Melissa da Silva Ferreira, pesquisadora independente, São Paulo, SP, Brasil. E-mail:
A edição especial “Crianças Performers” (no. 1, vol.13) da Revista Brasileira de Estudos da Presença traz uma série de artigos que abordam a pluralidade das infâncias e suas manifestações performativas. O artigo “Não fala o nome dele, senão ele vai aparecer aqui”: interseccionalidade e performance em narrativas de crianças pequenas apresenta as “vozes, palavras e gestos” das próprias crianças para discutir como marcadores sociais da diferença (gênero, raça, religião) aparecem em suas narrativas.
O estudo foi realizado pela professora Luciana Hartmann e pela doutoranda Débora Cristina Sales da Cruz Vieira, do Programa de Pós-graduação em Artes da Cena da Universidade de Brasília, em colaboração com oito crianças de 5 e 6 anos da Educação Infantil em Riacho Fundo (DF).
Segundo as autoras, os encontros com as crianças incluíram “oficinas de contação e escuta de histórias, leitura de livros, dramatização das histórias ouvidas, recontos orais, registros pictóricos das histórias e muita conversa com as crianças” (HARTMANN, VIEIRA, 2023, p. 4). Por meio de um pensamento decolonial sobre as crianças e as infâncias e uma abordagem dialógica, as pesquisadoras buscaram construir a pesquisa com as crianças.
Figura 1. Desenho de Anna Júlia.
A pesquisa demonstra como a abordagem interseccional da infância pode resultar em “novas possibilidades de escuta das crianças”. A interseccionalidade, termo difundido principalmente pelos estudos do feminismo negro a partir dos anos 1970, ajuda a compreender melhor as diferenças por meio do cruzamento das relações entre raça, classe, gênero, religião etc. No caso das infâncias, segundo as autoras, a interseccionalidade contribui para entender os sentidos nas trocas discursivas entre as crianças, levando em consideração os contextos sociais em que estão inseridas e os marcadores sociais da diferença que operam em tais contextos.
Em conclusão, as autoras discutem como o “medo”, elemento constante nas narrativas e performances das crianças que participaram da pesquisa, revelaram preconceitos (religiosos, de classe e de gênero) e o temor ao que é diferente dos padrões hegemônicos. Em diálogos com autores como Sílvio Almeida, Michel Foucault, Slavoj Žižek, Grada Kilomba e Vladimir Safatle, as autoras reconhecem que há em nossa sociedade uma “política do medo” que opera na constituição das subjetividades desde a infância.
Para as autoras, lidar com as diversas formas de preconceito “exige lidar com o medo”. No caso desta pesquisa, como fica explícito ao longo do texto, isso foi possível por meio da criação de espaços e condições de escuta e compartilhamento de visões de mundo com as crianças.
Para ler o artigo, acesse
HARTMANN, L. and VIEIRA, D.C.S.C. “Não fala o nome dele, senão ele vai aparecer aqui”: interseccionalidade e performance em narrativas de crianças pequenas. Rev. Bras. Estud. Presença [online]. 2023, vol. 13, no. 1, e124444 [viewed 3 April 2023]. https://doi.org/10.1590/2237-2660124444vs01. Available from: https://www.scielo.br/j/rbep/a/DGMNC5M7bncQqLkDFYpFNGK/
Links externos
Revista Brasileira de Estudo da Presença – RBEP: www.scielo.br/rbep
Revista Brasileira de Estudos da Presença – Site: https://www.seer.ufrgs.br/presenca
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