Horizontes Antropológicos propõe debate sobre negritude e relações raciais

Cristiane Miglioranza, Jornalista e Assistente Editorial do periódico Horizontes Antropológicos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

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O artigo de apresentação do número 63 de Horizontes Antropológicos (Negritude e Relações Raciais, vol. 28, 2022), Negritude e relações raciais: racismo e antirracismos no espaço atlântico, expõe os fundamentos sociais do racismo nas sociedades pós-escravistas a partir da problemática da negritude. Os autores e organizadores Cédric Audebert, Denise Jardim, Handerson Joseph e Osmundo Pinho reafirmam que a atualização das relações sociais baseadas na racialização é um fenômeno generalizado a todas as sociedades das Américas no século XXI. Eles ressaltam que a experiência brasileira é particularmente rica em ensinamentos.

No país, a escravização foi perpetuada como sistema colonial duradouro em termos temporais, se desdobrando na vida social e cultural na forma de racismo estrutural. “Refletindo os desdobramentos históricos recentes, a temática das relações raciais tem tomado novos impulsos em uma interação constante do campo acadêmico com as abordagens das relações raciais empreendidas por ativistas nas mais diversas arenas públicas”, destacam (AUDEBERT, et al, 2022, p. 8).

Os autores chamam a atenção para o fato de que, se a história das ciências sociais brasileiras, em especial a antropologia social e de modo ainda mais particular a antropologia afro-brasileira, foi marcada pela influência europeia – como, de resto, a própria identidade das elites intelectuais “nacionais” –, a história da mobilização política e crítica de autores afro-brasileiros se inscreve em uma relação direta com o vocabulário e as lutas dos negros africanos e, principalmente, estadunidenses.

Capa do número 63 da Horizontes Antropológicos, a imagem da capa é uma fotografia em preto e branco da atriz brasileira Ruth de Souza.

Imagem: Fabíola de Carvalho Leite. Crédito da foto de capa: Ruth de Souza (1968). Autor desconhecido. Domínio Público. Acervo Arquivo Nacional/Imagem do Fundo Correio da Manhã.

Figura 1. A atriz brasileira Ruth de Souza fez parte da geração que realizou o projeto do Teatro Experimental do Negro. Durante toda sua vida foi uma formadora de novas gerações e debateu os limites, anseios e significados das promessas da abolição e da liberdade criativa.

“As conexões internacionais das comunidades de debatedores e entre a cultura popular negra nos Estados Unidos e no Brasil são conhecidas e usualmente conectam-se as malhas de interinfluência do Atlântico negro e do Caribe. Inclusive, e talvez principalmente vernáculas, como no caso da expansão do hip-hop e do “black power”, são linguagens de afirmação política e de reinvenção estética. Circulam com vigor como elemento da cultura juvenil, notadamente nos grandes centros urbanos brasileiros, marcados tanto pela presença negra de longa duração como pela reprodução da desigualdade socioeconômica, violência e folclorização da cultura de origem africana”, situam (AUDEBERT, et al, 2022, p. 18).

Para além do paradigma da pesquisa ativista, os autores destacam que a influência de obras como Afropessimism (WILDERSON III, 2010), Peau noire, masques blancs e Les damnés de la Terre (FANON, 1952, 1961), Scenes of subjection (HARTMAN, 1997) e The social life of the social death: on afro pessimism and black optimism (SEXTON, 2011) é presente em trabalhos profundamente comprometidos com a ideia de antinegritude estrutural e morte social.

“Ao apontar tais vertentes, gostaríamos de realçar não somente a variedade de caminhos do campo de estudos sobre a negritude e o enfrentamento ao racismo através de estudos antropológicos. É importante perceber que o campo de reflexões é crítico e tem intensidades que vêm propiciando sua dinamicidade e renovação, sobretudo porque os intelectuais/ativistas atravessam sem cerimônia fronteiras disciplinares, com muito entusiasmo e força, e nos demonstram que a ancestralidade é dotada de anseios pelo bem viver e pela luta constante a ser honrada pelas novas gerações” (AUDEBERT, et al, 2022, p. 26).

Referências

AUDEBERT, C., et al. Negritude e relações raciais: racismo e antirracismos no espaço atlântico. Horizontes Antropológicos [online]. 2022, vol. 28, no. 63, pp. 7-37 [viewed 28 July 2022]. https://doi.org/10.1590/S0104-71832022000200001. Available from: https://www.scielo.br/j/ha/a/HRvYQntgjcY8wY4YCzCpw4d/?lang=pt

FANON, F. Peau noire, masques blancs. Paris: Le Seuil, 1952.

FANON, F. Les damnés de la Terre. Paris: Maspero, 1961.

HARTMAN, S. Scenes of subjection: terror, slavery, and self-making in nineteenth-century America. New York: Oxford University Press, 1997.

SEXTON, J. The social life of the social death: on afro pessimism and black optimism. InTensions [online]. 2011, no. 5 [viewed 28 July 2022]. https://doi.org/10.25071/1913-5874/37359. Available from: https://intensions.journals.yorku.ca/index.php/intensions/article/view/37359

WILDERSON III, F.B. Red, White and Black: cinema and the structure of U.S. antagonisms. Durham: Duke University Press, 2010.

WILDERSON III, F.B. Afropessimism. New York: Liveright Publishing Corporation, 2020.

Links externos

Cédric Audebert: https://fr.linkedin.com/in/c%C3%A9dric-audebert-60bb3369

Denise Jardim: http://lattes.cnpq.br/3296337995365996

Handerson Joseph: http://lattes.cnpq.br/4682801116239614

Osmundo Pinho: http://lattes.cnpq.br/7943108749679220

Horizontes Antropológicos – Negritude e relações raciais: racismo e antirracismos no espaço atlântico: https://www.scielo.br/j/ha/i/2022.v28n63/

Horizontes Antropológicos: https://www.ufrgs.br/ppgashorizontesantropologicos/

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Horizontes Antropológicos – HA: https://www.scielo.br/j/ha/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MIGLIORANZA, C. Horizontes Antropológicos propõe debate sobre negritude e relações raciais [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2022 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2022/07/28/horizontes-antropologicos-propoe-debate-sobre-negritude-e-relacoes-raciais/

 

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