Epistemologias do fracasso e a desobediência à produtividade acadêmica

Ana Luiza Silva Oliveira, Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.

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Conforme a lógica neoliberal, a busca pelo sucesso configura-se como um imperativo a ser seguido incansavelmente em uma empreitada individual. Assim, contemplar os próprios fracassos pode parecer contraintuitivo. No sentido de questionar essa normativa, que no Psicodrama pode ser considerada uma conserva colonial, Laura de Souza Zingra Vomero e Maria Célia Malaquias elaboraram o artigo Desobediência neoliberal: um relato de fracasso, publicado na Revista Brasileira de Psicodrama (vol. 33, 2025), no qual refletem sobre experiências da díade orientadora-orientanda em um processo de pesquisa acadêmica cujo desfecho se insere na contramão do que é comumente esperado dentro de um cenário de supervalorização da produtividade.

Diante do desafio de redigir e orientar uma monografia de conclusão de curso em Psicodrama, são narradas as histórias de uma das autoras e de suas orientandas, personagens que são confrontadas por dilemas como a dissolução de planos através de imprevistos, produtividade acadêmica versus saúde mental, questionamento das relações de poder e a diferenciação entre culpa e responsabilidade. Nesse sentido, as reflexões construídas fogem de hierarquias e linearidades, adquirindo o caráter circular que, segundo as autoras, também caracteriza a vida.

 

 

As autoras ressaltam que, ao assumir o fracasso como experiência legítima, é possível construir epistemologias alternativas que se afastam da lógica neoliberal do sucesso. Essa perspectiva ganha ainda mais relevância quando se consideram corpos e trajetórias marginalizados, frequentemente atravessados por expectativas de desempenho que não dialogam com suas realidades. Assim, o fracasso deixa de ser sinônimo de derrota individual para se tornar um espaço de resistência e criação de novos modos de existir.

A análise evidencia que, ao invés de aprisionar sujeitos em métricas de produtividade e resultados, o Psicodrama pode se constituir como prática de acolhimento, cuidado e escuta. A experiência narrada no artigo aponta caminhos para repensar a formação acadêmica, valorizando percursos singulares, afetos e a potência da diferença. Trata-se, portanto, de um convite para desestabilizar conservas coloniais que limitam a diversidade e a complexidade da vida acadêmica e social.

Ao reconfigurar o fracasso como território fértil para o aprendizado e para a emancipação, o estudo amplia o debate sobre o papel das instituições formativas e sobre as relações entre orientadoras/es e orientandas/es/os. Mais do que propor um método, as autoras abrem espaço para uma ética da desobediência, onde cuidado, sensibilidade e inclusão se tornam princípios centrais da prática psicodramática e da vida acadêmica.

Para ler o artigo, acesse

VOMERO, L.S.Z. and MALAQUIAS, M.C. Desobediência neoliberal: um relato de fracasso. Revista Brasileira de Psicodrama [online]. 2025, vol. 33, e1325 [viewed 01 October 2025]. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v33.682. Available from: https://www.scielo.br/j/psicodrama/a/b6PjqmfPwNKCtY89mHmgtHH/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

OLIVEIRA, A.L.S. Epistemologias do fracasso e a desobediência à produtividade acadêmica [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/10/01/epistemologias-do-fracasso-e-a-desobediencia-a-produtividade-academica/

 

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