FGV Escola de Administração de Empresas de São Paulo, uma escola americana?

Andréa Cerqueira Souza é especialista em marketing, atua com comunicação e marketing científico em publicações da Fundação Getulio Vargas, São Paulo, SP, Brasil.

Luiz Artur Ledur Brito

Luiz Artur Ledur Brito

Para apresentar o contexto no qual a RAE-Revista de Administração de Empresas foi criada pela EAESP e o atual contexto da Escola, o professor Luiz Artur Ledur Brito é o convidado do periódico em comemoração ao aniversário de 55 anos, celebrados no volume 57, número 4 da RAE. No vídeo ao final deste texto, Luiz Artur Ledur Brito, o atual diretor da EAESP, que possui graduação em Engenharia Química pela UFRGS e doutorado em Administração de Empresas pela FGV EAESP fala sobre o papel internacional da Escola e da publicação.

Na Europa, o ensino em Administração foi criado por escolas comerciais independentes, mas foi o modelo de ensino desenvolvido nos EUA, porém, que ganhou evidência internacional, como afirmam Alcadipani e Bertero (2014). Esse sistema espalhou-se no mundo por meio da chamada americanização, um processo deliberado e consciente de propagação dos valores básicos dos EUA para países sob sua influência, como resultado de sua preponderância política, econômica e militar, dizem.

Nesse sentido, duas correntes principais na literatura analisam a americanização da gestão. A primeira delas argumenta que devido ao sucesso do sistema industrial dos Estados Unidos e sua influência no cenário internacional no pós-guerra, empresas europeias e japonesas adotaram sistemas produtivos e ideias de gestão americanos, por isso, o ensino de Administração de Empresas seguiria o modelo estadunidense, já que se tratava do mais evoluído da época. A segunda corrente argumenta que a influência americana foi além da Europa Ocidental e do Japão, com o intuito de impor o modo de vida e formas de pensar, incluindo os modelos de gestão aos países em desenvolvimento, numa espécie de ação colonizadora, dizem os autores. Impulsionados pelo contexto nacional e o cenário paulista de grande desenvolvimento industrial (FURTADO, 1995, 2007), o projeto de criação de uma escola de Administração de Empresas em São Paulo, com o intuito de fornecer ao mundo empresarial em expansão era atraente para brasileiros e norte-americanos. Assim, a criação da EAESP desenvolveu-se com o auxílio de uma missão de professores norte-americanos da Michigan State University (MSU) e tal fato motivou os pesquisadores a analisarem a Escola no contexto da americanização, para isso, eles realizaram uma historiografia, que contou com entrevistas e pesquisa em documentos da EAESP (ALCADIPANI; BERTERO, 2014).

Citando a literatura pós-colonialista, Alcadipani e Bertero (2014) afirmam que nenhuma colônia é clone do colonizador, tal qual os EUA não são a cópia da Inglaterra e o Brasil não o é de Portugal. Os autores concluem que é inegável que os EUA influenciaram a EAESP e a educação em Administração, não só no Brasil, mas em todo o mundo e que a FGV criou a escola visando formar classes dirigentes para servir a industrialização brasileira, um desenvolvimento industrial e capitalista. Afirmam ainda que a EAESP se firmou como uma escola brasileira, constituindo-se como um híbrido de aportes americanos (management) e de uma tradição brasileira proveniente das ciências sociais que, no Brasil, tinham uma abordagem muito diferente do que essas disciplinas tinham nas escolas de Administração americanas. Prova desse aspecto brasileiro da Escola é a declaração encontrada em um dos relatórios enviados pelo grupo de professores da MSU: “Esta é uma escola brasileira, concebida pelos brasileiros para atender a necessidades do Brasil para uma liderança empresarial mais efetiva” (ALCADIPANI; BERTERO, 2014).

 

Referências

FURTADO, C. O subdesenvolvimento. São Paulo: Ática, 1995.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Para ler os artigos, acesse

ALCADIPANI, R. and BERTERO, C. O. Uma escola Norte-Americana no Ultramar?: uma historiografia da EAESP. Rev. adm. empres. [online]. 2014, vol.54, n.2 , pp.154-469. [viewed 28 August 2017]. ISSN 0034-7590. DOI: 10.1590/S0034-759020140204. Available from: http://ref.scielo.org/g8vk5n

Sobre Andréa Cerqueira Souza

Andréa Cerqueira Souza

Andréa Cerqueira Souza

Publicitária (Claretiano Faculdade) e especialista em marketing (FGV), atua com comunicação e marketing científico em publicações da Fundação Getulio Vargas. E-mail: andrea.csouza@fgv.br

 

 

 

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SOUZA, A. C. FGV Escola de Administração de Empresas de São Paulo, uma escola americana? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2017 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/08/28/fgv-escola-de-administracao-de-empresas-de-sao-paulo-uma-escola-americana/

 

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