O legado de Alberto Guerreiro Ramos na luta antirracista no palco psicodramático

Ana Luiza Silva Oliveira, Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.

Mariana Silva Oliveira, Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.

Grande nome da sociologia e do psicodrama brasileiros, Alberto Guerreiro Ramos foi responsável por um legado de contribuições imensuráveis para se pensar o palco psicodramático como um espaço não só de elaboração das questões psíquicas, mas também como um reflexo das relações sociais que atravessam a sociedade brasileira. Foi com o objetivo de enaltecer o trabalho desse pensador que Daniel Russell Oliveira redigiu o artigo Psicodrama Brasileiro e a Luta Antirracista: O Legado de Alberto Guerreiro Ramos, publicado pela Revista Brasileira de Psicodrama (vol. 33, 2025).

Defensor de uma prática sociológica que estivesse adaptada às singularidades da realidade no Brasil, Guerreiro Ramos repudiava a aplicação de teorias importadas da Europa sem as devidas modificações, visto que essa prática reproduz vieses colonialistas, que, por sua vez, estavam imbuídas de conservas racistas. A união entre o Psicodrama e as questões étnico-raciais veio como um projeto de descolonização, emancipação e de conscientização do protagonismo da população negra em suas próprias vidas. O aprendizado, nesse contexto, não se baseia na racionalização e na lógica, conceitos operadores das conservas coloniais e de uma racionalidade cartesiana, mas no conhecimento a partir da experiência e da vivência durante a prática psicodramática.

A partir de seu ingresso no Teatro Experimental do Negro (TEN) e do início de suas publicações no jornal “Quilombo”, Guerreiro Ramos se consolidou como uma voz ativa na luta antirracista, questionando o pensamento dominante da época. Com essas experiências, começaram as suas reflexões sobre grupoterapia e sobre como o TEN poderia possibilitar, por meio da ação dramática, o enfrentamento dos traumas raciais provocados nas pessoas pretas. A metodologia adotada por ele deu início, então, ao Psicodrama Brasileiro, que estava ligado diretamente às questões raciais e sociais, compreendendo um método que vai além de uma simples técnica, tornando a prática psicodramática brasileira singular neste aspecto.

Imagem: Ace Spencer por Pixabay

Desse modo, a importância de resgatar as obras e estudos de Guerreiro Ramos está na base de fundamentos teóricos e práticos deixada por ele, para a construção e desenvolvimento de um Psicodrama antirracista. Para ele, essa é uma ferramenta de desconstrução das estruturas culturais racistas e, por isso, continua importante no cenário atual. É por essa razão, também, que a Revista Brasileira de Psicodrama vai publicar o Dossiê Temático Práticas Antirracistas em Processos Grupais, apostando nas forças intempestivas que a influência de Guerreiro Ramos tem não somente nas práticas psicodramáticas, mas nos trabalhos com grupos no cenário brasileiro e além. O dossiê terá a abertura das inscrições de textos no começo de abril.

O Editorial de Daniel Russell Oliveira é, portanto, um convite aos profissionais do Psicodrama e grupalistas a serem agentes ativos na luta antirracista, por meio da autoavaliação e da adoção de atitudes cotidianas que impeçam a reprodução das conservas racistas, especialmente no espaço terapêutico.

Para ler o artigo, acesse

OLIVEIRA, D.R. Psicodrama Brasileiro e a Luta Antirracista: O Legado de Alberto Guerreiro Ramos. Revista Brasileira de Psicodrama [online]. 2025, vol. 33, e0425 [viewed 17 April 2025]. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v33.696. Available from: https://www.scielo.br/j/psicodrama/a/cCk8mXgNwCs7FQjwzzLNMwd/

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