Marcelo Valério, docente do Departamento de Teoria e Prática de Ensino, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil
Roberto Takata, membro do grupo de pesquisa Cultura, Educação e Divulgação Científicas (CEDICiências), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP, Brasil
Talvez seja mais fácil arrebanhar gatos do que atingir um consenso entre praticantes e pesquisadores da ciência e arte de comunicar a ciência com o público não-especializado. São centenas de definições sobre o que é a Divulgação Científica disponíveis na literatura sobre o tema, variando conforme a época, o local, o papel que desempenha e, mesmo, a formação de quem a propõe.
A princípio, trazer mais uma definição seria apenas acrescentar mais ruído nessa cacofonia de vozes. Mas, e se houvesse um modo de organizar as diferentes elaborações vigentes em um único esquema que enfatize os principais pontos, inclusive de definições aparentemente divergentes? Este é o desafio que o professor Marcelo Valério, docente do Departamento de Teoria e Prática de Ensino, da Universidade Federal do Paraná, e Roberto Takata, membro do grupo de pesquisa Cultura, Educação e Divulgação Científicas (CEDICiências), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), enfrentaram no artigo Afinal, o que é divulgação científica? Explanação e proposição de uma definição plural.
Revisitando minuciosamente a literatura, tanto técnica quanto não-técnica, e comparando as variadas visões sobre o que seria a Divulgação Científica, os autores refletem as articulações desta expressão com a “Comunicação Pública da Ciência”, a “Alfabetização Científica”, o “Engajamento Público da Ciência”, a “Educação Científica Não Formal” e expressões, às vezes usadas como sinônimo, às vezes com referência a fenômenos distintos.
De modo propositivo, os autores se afastam de demarcações peremptórias e identificam quatro eixos principais ao longo dos quais as diferentes definições posicionavam a prática: os públicos (se especializados, iniciados ou se afastados, alijados, leigos), as fontes (se alternativas, o senso comum, as opiniões ou se acadêmicas, institucionais), as linguagens (se hermética, restrita ou se coloquial, acessível, adaptada) e a intencionalidade pedagógica (se vaga, omitida ou se evidente, empenhada). A partir disso, esboçam uma definição que não é generalista, mas plural e fluida, na qual os elementos definidores podem ser considerados com diferentes pesos e relações.
A imagem abaixo, reproduzida do artigo, mostra como uma determinada atividade ou ação se aproximará ou se afastará mais das extremidades do espectro delineado, permitindo julgar com transparência a pertinência ou legitimidade do que fora proposto. Em uma dada circunstância, é possível se colocar um limiar nesse espectro para se classificar ações, atividades e propostas como sendo Divulgação Científica ou não, ato que pode ser útil seja para aceitação ou não em editais, concursos, premiações, congressos, etc.

Imagem: Os autores
Embora essa definição, por si mesma, não avalie a qualidade do trabalho de divulgação, ela permite distinguir certos canais que se pretendem como de Divulgação Científica, mas que não são, na medida em que se afastam, por exemplo, de fontes científicas e acadêmicas próprias. Os autores defendem que tal distinção foi potencialmente bastante importante durante a pandemia de Covid-19, quando muitos perfis de redes sociais e canais de Youtube difundiram falsas informações sobre inutilidade ou perigo de vacina e promovendo tratamentos ineficazes. Dispensável dizer que a prática segue firme para outras várias condições de saúde, como diabetes e obesidade, sobre a crise climática, sobre teoria evolutiva etc.
Na medida em que universidades e órgãos governamentais procuram definir políticas de Divulgação Científica, reconhecendo a importância da comunicação com o público, uma definição flexível, que converse com os mais variados pontos de vistas, pode ser útil; evitando amarrar demais a uma visão muito restritiva, ao mesmo tempo, permitindo uma clareza de quais parâmetros são mais importantes, sem virar um balaio de gatos.
Disclaimer: nenhum gato foi submetido a maus tratos durante a condução dos estudos ou a confecção deste texto.
Para ler o artigo, acesse
VALÉRIO, M. and TAKATA, R. A Afinal, o que é divulgação científica? Explanação e proposição de uma definição plural. Pro-Posições [online]. 2025, vol. 36, e2025c0502BR [viewed 16 July 2025]. https://doi.org/10.1590/1980-6248-2024-0047BR. Available from: https://www.scielo.br/j/pp/a/hTx6975G7w7jYmx6Q46RfmJ
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