Metamorfoses, fricção ou simbiose entre corpo e formas animadas na obra de Ilka Schönbein

Ana Wegner, editora para a popularização científica da Revista Brasileira de Estudos da Presença, CAPES/Université d’Artois, Arras, IDF, França.

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Em 15 anos de existência, a Revista Brasileira de Estudos da Presença apresentou algumas seções temáticas com foco em linguagens artísticas específicas, como é o caso de Problemas de/do cinema, problemas de/da pesquisa (vol. 14, n.º 1, 2024), Dança: história e historiografia (vol. 12, n.º 1, 2022) e Performance e Formas Animadas (vol. 12, n.º 3, 2022). Esta última, editada por Rossana Della Costa e Fabiana Marcello, comporta um leque de formas animadas em culturas populares e cenas contemporâneas, que são abordadas estética, política ou historicamente. 

Desse compêndio, destacamos Imagens como Aparição do Corpo: o jogo amoroso de Ilka Schönbein, artigo escrito por Thais Helena D’Abronzoa, que analisa a trajetória de Ilka Schönbein, marionetista e dançarina alemã, enfatizando como a hibridação entre dança e manipulação de formas animadas desafiam a percepção do corpo. O estudo é derivado da tese de doutorado (D’ABRONZO, 2019) da autora sobre Schönbein e sua companhia Theater Meschugge (“Teatro louco” em língua Ydish). O recorte específico adotado no artigo é perpassado por um sólido conhecimento tanto do teatro de formas quanto da artista e seu contexto.

O termo “jogo”, no título do artigo, torna-se polissêmico, compreendendo a relação entre o(a) manipulador(a) e o seu objeto, os paralelos entre processos vitais e funestos, bem como a hibridação marionete e dança. Bem mais do que apresentar aos leitores e leitoras lusófonos a obra de Schönbein, a autora se apoia na singularidade poética do caso analisado para pensar as formas animadas em suas possibilidades de metamorfoses, fricção ou simbiose entre as matérias do corpo vivo em cena e dos objetos animados – que, no caso do Schönbein, criam efeitos de inquietante estranheza e/ou erotismo.

O percurso de Schönbein é traçado ao longo do texto dando chaves para a compreensão das poéticas desta artista alemã nascida em 1958: o imaginário do pós-guerra, a influência da música, da língua e da cultura Ydish, assim como a itinerância que marca o processo criativo da artista (a partir de sua Darmstadt natal, Ilka percorre a Europa numa caravana que lhe serve de alojamento e ateliê, possibilitando que ela crie, aprimore e apresente seus espetáculos a cada parada).

Descrevendo cenas de diferentes obras, como Metamorphose (1993), Die Alte und das Biest – für meinen Vater [A velha e a fera – ao meu pai] (2009), D’Abronzoa consegue fazer com que o leitor(a) imagine a força das imagens produzidas nos espetáculos. Duas imagens fortes presentes no texto criam contrapontos que se entrelaçam: a pulsão de vida e a relação com a morte. 

De fato, situando a linguagem que vai de Edward Gordon Craig (corpo sagrado das estátuas) a Tadeusz Kantor (manequim-defunto) na reflexão sobre a morte que a marionete pode induzir, a autora demonstra a especificidade do processo criativo de Schönbein na confecção de suas marionetes, que partem de moldes de seu próprio corpo – pernas, tronco, nádegas etc. – e tomam, por vezes, forma de máscara mortuária. Quando as marionetes retornam ao corpo de Ilka na manipulação de formas animadas, criam-se espaços de sucessivas metamorfoses na confusão e inversão entre um corpo e outro(s), segundo a autora, criando imagens para além do humano. 

Tal exploração do corpo leva Ilka Schönbein igualmente a explorar, de forma recorrente, imagens de processos vitais, como o parto. A dimensão do erotismo pode ser associada a esta pulsão de vida. Quando a autora entra especificamente nessa seara, ela as analisa apoiando-se na ideia de movimentos transgressivos do erotismo de George Bataille (2015) e de Georges Didi-Huberman (2018).   

Assim, o artigo nos faz viajar por territórios concretos e imaginários, despertando a vontade de conhecer melhor a obra de Schönbein. Fica, portanto, o convite para a leitura integral da seção temática e do artigo, e para assistir a trechos de espetáculos de Ilka Schönbein.

No vídeo a seguir, Della Costa aborda mais detalhes sobre seção a temática “Performance e Formas Animadas”.

Referências

BATAILLE, G. Documents. MORAES, M.J. and PENNA, J.C. (Trad.). Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018.

D’ABRONZO, T. Imagens para rasgar adultos: a morte e o jogo erótico de Ilka Schönbein [online]. Repositório da Produção Científica e Intelectual da Universidade Estadual de Campinas. 2019 [viewed 04 September 2024]. https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2019.1127114. Available from: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1638433 

DIDI-HUBERMAN, G. A Semelhança informe ou o gaio saber visual Segundo Georges Bataille. MEIRA, C. and SCHEIB, F. (Trad.). MORAES, M.J. (Rev. Téc.) Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.

Para ler o artigo, acesse

D’ABRONZO, T.H. Imagens como Aparição do Corpo: o jogo amoroso de Ilka Schönbein. Revista Brasileira de Estudos da Presença [online]. 2022, vol. 12, no. 3, e118932 [viewed 04 September 2024]. https://doi.org/10.1590/2237-2660118932vs01. Available from: https://www.scielo.br/j/rbep/a/MpjtZwRV8yRsw5Vv95jYvZm/   

Links externos

Revista Brasileira de Estudo da Presença – RBEP: www.scielo.br/rbep

Revista Brasileira de Estudos da Presença – Site: https://www.seer.ufrgs.br/presenca

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Theater Meschugge: http://theatermeschugge.com/ 

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

WEGNER, A. Metamorfoses, fricção ou simbiose entre corpo e formas animadas na obra de Ilka Schönbein [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/09/04/a-obra-de-ilka-schonbein/

 

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