Marina Lemle, jornalista, Blog de HCS-Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Inaugurado em 1852 para abrigar os alienados da Corte e demais províncias do Império, o Hospício de Pedro II foi a primeira instituição dessa natureza a funcionar no Brasil. Seu nome homenageava o próprio imperador, responsável pelo decreto fundador do estabelecimento, que nascia vinculado à Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, principal destino de alienados até então.
Desde o final da década de 1970, o primeiro hospício do Brasil tem merecido destaque em algumas abordagens sobre a história da psiquiatria, pois teria representado a concretização do projeto de uma elite médica que tinha como objetivo o controle social das cidades. Nessas análises, fortemente influenciadas pela obra de Michel Foucault, o hospício era visto primordialmente como local de exercício do poder médico, ainda que em disputa com outras formas de poder.
No artigo “Ciência, caridade e redes de sociabilidade: o Hospício de Pedro II em outras perspectivas”, publicado em HCS-Manguinhos, volume 23, número 4, Daniele Corrêa Ribeiro apresenta e discute novas possibilidades de análise da história da psiquiatria no Brasil a partir do estudo das fichas de entrada e outros documentos do hospício entre 1883 e 1889. Os documentos encontram-se sob a guarda do Centro de Documentação e Memória do Instituto Municipal Nise da Silveira, coordenado pela autora.
“Buscamos destacar a participação de atores diversos e as imbricações de diferentes interesses e demandas em relação ao hospício. Assim, além do olhar médico-científico, apontamos a importância de ampliar o debate sobre a instituição, considerando sua importância, tanto pelo viés caritativo quanto pelo papel central nas relações políticas e sociais do Império” (p. 1), revela Daniele Corrêa Ribeiro, que é doutoranda do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.
A pesquisadora acrescenta que a novidade do trabalho está ligada ao destaque dado às relações que outros atores, além dos médicos —principalmente familiares de internos —, estabeleceram com o saber psiquiátrico. No artigo, Daniele busca demonstrar a complexidade de relações, demandas e interesses que estavam presentes na administração e na gestão cotidiana do Hospício de Pedro II no final do século XIX, mostrando novas chaves interpretativas.
“O papel desempenhado pelas famílias e as estratégias por elas manejadas para garantir o acesso àquela instituição convergem para um novo viés analítico que tem revisto as teorias do controle social, identificando outros atores sociais fundamentais para aquele processo e, principalmente, outras demandas e expectativas que se construíam acerca daquele estabelecimento” (p. 13), afirma.
Para ler os artigos, acesse
RIBEIRO, D. C. Ciência, caridade e redes de sociabilidade: o Hospício de Pedro II em outras perspectivas. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. In press. [viewed 19th October 2016]. ISSN 0104-5970. DOI: 10.1590/S0104-59702016005000023. Available from: http://ref.scielo.org/3bbqh9
RIBEIRO, D. C. Da história da psiquiatria à construção de uma nova clínica: as contribuições de Rafael Huertas para os debates historiográficos. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 2015, vol.22, suppl., pp.1781-1788. [viewed 19th October 2016]. ISSN 0104-5970. DOI: 10.1590/S0104-59702015000500017. Disponível em: http://ref.scielo.org/wpmf4s
Link externo
História, Ciências, Saúde – Manguinhos – HCSM: www.scielo/hcsm
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