Danilo Rothberg, docente da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Bauru, SP, Brasil.
São raros os estudos sobre como os povos originários têm explorado as tecnologias para se comunicar e enfrentar as visões discriminatórias predominantes sobre suas lutas e demandas em uma sociedade democrática. Buscando contribuir nessa temática, Danilo Rothberg, Nayla Brisoti Barbeta, Ana Beatriz Grandini Casali da Silva e Thais Aparecida de Mello Barion, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), investigaram a presença na rede social Instagram da Mídia Índia (atualmente Mídia Indígena), coletivo de indígenas de diversas comunidades, regiões e povos do Brasil, e relatam os resultados no artigo O poder criativo do net-ativismo de povos originários no Brasil, publicado na Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação (INTERC, vol. 45).
Segundo a apresentação em sua página web, o coletivo é protagonizado por “jovens indígenas que contribuem para romper uma comunicação hegemônica e não participativa” (MÍDIA ÍNDIA, 2021). O coletivo, conforme sugerem os resultados, se diferencia por dialogar de forma criativa com visões estereotipadas, questionando-as a fim de suscitar reflexões e desconstruções.
Os autores aplicaram a metodologia de análise da narrativa (BARTHES, et al., 1973; MOTTA, 2013; HALL, 2016) em um corpus composto por 31 postagens realizada em 2019 no perfil do Instagram do coletivo. Este ano foi escolhido por ser o primeiro após a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República, momento marcado por inflexões na gestão de políticas públicas para diversos setores sociais, incluindo indígenas. Desse modo, as postagens foram tidas como condutoras de ressignificações, às quais subjazem diálogos com os contextos histórico, social e cultural.
Os resultados do estudo sugerem que o coletivo desenvolve sua comunicação confrontando perspectivas etnocêntricas e coloniais que tendem a representá-los, em uma forma de violência cultural, como vetores de atraso e perturbação. A rede social foi explorada como um espaço de engajamento on-line e abertura para vozes silenciadas. Os conteúdos devem servir para a projeção de identidades como contraposição e resistência, em um ativismo dirigido contra injustiças e exclusões.
Ao buscarem subverter discriminações e desnudar suas incoerências, as postagens do coletivo no Instagram podem desencadear reflexões e ponderações que contribuam, ao longo do tempo, para transformar a realidade de políticas públicas que permitam o atendimento de seus direitos por meio da transformação das percepções simbólicas dessa realidade (BOURDIEU, 1989).
Referências
BARTHES, R., et al. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 1973.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
HALL, S. Cultura e representação. Rio de Janeiro: PUC-Rio, Apicuri, 2016.
MOTTA, L.G. Análise crítica da narrativa. Brasília: Ed. UnB, 2013.
Para ler o artigo, acesse
ROTHBERG, D., et al. O poder criativo do net-ativismo de povos originários no Brasil. Intercom, Rev. Bras. Ciênc. Comun. [online]. 2022, vol. 45, e2022121 [viewed 13 June 2023]. https://doi.org/10.1590/1809-58442022121pt. Available from: https://www.scielo.br/j/interc/a/WyVGcCtdBQ63cHyMV5TWg6d/
Links externos
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Danilo Rothberg – Biblioteca Virtual da FAPESP: https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/89104/danilo-rothberg
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