Jimena Felipe Beltrão, jornalista, editora do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, PA, Brasil.
Em 25 de janeiro completam-se quatro anos desde que a cidade de Brumadinho foi vítima do rompimento da barragem da companhia Vale S.A. Em artigo intitulado De Minas às ruínas: o refazer da memória e da paisagem no pós-desastre de Brumadinho, os pesquisadores Leonardo Dupin e Edilson Pereira, analisam o contexto da construção do “Memorial Brumadinho” e discutem as variáveis relativas à “memória pública que está sendo proposta em meio à catástrofe e como ela se conecta à paisagem e aos patrimônios locais”.
Um “composto de dejetos resultantes da extração de minério de ferro, que eram estocados na barragem” soterrou parte do município e destrui o rio Paraopeba, matando 272 pessoas e deixando 4 desaparecidos, além de deixar muita dor e danos materiais e imateriais, que catástrofes dessa natureza impõem num rastro de destruição indelével. O desastre, por muito considerado crime, tem caráter socioambiental e consequências contínuas, sentidas ainda hoje na região.
Figura 1. Desastres ambientais nos caminhos da histórica Minas Gerais.
A proposta dos autores do artigo publicado, em versão bilíngue, na mais recente edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas é identificar quais são as especificidades do reconhecimento desse ”sítio de memória sensível”, ora em construção, onde o sofrimento é a tônica da narrativa atual. De acordo com eles, “a região onde será construído o memorial é historicamente conhecida pela sua longa trajetória de atividade mineira” cuja “memória em torno da atividade sendo patrimonializada no início do século XX e valorizada desde então”.
No contraponto que indicam, os autores, eles levam em consideração “questões levantadas por outros pesquisadores do tema. Dupin e Pereira (2022) buscam “analisar como as mineradoras também intervêm na paisagem, por meio da instituição de marcos visando (re)orientar a memória coletiva local”. Segundo eles, “trata-se de uma política institucional de reparação, que encontra pontos de resistência, sendo absorvida pelas populações vinculadas em um espaço cultural, em que pesa a existência de afetos e éticas que transcendem o planejamento das mineradoras, gerando novos sentidos para a vida e para a morte”.
Um conjunto de forças se articula à volta de ações de reparação e de construção memórias. Assim, movimentos sociais e populares também se apresentam para “narrar uma longa e complexa história que interliga de modo vital seus integrantes, de ontem e de hoje”. E os autores concluem que, para efetivar bases materiais de reparação e evitar novas tragédias, é necessário “lutar por uma política de reparação que inscreva sua própria memória”.
Um outro artigo de Silva e Faulhaber, que data de 2020 – Bento Rodrigues e a memória que a lama não apagou: o despertar para o patrimônio na (re)construção da identidade no contexto pós-desastre, e publicado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, trata dos “usos e as apropriações do patrimônio pelas comunidades atingidas” pelo desastre da Samarco, em 2015, no município de Mariana, também em Minas Gerais.
Referências
SILVA, A.F. and FAULHABER, P. Bento Rodrigues e a memória que a lama não apagou: o despertar para o patrimônio na (re)construção da identidade no contexto pós-desastre. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum. [online]. 2020, vol. 15, no. 1, e20200126 [viewed 24 January 2023]. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0126. Available from: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/gDHGy3dDQz7qfFfLxgZbNSP/
Para ler o artigo, acesse
DUPIN, L.V. and PEREIRA, E. De Minas às ruínas: o refazer da memória e da paisagem no pós-desastre de Brumadinho. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum. [online]. 2022, vol. 17, no. 3, e20210104 [viewed 24 January 2023]. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2021-0104. Available from: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/zzyPqnfjyYvKSdnZx6C3YCK/
Links externos
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas – BGOELDI: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/
Ver a edição completa em: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/i/2022.v17n3/
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