Danilo Moreira Xavier, Mestrando no Programa de Estudos Culturais (EACH-USP), pesquisador na área das artes visuais, São Paulo, SP, Brasil
Irene Small concedeu uma entrevista para a Semana Especial da ARS no Blog SciELO em que relata sua aproximação da obra de Hélio Oiticica e seu interesse em arte brasileira, lembrando que aprendeu o novo idioma para aprofundar seus estudos. A pesquisadora e professora da Universidade Princeton (EUA) é autora de um dos livros referenciais sobre o artista carioca, publicado em 2016, Hélio Oiticica: Folding the Frame (University of Chicago Press).
Para o Dossiê Hélio Oiticica (ARS 30), Irene Small, em seu artigo “Pigment pur e o Corpo da côr: prática pós-pictórica e transmodernidade”, aborda o “corpo de côr”, conceito elaborado por Oiticica e analisa algumas de suas obras, em especial os Bólides, colocando-os em paralelo com os trabalhos de Ives Klein, especificamente Pigments purs. Empregando pigmento bruto em forma de pó, Oiticica e Klein propositadamente se afastaram da convenção da tinta como o principal veículo para a cor e, consequentemente, do suporte pictórico como um pré-requisito para a sua construção. Para Irene Small, ambos os artistas teriam em comum um uso específico da cor como resposta à crise da pintura.
Irene Small faz menção, em seu artigo, à vasta literatura que aborda a questão das modernidades múltiplas e alternativas, que põem em xeque a noção de modernidade como um acontecimento dos países “centrais” (o “ocidente” resumido a certos países da Europa e à América do Norte) que se desdobraria pelas ditas periferias (o restante do globo) e que obliteraria, em sua propagação, as manifestações locais da diferença. Entre os estudiosos brasileiros, Small cita a pesquisa de Sérgio Martins, Constructing an avant-garde: art in Brazil 1949-1979, em especial o fato de Martins apontar as peculiaridades do caso brasileiro argumentado que, de modo autoconsciente, o modernismo brasileiro teria “sequestrado” o modernismo europeu (MARTINS, 2013). Small ressalta que “apesar da retórica da autonomia muitas vezes atribuída a práticas modernistas descentradas, diversos protagonistas originais alegaram afinidade direta com narrativas totalizantes do modernismo ocidental, como a vanguarda” (SMALL, 2017, p. 256). Caso justamente do neoconcretismo brasileiro dos anos 1950, tal como articulado por seu principal teórico, Ferreira Gullar.
Em lugar de uma adesão ao “discurso eurocêntrico do fluxo centro-periferia, ou a uma narrativa romanceada de autoctonia indígena” (SMALL, 2017, p. 256), as comparações de Small entre Oiticica e Klein buscam “situar e analisar uma incidência específica e quase contemporânea da prática pós-pictórica e ambas as obras” (SMALL, 2017, p. 256). Quanto a Oiticica, Small formula a hipótese de que, ao explorar as inconsistências características da commodity no Brasil desenvolvimentista, Oiticica orquestrou uma transferência do fazer do artista para o espectador, dando início a uma nova dimensão participativa no âmbito das cores modernistas.
Referências
MARTINS, S. Constructing an avent-garde: art in Brazil. Cambridge, MA: MIT Press, 2013.
SMALL, I. V. Hélio Oiticica: folding the frame. Chicago: University of Chicago Press, 2016.
Para ler o artigo, acesse
SMALL, I. V. Pigment pur e o Corpo da côr: prática pós-pictórica e transmodernidade. ARS (São Paulo) [online]. 2017, vol.15, n.30, pp.255-276. [viewed 23 November 2017]. ISSN 1678-5320. DOI: 10.11606/issn.2178-0447.ars.2017.138499. Available from: http://ref.scielo.org/txtfd6.
Link externo
ARS (São Paulo) – ARS: www.scielo.br/ars
Sobre Danilo Moreira Xavier
Danilo Moreira Xavier, bacharel em Artes Visuais com ênfase em História, Teoria e Crítica da Arte na Universidade Federal do Rio Grande. É mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais na área de Crítica da Cultura (Artes e Literatura) na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Tem interesse em arte contemporânea e a produção dos anos 80. São Paulo – SP, Brasil. Email: danilo.xavier@live.com
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