A invisibilidade e a constância do racismo contra povos indígenas no Brasil

Carolina Castellitti, editora assistente da Revista Mana. Realiza estagio pós-doutoral com bolsa da FAPERJ, Rio de Janeiro, Brasil.

Logo do periódico Mana: Estudos de Antropologia Social.No artigo O racismo contra os povos indígenas: panorama dos casos nas cidades brasileiras entre 2003 e 2019, publicado no último número da Revista Mana (vol. 28, no. 2), o professor de antropologia da UNIFESP Rodrigo Barbosa Ribeiro analisa os efeitos do racismo nos povos indígenas brasileiros. Segundo o autor, apesar das importantes iniciativas do próprio movimento indígena, a invisibilidade do fenômeno é uma das principais dificuldades para seu enfrentamento.

Essa invisibilidade pode ser explicada parcialmente por razões metodológicas, já que a baixa representação das populações indígena e amarela no total da população medida pelo Censo leva aos estudos se concentrarem nas desigualdades entre as pessoas de cor ou raça branca e preta ou parda. No entanto, as dimensões estruturais do problema radicam na configuração das relações coloniais vigentes, analisadas pelo autor.

A fonte empírica utilizada são os relatórios “Violência contra os povos indígenas no Brasil”, publicados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), cuja edição relativa ao triênio 2003-2004-2005 inaugurou uma seção dedicada aos casos de racismo e discriminações étnico-raciais. Tais registros podem ser considerados uma amostra do fenômeno, já que muitas expressões de racismo e discriminação sofridas diariamente por indígenas no Brasil não são denunciadas.

Foto de meninos indígenas deitados no chão. Eles foram um círculo com as cabeças próximas no centro. Eles parecem estar se divertindo.

Imagem: Rodrigo Barbosa Ribeiro.

Figura 1. Trabalho de campo realizado junto aos Tikmū’ūn (Maxakali).

O autor procede a uma caracterização geral dos episódios de racismo segundo média anual, região, estados com ocorrências maiores à média e perfil das cidades (baseado no tamanho de sua população e proporção de indígenas). Paralelamente à análise quantitativa, cita e descreve alguns episódios específicos que permitem entender que tipo de discriminações são impostas, por quem e em que contexto. Assim, vai se delineando um padrão de condutas cujo resultado seria a criação de obstáculos à presença indígena nas áreas urbanas. Em relação aos efeitos desses atos, apontam-se hipóteses sobre as variações da reclassificação étnica nos últimos censos, onde seria preciso considerar como as ações racistas levam às pessoas a se autodeclararem pardas, antes que indígenas ou pretas.

Assim, pese à invisibilidade do fenômeno, os dados examinados permitem comprovar a constância do racismo praticado contra os povos indígenas, estabelecendo-se como uma consequência estável das relações coloniais vigentes. Esse tipo de discriminações permite explicar a condição atual dos indígenas no Brasil e precisa ser mais estudado e combatido.

Referências

CIMI. A violência contra os povos indígenas no Brasil: 2019 Brasília: CIMI, 2020.

IBGE. Os indígenas no Censo Demográfico 2010: primeiras considerações com base no quesito cor ou raça. RIO DE JANEIRO: IBGE, 2012.

Para ler o artigo, acesse

RIBEIRO, R.B. O racismo contra os povos indígenas: panorama dos casos nas cidades brasileiras entre 2003 e 2019. Mana [online]. 2022, vol. 28, no. 2, e282204 [viewed 19 January 2023]. https://doi.org/10.1590/1678-49442022v28n2a204. Available from: https://www.scielo.br/j/mana/a/mSJpdCM6QMCTFCKyVsGSTVn/

Links externos

Mana – MANA: https://www.scielo.br/mana/

CIMI: https://cimi.org.br/

Revista Mana: https://revista-mana.org/

Rodrigo Ribeiro: https://www.unifesp.br/campus/gua/docentes-ciencias-sociais/629-rodrigo-ribeiro

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

CASTELLITTI, C. A invisibilidade e a constância do racismo contra povos indígenas no Brasil [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/01/19/a-invisibilidade-e-a-constancia-do-racismo-contra-povos-indigenas-no-brasil/

 

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