Formulação de políticas de inclusão para o ensino superior precisam incluir a participação de seu público-alvo

Pedro Angelo Pagni, Docente do Departamento de Administração e Supervisão Escolar da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, Marília, SP, Brasil.

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Ensaio apresenta análise crítica sobre a inclusão para o ensino superior e aponta para a necessária participação de seu público-alvo na formulação de suas políticas. À luz das filosofias da diferença, postula para tanto que o encontro com os saberes e práticas advindos desse público, a valorização da diversidade cultural e das diferenças éticas que o compreende, podem ser um vetor de mudanças significativas no ensino superior brasileiro.

O acesso das pessoas com deficiência ao ensino superior tem sido visto como uma das conquistas das lutas de seus movimentos políticos por inclusão educacional e por justiça social. Não obstante os reveses sofridos pelas políticas inclusivas nos últimos anos, o ensaio mencionado, intitulado “Nada sobre nós sem um corpo comum”: outro paradigma de inclusão para o ensino superior?, elabora um olhar genealógico sobre os percursos dos movimentos políticos por inclusão no ensino superior e evidencia algumas de suas tensões internas, situando historicamente a emergência de um outro ponto de vista sobre a inclusão educacional brasileira.

Partindo do enunciado do problema ético da “indignidade de falar pelo outro” – atribuído por Gilles Deleuze a Michel Foucault –, esse ensaio interpela a dimensão ética ignorada pelos saberes produzidos sobre a deficiência e as epistemes nas quais se apoiam. Esse ponto de vista ético confronta a objetivação do corpo com deficiência ao assujeitá-lo a tecnologias de reabilitação à luz daqueles saberes e ao submetê-lo a dispositivos de poder que ignoram sua singularidade, invisibilizam sua expressividade e, quando possível, silenciam seus enunciados discursivos.

Imagem vetorial exibindo silhuetas de mãos sobrepostas em diversas cores vibrantes, criando um efeito de arco-íris sobre o fundo branco.

Imagem: iStock.

O ensaio problematiza, assim, os saberes que falam sobre esse corpo designado de deficiente, assim como as práticas e as tecnologias que o enquadram em uma normalização, com vistas a integrá-lo em uma regulamentação social, a qual se propõe inclusiva, porém excludente, porque é feita para e não com ele.

Esse problema tem incomodado o autor nos últimos seis anos, tendo sido observado em seus estudos realizados em coautoria, decorrentes de sua atuação em Comissão de Acessibilidade e Inclusão, bem como em suas pesquisas sobre o tema na área de Filosofia da Educação.

Para enfrentá-lo, o ensaio propõe, mediante a revisão de literatura e das referências às filosofias da diferença, o encontro com as práticas e saberes advindos da experiência cultural desse outro, a alteridade radical como princípio ético das relações educativas e como condição para uma política de alianças e a formação de um corpo comum a partir dos encontros dos corpos singulares – pessoas com deficiência, afrodescendentes, transgêneros, dentre outros – no ensino superior.

Em suas conclusões, o ensaio defende que nenhuma prática política denominada inclusiva deveria ser elaborada sem esse corpo comum, assim como sugere que outro paradigma de inclusão – mais estético-comunitário, menos científico-imunitário – deveria ser pensado para o ensino superior.

Espera-se que, com os resultados e as discussões ora apresentados, as políticas de inclusão voltadas ao ensino superior possam ser pensadas de outra forma, produzida por saberes elaborados com o outro e por práticas que, da produção de conhecimento ao ensino, tragam impressas a impressão digital também desses novos atores sociais, em sua diversidade e diferenças.

Referências

CIANTELLI, A.P.C., et al. O olhar de uma comunidade universitária sobre a acessibilidade: Da dispersão aos limiares de seus marcadores convencionais. Revista Pasajes [online].  2021, vol. 12, pp. 1-25 [viewed 26 June 2024]. Available from: https://revistapasajes.site/wp-content/uploads/2021/07/articulo-12-4-pasajes-2021.pdf

DELIGNY, F. Cahiers de L’Immuable. In: DELIGNY, Fernand. Oeuvres. París: L’Arachnéen, 2018. p. 797-1030.

FOUCAULT, M. Os intelectuais e o poder: conversa entre Michel Foucault e Gilles Deleuze. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 9.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1990.

PAGNI, P.A. Retratos foucaultianos da deficiência e da ingovernabilidade na escola: Do governo das diferenças a outro paradigma de inclusão. Marília: Cultura Acadêmica; Oficina Universitária, 2023 [viewed 26 June 2024]. https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-367-0. Available from: https://ebooks.marilia.unesp.br/index.php/lab_editorial/catalog/book/419

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

PAGNI, P.A. Formulação de políticas de inclusão para o ensino superior precisam incluir a participação de seu público-alvo [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/06/26/formulacao-de-politicas-de-inclusao-para-o-ensino-superior/

 

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