Neiva Afonso Oliveira, Doutora em Filosofia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.
Leonor Gularte Soler, Doutoranda em Educação, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.
Alexandre Reinaldo Protásio, Doutorando em Educação, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.
No artigo Lógica pedagógica e pensamento reflexivo a partir de John Dewey e Paulo Freire: uma mesma epistemologia, diferentes perspectivas ético-políticas, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (vol. 104, 2023), partimos do pressuposto de que há, na teoria pedagógica deweyana, conceitos articuladores que Paulo Freire conhece, resgata e prestigia.
Tal afirmação não pretende ratificar somente que Paulo Freire leu os textos deweyanos, mas busca avançar e dizer que existem mais “continuidades” do que “descontinuidades” entre as duas propostas. Ainda mais, pretendemos destacar que as duas instâncias teórico-pedagógicas são detentoras, cada uma a seu tempo, de uma certa estabilidade. Elas não são ou não apresentam teses oscilantes, o que facilita traçar, entre elas, aproximações e afastamentos.
Ao afirmar que há mais aproximações do que afastamentos entre ambas, reduzimos os riscos de apartar os dois autores e de minimizar o conteúdo inovador que trazem em suas teorias. Essa abordagem facilita ressignificar posições diante de e entre filosofias clássicas, como é o caso de John Dewey e Paulo Freire.
Por esse motivo e por uma série de outras razões, sempre é possível estabelecer conexões entre os dois autores. A base epistemológica com que Paulo Freire concebe o conhecimento alimenta-se da concepção deweyana, numa perspectiva que faz par com a curiosidade epistemológica, com a inserção no mundo e com o encontro epistêmico entre realidade objetiva e os sujeitos do conhecimento. Esses elementos são os pontos de partida e a alavanca da teoria pedagógica de John Dewey, viabilizando suas teses sobre a aprendizagem das crianças.
São muitos os pontos de contato entre John Dewey (1859-1952) e Paulo Freire (1921-1997) quanto ao tema da produção do conhecimento, e enquanto resultado do processo de investigação da realidade. O ponto de partida da aproximação teórica preferencial é a noção de “curiosidade epistemológica” em Paulo Freire e a tríade deweyana “curiosidade, imaginação e investigação”.
Temos respostas quando nos perguntam sobre o que queremos dizer com “pensamento reflexivo”. Embora nosso envolvimento com as questões dos saberes pedagógicos e filosóficos, invocamos a sinonímia e respondemos utilizando as expressões pensamento crítico, criticidade, reflexão. Quanto à outra expressão conceitual abordada no artigo – lógica pedagógica – temos, já, certa dificuldade para responder de pronto, por se tratar de uma expressão que invoca de maneira mais articulada a relação entre filosofia e educação, mais especificamente entre visão (ou escola) filosófica e intenção pedagógica. É na gênese de uma filosofia pedagógica como a de John Dewey que fomos consolidando melhor o que entendemos por pensamento crítico ou reflexivo.
Em John Dewey identificam-se as compreensões de que o conhecimento se inicia pela perplexidade e pela necessidade de prolongar o estado de dúvida (enquanto estímulo para a pesquisa) e inquerir a credibilidade dos dados da realidade. A curiosidade, portanto, ocupa uma função fundamental na teoria do conhecimento do filósofo estadunidense. Podemos afirmar o mesmo sobre a concepção filosófica de Paulo Freire, fixada na expressão “curiosidade epistemológica”.
Com efeito, em termos de linhas gerais do pensamento dos dois autores, a mudança de paradigma e de filosofia educacional prospera na direção de que são ambas propostas progressistas e inovadoras relativamente ao que há de tradição na educação. Juntos, em nossa argumentação, os dois pensadores defendem o trinômio curiosidade-imaginação-indagação.
Resta avaliar, entretanto, em que linhas esses autores diferem. John Dewey, apesar de ter várias de suas teses aproveitadas pelos educadores socialistas, não foi o que podemos considerar um pensador coletivista. Foi, antes, um liberalista social. O educador brasileiro, ao contrário, foi um propugnador de ideais, que buscou objetivar e subjetivar a libertação dos oprimidos, e um abnegado defensor de uma utopia social sem desigualdades materiais entre os sujeitos.
Referências
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Links externos
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