Rotulação de mulheres como “cadastradas difíceis” impõe desafios no cuidado da saúde reprodutiva pelo SUS

Giovanna Monteiro-Macedo, Assistente de Divulgação Científica da DADOS, IESP-UERJ, Rio de Janeiro, Brasil. 

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O artigo Distinções, Mediações Excludentes e Desigualdades: a Governança da Saúde Reprodutiva de “Cadastradas Difíceis” de Jaciane Milanezi, publicado no periódico DADOS (vol. 67, n.º 2), apresenta como a classificação de usuárias do sistema público de saúde como “difíceis” produz diferenciação social no acesso aos serviços a partir de estigmas reprodutivos e da avaliação comportamental associadas ao termo. 

A autora parte de uma etnografia de três unidades básicas de saúde (UBS) no Rio de Janeiro e 57 entrevistas em profundidade com profissionais de saúde para analisar como as classificações dadas para as usuárias afetam o acesso delas à saúde reprodutiva. Seu trabalho reflete, principalmente, sobre a categoria de “cadastradas difíceis”, que normalmente vem associada a outras, como “desleixadas” ou “casos complexos”, sempre em contraste com as cadastradas “tranquilas”.  

As “cadastradas difíceis” são em sua maioria mulheres negras, pobres e de periferias ou favelas da cidade que são consideradas “desleixadas” com a saúde. Por reprovarem seu comportamento, os profissionais diferenciam o tratamento sobre elas, impactando no acesso à saúde reprodutiva que elas possuem. 

Fotografia de vários métodos contraceptivos, incluindo pílulas anticoncepcionais, preservativo, DIU e anel hormonal, sobre um fundo azul.

Imagem: Unsplash.

Ao longo da pesquisa, a autora elabora sobre alguns casos em específico que nos mostram as classificações dessas usuárias, ressaltando como questões de raça e classe perpassam a relação delas com as profissionais da saúde. Aqui está também a grande contribuição do artigo. Ao olhar para essas classificações a partir de uma perspectiva etnográfica e interseccional, a autora complexifica as relações sociais e nos mostra as diferentes facetas da desigualdade de acesso à saúde dentro do Estado. 

Através de um diálogo entre estudos sobre desigualdades e o Estado, o artigo propõe pensar como a composição de gramáticas morais leva à diferenciação de mulheres que dependem de uma certa burocracia da saúde e atravessam estigmas de reprodução feminina. O Estado, então, aparece na vida dessas usuárias a partir de valores e regras que produzem um tipo desigual de governança sobre as populações.  

Para ler o artigo, acesse

MILANEZI, J. Distinções, Mediações Excludentes e Desigualdades: a Governança da Saúde Reprodutiva de “Cadastradas Difíceis”. Dados [online]. 2024, vol. 67, no. 2, e20210248 [viewed 22 August 2024]. https://doi.org/10.1590/dados.2024.67.2.315. Available from: https://www.scielo.br/j/dados/a/FfhkgfVY394MgTdg7mNGcYB/

Links externos

Dados – Revista de Ciências Sociais: www.scielo.br/dados

Página Institucional do Periódico: http://dados.iesp.uerj.br/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MONTEIRO-MACEDO, G. Rotulação de mulheres como “cadastradas difíceis” impõe desafios no cuidado da saúde reprodutiva pelo SUS [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/08/22/rotulacao-de-mulheres-como-cadastradas-dificeis-no-sus/

 

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