A importância da linguagem corporal no contexto esportivo

Roberto Ternes Arrial, Pesquisador em Informações e Avaliações Educacionais, Brasília, DF, Brasil.

No mês de setembro, em que se comemora o dia do profissional de Educação Física (dia 1º), a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (vol. 101, no. 258) apresenta o artigo “O praxema no contexto esportivo: a linguagem expressa pelo corpo, a exemplo do voleibol”, que teve como objetivo explorar a aplicação do conceito de praxema à análise de jogos esportivos coletivos, e mais especificamente, ao voleibol. Oriundo da teoria da Praxiologia Motriz, idealizada por Pierre Parlebas (2001), o praxema consiste em ações não verbais desempenhadas por um jogador que carregam consigo uma intencionalidade ou significado que, quando interpretados, podem permitir a inferência de uma interação motriz direta, que será concretizada posteriormente. Desta forma, por meio da leitura praxêmica (leitura corporal) dos demais jogadores, um jogador amplia sua leitura do jogo como um todo, podendo antecipar movimentos e aprimorar sua tomada de decisão. A habilidade com praxemas promove melhor comunicação com os companheiros, contribuindo para cooperação e aferimento de vantagens sobre a equipe adversária, e o aprimoramento da contracomunicação com os adversários, induzindo-os a fazer uma leitura equivocada da linguagem corporal, o que impacta negativamente na tomada de decisão destes.

Para isso, realizou-se uma pesquisa teórica, de cunho exploratório. Do ponto de vista do jogador, o domínio técnico das ações do jogo é importante para que sua atenção possa ser direcionada principalmente para sua linguagem corporal, favorecendo o processo de contracomunicação motriz. Tanto a leitura quanto a ênfase dos praxemas constituem, para este jogador, vantagem mesmo quando uma maior precisão de gestos técnicos não mais representa vantagem em relação aos adversários. Assim, um jogador pode lançar mão, por exemplo, da tática de finta, ação que se vale do caráter polissêmico do praxema para induzir leitura equivocada pela equipe adversária e consequentemente auferir vantagens para sua própria equipe.

Diante da potencialidade dos praxemas, os autores defendem a análise de práticas esportivas, focando seu estudo no voleibol. Para compreensão do praxema aplicado ao voleibol, são aspectos importantes a capacidade de comunicação ou contracomunicação de cada jogador, a habilidade de leitura praxêmica das equipes, e o conhecimento e observação dos participantes à lógica interna (“regras”) do esporte. Desta forma, na aplicação do conceito de comunicação práxica ao voleibol, os pesquisadores o diferenciam em gestemas, constituindo os gestuais desempenhados, e praxemas, definidos como a linguagem corporal dos jogadores. Ainda, valem-se de adaptação da classificação de praxemas de ataque e defesa, usada em outros esportes (SAMPEDRO MOLINUEVO, 1996), ao caráter defensivo e ofensivo dos praxemas próprios ao voleibol. Um dentre tais praxemas examinados no artigo é o levantamento, movimento executado pelo levantador que influencia o posicionamento de bloqueadores e defensores que, a depender da habilidade de contracomunicação corporal desse jogador, pode induzir seus adversários ao equívoco. Simultaneamente, o desempenho do levantador deve ser claro e inequívoco para sua própria equipe, em especial aos atacantes. Assim, as manifestações de praxemas durante o levantamento são determinantes para tomadas de decisão individuais, como posicionamento de rede e distribuição de quadra, como também para o desencadeamento de interações de oposição e cooperação. A capacidade de leitura, execução e reação aos praxemas, portanto, desponta para ambas equipes, como contributivo ao sucesso no jogo.

Em reflexão acerca do potencial de apropriação da lógica interna e do valor tático proporcionados pela leitura de jogo e pela tomada de decisão, os autores defendem a abordagem desses aspectos pelos professores de Educação Física em sua prática. Argumentam, ainda, sobre as possibilidades de aplicação dos conhecimentos da Ciência da Ação Motriz não só ao voleibol, como também às demais práticas constituintes da Educação Física.

Referências

PARLEBAS, P. Juegos, deporte y sociedades: léxico de praxiología motriz. Barcelona: Paidotribo, 2001.

SAMPEDRO MOLINUEVO, J. S. Análisis praxiologico de los deportes de equipo: una aplicación al futbolsala. 1996. 928 f. Tesis (Doctoral) – Universidad Politécnica de Madrid, Las Palmas de Gran Canarias, 1996.

Para ler o artigo, acesse

OLIVEIRA, R. V. de and RIBAS, J. F. M. O praxema no contexto esportivo: a linguagem expressa pelo corpo, a exemplo do voleibol. Rev. Bras. Estud. Pedagog. [online]. 2020, vol. 101, no. 258, pp. 404-419. ISSN: 2176-6681 [viewed 15 October 2020]. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.101i258.4351. Available from: http://ref.scielo.org/2q97wx

Link externo

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – REBPED: www.scielo.br/rbeped

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

ARRIAL, R. T. A importância da linguagem corporal no contexto esportivo [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/11/05/a-importancia-da-linguagem-corporal-no-contexto-esportivo/

 

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