Educação política e democracia em Espinosa

Daniel Santos da Silva, professor da Licenciatura e da Pós-Graduação na Universidade Estadual do Paraná, União da Vitória, Brasil. 

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O artigo A potência do educar: coisa singular, diferença e democracia em Espinosa, publicado no periódico Trans/Form/Ação: revista de filosofia da Unesp (vol. 47, n.º 1, 2024) recupera alianças entre ética, política e educação, sendo esta última uma faceta cada vez mais presente nas interpretações da filosofia de Espinosa. O foco do estudo é relevar esforços e entraves na experiência do conhecimento e dos afetos comuns, incluindo sua organização e condições de transmissão. 

Assim, o texto acompanha de perto as relações travadas entre o complexo afetivo dos indivíduos e os diversos elementos que influenciam na sua formação, como costumes, opiniões, saberes e instituições, reconhecendo seu impacto tanto na esfera individual quanto na coletividade. Por isso, afirma-se que há combates necessários à constituição da vida humana, que é finita, porém não definida por sua finitude; é passional, mas ciente de si através disso, e, assim, capaz de retraçar determinações vitais de sua existência no tempo, no espaço e na história. 

Essa publicação configura-se, portanto, como um combate contra os esquemas de transcendência das normas e dos poderes que se interpõem entre nós, já que a transcendência enreda uma desistência ética, a qual formula a educação pelo medo.

O artigo é o “ponto de partida” de uma pesquisa ainda indeterminada quanto à integridade de seus objetivos, mas que mira nas possibilidades interpretativas a respeito da educação política e civil nos escritos de Espinosa e de Maquiavel. 

Uma pintura a óleo que retrata um professor idoso supervisionando jovens estudantes em uma sala de aula rústica enquanto eles escrevem e leem livros.

Imagem: WikiArt.

Tendo em vista a constituição dos elementos de educações republicanas e democráticas, o texto, centrado na filosofia espinosana, ressalta o liame necessário entre singularidade e multiplicidade, assim como entre segurança e liberdade. A potência democrática do corpo social, por ser aberta à história, contém sempre um “correr atrás” de sanar sequelas de confrontos e contradições entre desejos de glória, ambição, inveja e ódio e o que se (re)constitui como potência multitudinária comum. 

Assim, promover a conexão entre desejos de liberdade é um ofício educativo. Onde se sufoca a diferença, trava-se o movimento “naturalmente” expansivo do direito civil, o viver democrático é o que mais se aproxima de nossa liberdade natural, de sorte que a contradição pode devir morte. A educação conecta e engaja cada indivíduo, nas suas capacidades, em redes nas quais toma parte – até o amar-se, nesse sentido, deixa de significar desejo de proeminência e passa a ser consciência de singularidade e de união. 

Logo, a atenção a si, no campo promovido por essa educação, é uma atenção trabalhada no comum e na multiplicidade viva de que somos capazes de produzir e na qual vivemos; na medida em que se trata de um aprendizado da necessidade, de aprender a não se distrair com bens fugazes (Espinosa, 2015b, p. 29) e, sim, a atentar ao que podemos, a partir de nossas potências. Qualquer expressão dessa educação política mina as bases dos fatalismos que procuram estagnar a dinâmica democrática de fortalecimento conjunto – sem esquecer o quanto a filosofia de Espinosa foi acusada, exatamente, de fatalista.  

Sobre Daniel Santos da Silva

Graduou-se e fez mestrado em filosofia na Universidade Estadual do Ceará; realizou o doutorado e o pós-doutorado na Universidade de São Paulo; autor dos livros Conflito e resistência na filosofia política de Espinosa (Editora Unicamp, 2020) e Sem lamentações: filosofia, anarquismo e outros ensaios (Editora Monstro dos Mares, 2020); traduziu e publicou O tempo e a ocasião. O encontro Espinosa Maquiavel (Editora Contracorrente, 2023), de Vittorio Morfino. Ensina filosofia na Licenciatura e na pós-graduação da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) | ORCID.

Referências

BOVE, L. La stratégie du conatus: Affirmation et résistence chez Spinoza. Paris: J. Vrin, 1996.

CHAUÍ, M. Desejo, paixão e ação na ética de Espinosa. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

CHAUÍ, M. Democracia: criação de direitos. Síntese [online]. 2018, vol. 45, no. 143, pp. 409-422 [viewed 02 May 2024]. https://doi.org/10.20911/21769389v45n143p409/2018. Available from: https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/article/view/4094  

DELEUZE, G. Spinoza et le problème de l’expression. Paris: Minuit, 1968.

ESPINOSA. Tratado teológico-político. Trad. Diogo Pires Aurélio. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

ESPINOSA. Tratado político. Trad. Diogo Pires Aurélio. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

ESPINOSA. Ética. Trad. Grupo de Estudos Espinosanos/USP. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015a.

ESPINOSA. Tratado da emenda do intelecto. Trad. Cristiano Novaes de Rezende. Campinas: Unicamp, 2015b.

Para ler o artigo, acesse

SANTOS DA SILVA, D. A potência do educar: coisa singular, diferença e democracia em Espinosa. TRANS/FORM/AÇÃO [online]. 2024, vol. 47 [viewed 02 May 2024]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2024.v47.n1.e0240077. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/hnvdRZWQvMcYwWFx6tWvVLM/  

Links externos

Trans/Form/Ação – TRANS: https://www.scielo.br/trans/

Revista Trans/Form/Ação: Instagram | Facebook | Academia.edu

Spinoza Américas – Site: https://spinoza.jur.puc-rio.br/

Societas Spinozana – Site: https://societas-spinozana.org/ 

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SILVA, D.S. Educação política e democracia em Espinosa [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/05/02/educacao-politica-e-democracia-em-espinosa/

 

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