Gilberto Icle, Editor-chefe da Revista Brasileira de Estudos da Presença, Porto Alegre, RS, Brasil
O artigo “Decolonizar o currículo? Possibilidades para desestabilizar a formação em performance” publicado na Revista Brasileira de Estudos da Presença (v. 8, n. 4), aborda as relações entre artes e universidade que se mostram controversas em várias partes do mundo (ROSS, 2000). Nesse sentido, a Europa continental assume características muito precisas – de modo geral, por exemplo, a formação em artes se efetiva em conservatórios e escolas não universitárias. Nas Américas, por seu turno, essa formação é, em grande medida, realizada no interior da formação universitária (o que se pode dizer que, aqui, pesquisa e formação estariam, em tese, mais amalgamadas). Entretanto, não obstante a noção de que o campo das artes teria uma abertura singular que permitiria mais resistência em relação às normatizações específicas da instituição universitária, em ambos os modelos de formação universitária em artes, as pressões neoliberais e neocoloniais não cessam de emergir sob a forma dos arranjos locais.
Essa problemática tem sido desenvolvida pelo campo do currículo ou dos estudos sobre currículo (TUCK, 2012) em várias áreas de conhecimento e, em específico aqui, na área das artes cênicas. Assim, a formação em artes da cena não está isenta dos atravessamentos realizados pelas estruturas neoliberais, seja em qual país estivermos. Assim, a decolonialização do currículo significaria pensar para além de tais amarras. Tratar-se-ia de diagnosticar os mecanismos empresariais e neoliberais decisivamente implicados nas práticas formativas e, ao mesmo tempo, tratar-se-ia também de propor alternativas por intermédio da criação de oportunidades criativas dadas pelas artes e por suas especificidades.
A autora, nesse itinerário teórico prático, questiona o que sabemos sobre currículo no ensino superior, colocando na berlinda a própria ideia de currículo e de formação em dança e em performance. Com efeito, propõe uma indagação que está no âmago dos trabalhos apresentados neste número da revista: o que pode um currículo decolonial? Ela inicia, assim, uma espécie de desconstrução da ideia coirrente de currículo no campo das artes.
A professora Janet O’Shea apresenta essa problematização no campo específico da formação em dança e em performance no vídeo a seguir.
Referências
ROSS, J. Moving lessons: Margaret H’Doubler and the beginning of dance in American education. Madison: University of Wisconsin Press, 2000.
TUCK, E. and YANG, K. W. Decolonization is not a metaphor. Decolonization: Indigeneity, Education, and Society, Toronto, University of Toronto, v. 1, n. 1, p. 1 -40, 2012. Available from: https://jps.library.utoronto.ca/index.php/des/article/view/18630/15554
Para ler o artigo, acesse
O’SHEA, J. Decolonizing the Curriculum? Unsettling possibilities for performance training. Rev. Bras. Estud. Presença [online]. 2018, vol.8, n.4, pp.750-762. ISSN 2237-2660. [viewed 11 October 2018]. DOI: 10.1590/2237-266078871. Available from: http://ref.scielo.org/tsg6dv
Link externo
Revista Brasileira de Estudos da Presença – RBEP: www.scielo.br/rbep
Sobre Gilberto Icle
Gilberto Icle é doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É professor permanente no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e no Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da Universidade de Brasília. É bolsista de produtividade 1D do CNPq. E-mail: gilbertoicle@gmail.com
Sobre Janet O’Shea
Janet O’Shea é autora de At Home in the World: Bharata Natyam on the Global Stage e Risk, Failure, Play: What Dance Reveals about Martial Arts Training. É professora de Artes e Culturas/Danças do Mundo na University of California, Los Angeles (UCLA). Tem como áreas de interesse a história da dança e, mais recentemente, a etnografia do esporte, escrita e políticas alimentares. E-mail: joshea@arts.ucla.edu
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