Ilda Renata Andreata Sesquim, Editora de Mídias e Comunicação da Revista História da Historiografia, Doutoranda e Mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG, Brasil
Em Entre Koselleck e Krenak: diálogos entre espaço de experiência, horizonte de expectativas e ancestralidade?, publicado no periódico História da Historiografia (vol. 17, 2024) os autores investigam a aplicabilidade das categorias meta-históricas de Koselleck em contextos não ocidentais. Koselleck criou conceitos como espaço de experiência e horizonte de expectativas, que foram seminais para o pensamento historiográfico e a compreensão da temporalidade moderna. No entanto, ao confrontar essas categorias com visões temporais não eurocêntricas, este artigo propõe novas perspectivas para pensar o tempo histórico.
O estudo se aprofunda na obra de Ailton Krenak, um pensador indígena brasileiro, cuja crítica ao pensamento ocidental e registro de experiências temporais de povos originários oferecem uma perspectiva alternativa à da modernidade ocidental. A pesquisa questiona se a universalidade das categorias de Koselleck pode ser validada quando confrontada com as concepções temporais distintas de Krenak. O presentismo ocidental é desafiado pelo pensamento ancestral e pela noção de um “futuro ancestral”, sugerindo uma nova forma de entender o tempo histórico que se afasta das categorias eurocêntricas.
Para realizar a pesquisa, Bruno Souza Leal (PPGCOM/UFMG) e Ana Regina Rêgo (UFPI) se aproximam dos textos publicados por Ailton Krenak, que, distantes de um pensamento acadêmico típico, são oriundos de palestras e registros de falas em diferentes fóruns. A motivação do estudo é não só oferecer uma crítica ao modo de vida e ao pensamento ocidental, como também registrar outros modos de experiência do mundo e do tempo a partir da etnia Krenak e de outros povos originários.
Os resultados da pesquisa indicam uma ruptura significativa com a noção de temporalidade dominante no pensamento ocidental, oferecendo novas possibilidades de interpretação tanto para a historiografia quanto para a sociedade contemporânea. A articulação entre a ancestralidade e a crítica ao presentismo ocidental, conforme explorado na obra de Krenak, desafia as bases do pensamento eurocêntrico sobre o tempo histórico e propõe uma ressignificação da experiência temporal.
Este movimento sugere não apenas uma expansão do espaço de experiência, mas também um repensar das expectativas de futuro, onde o conceito de “futuro ancestral” apresenta um novo horizonte temporal. Para a sociedade, essa proposta impacta diretamente a forma de entender as relações entre humanidade e mundo, promovendo uma visão que ressignifica a interconexão entre presente, passado e futuro, e que se afasta da lógica de exploração e dominação da natureza.
A pesquisa, portanto, revela um diálogo fundamental entre diferentes concepções temporais, abrindo espaço para uma crítica ao pensamento historiográfico moderno. No entanto, o estudo também enfrenta desafios significativos, como a dificuldade de traduzir de forma adequada as experiências temporais de povos originários dentro de categorias desenvolvidas para realidades ocidentais.
A desconstrução do conceito ocidental de humanidade e tempo exige, assim, uma abordagem cautelosa e cuidadosa. Os autores projetam que esse diálogo entre temporalidades distintas pode enriquecer não só o campo da historiografia, mas também as discussões em torno de sustentabilidade, descolonização do saber e novas formas de relacionamento entre humanidade e natureza, incorporando novas perspectivas no debate global.
Para ler o artigo, acesse
SOUZA LEAL, B. and REGO, A. R. Entre Koselleck e Krenak: diálogos entre espaço de experiência, horizonte de expectativas e ancestralidade? Hist. Historiogr. [online]. 2024, vol. 17, e2095 [viewed 12 December 2024]. https://doi.org/10.15848/hh.v17.2095. Available from: https://www.scielo.br/j/hh/a/JRfXCLJsfHhhhcsMVL5DB4w/
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