Dimensão internacional do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas

Sílvia de Souza Leão, jornalista

Jimena Felipe Beltrão, jornalista e editora do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas

Vinheta da semana especial do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas

A internacionalização de periódicos científicos representa não apenas uma tendência global, mas uma exigência para a relevância acadêmica no cenário contemporâneo. O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (BGOELDI), com seus 130 anos de história, tem buscado se consolidar nesse panorama por meio de estratégias editoriais, adoção de boas práticas e incentivo à diversidade de línguas e instituições nas suas publicações.

Desde 2016, o BGOELDI adotou medidas significativas, como a submissão online via ScholarOne, o uso de formato XML, adesão ao ORCID e ao DOI, além da adoção do estilo bibliográfico da APA (American Psychological Association), aproximando-se dos padrões internacionais. A publicação bilíngue e a aceitação de artigos em quatro idiomas — português, inglês, espanhol e francês — são estratégias-chave para ampliar o alcance do conteúdo. Além disso, o periódico reforçou seu compromisso com a diversidade e a equidade, revisando sua política editorial para explicitar diretrizes sobre representatividade de gênero, étnico-racial e geográfica.

Kátia Regina Pereira do Rosário, sob a orientação de Hein van der Voort, linguista, e Jimena Felipe Beltrão, editora, desenvolveu o projeto “Estratégias para a internacionalização da pesquisa: Políticas editoriais de periódicos da área de Ciências Humanas” que resultou no artigo Produção Científica do Boletim do Museu Paraense Emílio GoeldiCiências Humanas: um estudo bibliométrico a partir da relação internacional de seus autores (Brazilian Journal of Information Science: Research Trends, vol. 19), publicado em 2025, que analisa a trajetória recente do periódico (2016–2024) e destaca os avanços em direção à internacionalização a partir de um estudo bibliométrico.

 

Montagem mostrando captura da tela do artigo "Produção Científica do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi⎯Ciências Humanas: um estudo bibliométrico a partir da relação internacional de seus autores"

Imagem: Talita do Vale Batista

 

O projeto levantou informações sobre a língua considerada franca na Ciência, o inglês, destacando aspectos como a dificuldade ainda presente na utilização do inglês na publicação de artigos científicos, o número de contribuições à revista escritas em outras línguas que não o português, a afiliação institucional, nacionalidade e origem geográfica de autoras e autores.

 

Mapa com gráfico que mostra a distribuição por países de afiliação dos autores

Imagem: SciELO, adaptado pelas autoras (2024)

Figura 1. As nacionalidades das instituições e afiliações de cada autor

 

Entre 2016 e 2024, foram publicados 397 artigos, dos quais 72 (18,13%) estão em inglês (38), espanhol (33) e francês (1). Embora esse percentual ainda seja tímido, representa um avanço em relação à década anterior.

A pesquisa identificou que a maioria dos autores estrangeiros está vinculada a instituições da América Latina, com destaque para a Argentina, além de universidades da América do Norte e Europa. Linguística (especialmente sobre línguas indígenas da Amazônia), Arqueologia e Antropologia são as temáticas mais frequentes nas publicações em inglês e espanhol, demonstrando um diálogo ativo com temas de interesse internacional.

É em dossiês temáticos que se observa maior cooperação internacional entre autorias no conteúdo publicado na revista. Caso de Cenários e processos das primeiras ocupações humanas no BrasilArte Arqueologia e Agência na AmazôniaArqueologia do Rio Madeira, mencionados por Cristiana Barreto, editora associada para Arqueologia: “Nestes últimos anos foram particularmente importantes os dossiês.” Para ela, o BGOELDI dá “contribuição decisiva do Boletim para o fortalecimento e a disseminação do conhecimento científico sobre o patrimônio arqueológico nacional.”

Esse é o caso dos dossiês de Linguística1 e de Antropologia2 publicados na última década, que deixam clara a colaboração acadêmica entre autorias de origens geográficas diversas, conferindo ao periódico credenciais internacionais, características desde os seus primórdios, fruto do DNA do próprio Museu Paraense Emílio Goeldi.

 

Gráfico mostrando a frequência dos assuntos abordados nos artigos do BGOLEDI entre os anos de 2016 e 2024

Imagem: Elaborado pelas autoras (2024).

Figura 2. A frequência dos assuntos mais investigados pelos pesquisadores afiliados as instituições estrangeiras para o período de 2016-2024 conforme os idiomas encontrados na análise

 

Internacionalizar é preciso”, afirma Salomão Farias (2017), mas é preciso também enfrentar desafios estruturais, como a escassez de financiamento e a limitação no domínio da escrita acadêmica em inglês por parte de autores brasileiros. Ainda assim, o BGOELDI tem buscado alternativas, como o apoio institucional à tradução de artigos e o fortalecimento de seu corpo editorial com membros de diversas nacionalidades. A presença do periódico em indexadores como Scopus, SciELO e DOAJ (Directory of Open Access Journals) também amplia sua visibilidade.

O estudo evidencia que o caminho da internacionalização passa por múltiplos fatores: domínio linguístico, qualidade editorial, adesão a boas práticas científicas, uso estratégico de mídias digitais e, sobretudo, cooperação internacional. O BGOELDI, mesmo enfrentando limitações, trilha esses caminhos com consistência.

Como perspectiva futura, destaca-se a necessidade de maior apoio financeiro à publicação bilíngue e à captação de contribuições de autores e avaliadores internacionais. Também se recomenda o aprofundamento de estudos sobre a origem dos financiamentos e suas relações com os temas abordados, especialmente os ligados à Pan-Amazônia, que seguem despertando atenção científica global. Ao conjugar tradição centenária com inovação editorial, o BGOELDI reafirma seu papel como canal de comunicação científica sobre e para a Amazônia no cenário internacional.

 

Katia do Rosário

Katia do Rosário, bibliotecária, bolsista do Programa de Iniciação Científica do Museu Paraense Emílio Goeldi, junto à equipe da revista, entre 2021 e 2022.

 

Para  ler o artigo, acesse

BELTRÃO, J.F., et al. Produção Científica do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi⎯Ciências Humanas: um estudo bibliométrico a partir da relação internacional de seus autores. Brazilian Journal of Information Science: Research Trends [online]. 2025, vol. 19, e025018 [viewed 11 September 2025]. https://doi.org/10.36311/1981-1640.2025.v19.e025018. Available from: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/bjis/article/view/17190

Notas

1. Dinâmicas das agriculturas amazônicas; Patrimônio indígena e coleções etnográficas; Antropologia, arqueologia e linguística no Alto Xingu; Temporalidades e interações socioambientais no noroeste amazônico

2. Complex structures in Brazilian Indigenous languagesNovas perspectivas na terminologia de parentesco nas línguas Tupí e CaribePartículas 

Referência

FARIAS, S.A. Internacionalização dos periódicos brasileiros. Revista de Administração de Empresas [online]. 2017, vol. 57, no. 4, pp. 401-404 [viewed 11 September 2025]. https://doi.org/10.1590/S0034-759020170409. Available from: https://www.scielo.br/j/rae/a/VMhbGFTJXTLDCjRW447LhFt

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

LEÃO, S.S. and BELTRÃO, J.F Dimensão internacional do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/09/11/dimensao-internacional-do-bgoeldi/

 

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