta um aparente descolamento entre as políticas de expansão da rede federal de educação profissional na área da saúde e as demandas do Ministério da Saúde para suprir a carência de profissionais de nível médio em saúde.

Priscila M. Crisostomo da Silva, Kátia Reis e Liliane R. Teixeira, em “Política de desprecarização do trabalho em saúde em uma instituição federal de C&T: a experiência de professores e pesquisadores”, pesquisaram a política de desprecarização do trabalho em saúde, do ponto de vista de professores e pesquisadores. As autoras realizaram um estudo que teve como campo de investigação uma unidade técnico-científica de saúde localizada no estado do Rio de Janeiro. Os resultados mostraram que, sob o ângulo de interpretação do trabalho, a política de desprecarização deve alcançar as ações políticas que não estão circunscritas apenas à esfera jurídica, sendo relevante a instituição, no plano local, de condições propícias para se superar a deterioração das relações humanas no trabalho geradas num contexto neoliberal de gestão pública.

Com um texto ao mesmo tempo crítico e primoroso, em resenha sobre o livro “A medicina financeira”, Luiz Vianna Sobrinho e Luis David Castiel fazem uma análise demolidora da indústria farmacêutica e suas duvidosas “estratégias” de marketing de medicamentos, nos quais o autor reconhece benefícios, mas também vê nessas ações o objetivo de fazer a população aumentar o consumo de remédios, não importando que efeitos colaterais poderão advir dessa prática tolerada por autoridades em geral, em todo o mundo.

O leitor terá ainda à sua disposição, em acesso livre, um ensaio que apresenta a “Enquete operária”, de Marx, que no ano de 1880 investigou as condições de vida da classe trabalhadora francesa, e outros artigos sobre temas como saúde mental, política de desprecarização do trabalho em saúde, produção do conhecimento sobre educação permanente com base em teses e dissertações, representação em conselhos tutelares e direito humano à alimentação.

Para ler os artigos, acesse

Trab. educ. saúde vol.15 no.1 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2017

Link externo

Trabalho, Educação e Saúde – TES: www.scielo.br/tes

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

GUANAES, P. Atraso e destruição na formação de nível médio [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2017 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/02/20/atraso-e-destruicao-na-formacao-de-nivel-medio/

 

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