Emerson Tortola, Professor Adjunto da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Toledo, PR, Brasil.
Karina Alessandra Pessoa da Silva, Professora Associada da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Londrina, PR, Brasil.
Que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) tem um grande impacto na vida dos estudantes da Educação Básica, ninguém pode negar. Além de ser determinante no futuro dos jovens e adultos que aspiram ingressar em uma universidade, é frequentemente tomado como diretriz pelos professores na condução do ensino em aulas da Educação Básica. As provas, todavia, não precisam ser utilizadas nesse contexto apenas para “treinar” os alunos ao familiarizá-los com os tipos de questões que podem ser cobradas, mas podem também servir como mote para o desenvolvimento da criticidade sobre as aplicações e o uso da Matemática nos debates sociais, assim como na análise de situações-problema da realidade, em geral.
Para isso, a Modelagem Matemática tem se mostrado como uma alternativa pedagógica interessante (ALMEIDA; SILVA; VERTUAN, 2012), uma vez que preconiza o ensino da Matemática – com a possibilidade de articulá-lo ao ensino de outras disciplinas –, colocando em debate situações-problema associadas à realidade. Nessa perspectiva, ganha espaço a problematização, a investigação (BARBOSA, 2004) e a criatividade (WESSELS, 2014), pois sob a orientação do professor, os alunos podem buscar informações que considerarem pertinentes e propor soluções, sob diferentes olhares e abordagens, originais e úteis. Nesse contexto, vislumbra-se a matemática como um meio de pensar, analisar e argumentar a respeito de determinadas questões da sociedade, auxiliando o indivíduo em suas percepções sobre o mundo, em suas tomadas de decisão e em suas ações (BARBOSA, 2004; SKOVSMOSE, 2007).
O artigo De questões do ENEM a aulas com Modelagem Matemática: o caminhar para uma Educação Matemática Crítica, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, vol. 103, no. 265 (2022), Seção Comemorativa, investiga como questões do ENEM, constituintes da área de conhecimento “Matemática e suas Tecnologias”, podem ser implementadas em sala de aula considerando uma perspectiva de Educação Matemática Crítica subsidiada por atividades de modelagem matemática. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que, ao se valer das orientações metodológicas da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), analisa os enunciados das quarenta e cinco questões da edição 2021 do ENEM (aplicação regular) dessa área de conhecimento, em busca de identificar as temáticas abordadas e as discussões associadas, bem como os objetivos para a atividade matemática requerida na resolução.
O artigo mostra que as questões – muitas delas contextualizadas, inclusive em dados reais – podem servir de inspiração para os professores, que podem adaptá-las e trabalhá-las em uma perspectiva mais alinhada a seus objetivos, com o subsídio das atividades de modelagem matemática. Contudo, ao tomar essas questões como ponto de partida para o desenvolvimento de atividades de modelagem, é preciso desafiar a sua aparente neutralidade e abrir os olhos para as diferentes possibilidades de seu uso, os quais, precisamos reconhecer e admitir, não estão livres da influência de interesses sociais e políticos (BORBA; SKOVSMOSE, 2013).
Implementar atividades de modelagem matemática em sala de aula é prerrogativa do professor e requer tanto do professor, quanto dos alunos (re) posicionamentos no sentido de agir, envolver-se e engajar-se. A modelagem matemática é uma alternativa que além de potencializar a inserção dos alunos nos debates sociais, possibilita sua intervenção e ação a partir de decisões pautadas em argumentos matemáticos, viabilizando a formação de cidadãos críticos, pensantes, capazes de questionar e transformar o meio em que vivem, sem perder de vista o preparo dos alunos para o ENEM, que tanto preocupa os professores.
Referências
ALMEIDA, L.M.W., SILVA, K.P. and VERTUAN, R.E. Modelagem matemática na educação básica São Paulo: Contexto, 2012.
BARBOSA, J.C. Modelagem matemática: o que é? Por quê? Como? Veritati. 2004, vol. 4, pp. 73-80.
BARDIN, L. Análise de conteúdo São Paulo: Edições 70, 2011.
BORBA, M.C. and SKOVSMOSE, O. A ideologia da certeza em educação matemática. In: SKOVSMOSE, O. Educação matemática crítica: a questão da democracia. Campinas: Papirus, 2013.
SKOVSMOSE, O. Educação crítica: incerteza, matemática, responsabilidade. Tradução de Maria Aparecida Viggiani Bicudo. São Paulo: Cortez, 2007.
WESSELS, H. Levels of mathematical creativity in model-eliciting activities. Journal of Mathematical Modelling and Application [online]. 2014, vol. 1, no. 9, pp. 22-40 [viewed 17 May 2023]. Available from: https://proxy.furb.br/ojs/index.php/modelling/article/view/4048
Para ler o artigo acesse
TORTOLA, E.T. and SILVA, K.A.P. De questões do Enem a aulas com modelagem matemática: o caminhar para uma educação matemática crítica. Rev. Bras. Estud. Pedagog. [online]. 2022, vol. 103, no. 265, pp. 589-614 [viewed 17 May 2023]. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.103i265.5242. Available from: https://www.scielo.br/j/rbeped/a/RdgKytQrKv59WCj5cbSGxzR/
Links externos
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – RBEPED: https://www.scielo.br/j/rbeped/
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos: http://rbep.inep.gov.br/
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