Kelma Fabíola Beltrão de Souza, Pós-doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Professora e Vice-diretora pela Prefeitura da Cidade de Recife, Recife, Pernambuco, Brasil.
O estudo Professor Paulo Freire na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos: Escola Primária para o Brasil, escrito pela professora Kelma Beltrão, analisa o único artigo que Paulo Freire publicou na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP), em 1961, intitulado Escola Primária para o Brasil. O objetivo da autora foi compreender o que Freire disse sobre a escola primária neste artigo seminal, e que fez com que suas ideias pudessem circular entre os destacados pensadores que escreviam na RBEP naquela época.
O trabalho de 1961foi fruto de uma conferência apresentada no Simpósio “Educação para o Brasil”, promovido pelo Centro Regional de Pesquisas Educacionais de Pernambuco (CRPE), em 1960. Nessa época, Paulo Freire tentava sobreviver ministrando aulas, se inscrevendo em concursos, proferindo conferências, publicando artigos etc.
Ele ainda não tinha fama e notoriedade, tampouco era um autor instituído (FOUCAULT, 2009) e com ideias consolidadas na Educação. Mesmo assim, conseguiu publicar seu artigo em um periódico no qual publicavam Carneiro Leão, Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Gustavo Capanema e outros exponentes da Educação brasileira.
Para entender o que Paulo Freire pensava sobre a escola primária pública brasileira dessa época, a autora recorreu aos textos (tanto o original da conferência, como o publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, em 1961 e em 2005, quando este primeiro artigo de Paulo Freire foi reapresentado, numa edição comemorativa dos 60 anos da RBEP, na parte intitulada “Memória da Educação”), à tese de concurso de Paulo Freire (“Educação e Atualidade Brasileira”, 2003), a alguns documentos do Centro Regional de Pesquisas Educacionais de Pernambuco (CRPE), a textos de Gilberto Freyre publicados na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, em 1957, e a outros textos, todos listados nas referências.
O percurso metodológico da autora, com base em Foucault (2009), foi tentar entender o discurso para além do que está dito no artigo analisado, voltando-se para a realidade de 1961 e percebendo-o enquanto ação, prestando atenção no que foi regular nesse discurso e quais dimensões institucionais nele se repetem, identificando assim os enunciados discursivos que estavam presentes e eram regulares naquele momento (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2009).
Foi utilizado o conceito de “autor instituído”, que não deve ser compreendido apenas como a pessoa que articulou ou redigiu um texto. Para Foucault (2009, p. 26), o autor significa o “princípio de agrupamento do discurso, como unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência”. Dessa forma, o nome do autor não é apenas um nome próprio, mas se liga a outras coisas, a outros significados.
Nesse contexto, foram identificados alguns aportes institucionais regulares: o Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, o Centro Regional de Pesquisas Educacionais – CRPE e os autores instituídos Anísio Teixeira e Gilberto Freyre. A autora apreende questões cruciais que Paulo Freire seguirá abordando no futuro, quando fala do “problema da Educação Popular” e sinaliza que não existem vagas suficientes na escola feita para o povo, que as formas vigentes de ensinar são pautadas na memorização e inadequadas à realidade, e o que se ensina está desarticulado com o mercado de trabalho.
O texto deriva de pesquisas que resultaram da sua tese de Doutorado da autora, “Educação e Região. Práticas Anisianas e Freyreanas fazem a educação do Recife (1957-1964)” e do seu relatório de estágio pós-doutoral, “Paulo Freire: um intelectual que configurou a ideia de povo na Educação Popular”, ambas orientadas pelo professor Flávio Henrique Albert Brayner e realizadas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Sobre Kelma Fabíola Beltrão de Souza
É doutora e pós-doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE, mestra em Administração e Comunicação pela UFRPE, especialista em História de Pernambuco pela UFPE e graduada em Comunicação Social e História pela UNICAP. Atua no Ensino Superior há 20 anos, como professora de graduação e pós-graduação, e há 30 anos na Educação Básica pela Rede Pública de Ensino, onde já exerceu a função de professora e gestora. Atualmente exerce a função de Vice-Diretora pela prefeitura do Recife (Eleita). É associada, desde 2009, da ANPED, onde integra o GT Educação Popular. Atualmente é Ad hoc do GT Educação Popular e faz parte do comitê científico. Possui artigos publicados em periódicos científicos nas principais classificações Qualis. Recebeu da Academia Pernambucana de Letras – APL os prêmios: Antônio Brito Alves, na categoria Ensaios, e Dulce Chacon, na categoria Escritora Nordestina. Possui, desde 2009, artigos de opinião publicados no Jornal do Commercio e na Folha de Pernambuco.
Referências
ALBUQUERQUE JUNIOR, D.M. A invenção do Nordeste e outras artes. 4. Ed. São Paulo: Cortez, 2009.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. 18ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009a.
FREIRE, P. Educação e Atualidade Brasileira. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2003.
SOUZA, K.F.B. As críticas do professor Paulo Freire à escola primária brasileira na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/08/30/as-criticas-do-professor-paulo-freire-a-escola-primaria-brasileira-na-rbeped/
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