Edoardo Raimondi, Professor, Università degli Studi di Urbino Carlo Bo, Urbino, Itália.
O texto Daniel Innerarity e a crítica de uma razão democrática simplista, do Professor Dr. Judikael Castelo Branco e publicado pelo periódico Trans/Form/Ação (vol. 48, no. 2, 2025), visita a obra do pensador espanhol para pensar os limites de teorias da democracia marcadamente simplistas.
O ponto de partida é a percepção quase generalizada de um atual estado de crise que denota nossas experiências democráticas, mesmo em democracias consideradas mais consolidadas. Para Innerarity, e nisso o autor do presente artigo se mostra inteiramente de acordo, esse contexto tornou crucial não apenas o retorno à discussão acerca das condições de uma vivência efetivamente democrática, mas também o reconhecimento de que essa reflexão requer uma mudança radical dos paradigmas a partir dos quais algumas das principais teorias da democracia têm sido elaboradas.
Numa palavra, Innerarity (2015; 2018; 2020; 2022; 2023) ressalta o papel que o imaginário e o vocabulário das ciências modernas tiveram para a elaboração das teorias da democracia no início da modernidade, ao mesmo tempo que frisa a insuficiência desse quadro referencial para se pensar as democracias contemporâneas.
O autor espanhol traz como elemento comprobatório de seus argumentos o confronto entre a “simplicidade”, característica das sociedades que serviram de nascedouro à democracia moderna e a crescente complexidade das sociedades contemporâneas. Decorre justamente daí a exigência de se encontrar outro modelo, diferente daquele imediatamente herdado da modernidade e capaz de apreender de forma adequada os problemas das democracias vividas em sociedades complexas.
Essa complexidade, porém, não se explica apenas pela extensão de territórios ou pelo tamanho de uma população, mas sobretudo pela densidade das relações entre os diferentes grupos e subgrupos dentro de uma sociedade. É nesse sentido que ganha corpo a sugestão de Innerarity de substituir o modelo simplista, pautado em relações causais e em metáforas de “freios e contrapesos” por um modelo complexo, ilustrado, por exemplo, pela neurociência.
Dessa forma, traduzida numa imagem, a proposta de Innerarity tem a ver com a passagem da compreensão de uma sociedade hierárquica para a de uma sociedade heterárquica, na qual a política assume um papel imprescindível, mas não único.
Por fim, o artigo aponta três exigências incontornáveis para experiências democráticas contemporâneas. Primeiro, a importância de apreender os problemas políticos em sua complexidade. Segundo, pede-se que se reconheça que a natureza desses problemas nos põe diante das dificuldades de prever suas consequências, isto é, a necessidade de lidar com o que ignoramos. Por fim, reforça-se o valor da educação para a democracia, sem, no entanto, negligenciar o papel das instituições capazes de assegurar o bom funcionamento de uma democracia verdadeira.
Para ler o artigo, acesse
BRANCO, J.C. Daniel Innerarity e a crítica de uma razão democrática simplista. Trans/Form/Ação [online]. 2025, vol. 48, no. 2, e025006 [viewed 7 April 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2025.v48.n2.e025006. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/VdpVkHS6H9YnTPbcnNtzQJP/
Referências
INNERARITY, D. La democracia del conocimiento. Por una sociedad inteligente. Barcelona: Galaxia Gutenberg, 2022
INNERARITY, D. La libertad democrática. Barcelona: Galaxia Gutenberg, 2023
INNERARITY, D. La política en tiempos de indignación. Barcelona: Galaxia Gutenberg, 2015
INNERARITY, D. Política para perplejos. Barcelona: Galaxia Gutenberg, 2018
INNERARITY, D. Una teoria de la democracia compleja. Gobernar en el siglo XXI. Barcelona: Galaxia Gutenberg, 2020
Links externos
Revista Trans/Form/Ação: Instagram | Facebook | Academia.edu
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários