Theo Machado Fellows, Professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, Brasil.
O artigo Sobre a possibilidade de uma filosofia amazônica, publicado pelo periódico Trans/Form/Ação (vol. 48, No. 6, 2025), nasce da necessidade de debater a inclusão de formas de pensamento não ocidentais, neste caso, os saberes tradicionais da Amazônia, na pesquisa filosófica brasileira. Dada a escassez de discussões sobre o pensamento indígena em nosso universo filosófico, procuramos avaliar as possíveis abordagens para um diálogo com estes saberes, cuja tarefa de sistematização tem sido cada vez mais assumida por pesquisadores indígenas, especialmente na região Norte do Brasil.
Para isto, propomos uma reflexão sobre o modelo etnofilosófico, objeto de intensos debates na filosofia africana desde a metade do século XX e presente, mesmo que de forma velada, em algumas abordagens brasileiras sobre o pensamento não ocidental. Apontamos os problemas desta abordagem, que, ao defender uma valorização das formas não ocidentais de pensamento, acaba por promover, por um lado, uma vulgarização da palavra filosofia, como sugere Paulin Hountondji, e, do outro, a subsunção forçada de formas singulares de pensamento no campo filosófico, como nos mostra Bruno Latour.
Como alternativa ao modelo etnofilosófico, apoiamo-nos no perspectivismo ameríndio do antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro. Este modelo de compreensão das formas de pensamento dos povos originários do Brasil identifica uma ontologia multinaturalista que reconhece a subjetividade de entes não humanos: animais, humanos e espíritos são vistos como indivíduos dotados de uma epistemologia comum, que produz, contudo, ontologias variáveis.

Imagem: Feliciano Lana.
Entendemos que o perspectivismo identificado por Viveiros de Castro se distingue das abordagens etnofilosóficas observadas em autores como Placide Tempels por conta do intenso trabalho de observação e escuta dos saberes ancestrais realizado pelo antropólogo brasileiro. Contudo, a aplicação do perspectivismo ameríndio para a formulação de uma filosofia amazônica só pode ser justificada através de leituras e reflexões feitas a partir de autores indígenas.
A última parte do artigo propõe, portanto, uma aproximação filosófica com a obra de dois antropólogos indígenas e suas exposições do pensamento do povo Yepamahsã, também conhecidos como Tukano, da região amazônica do Alto Rio Negro. Nos trabalhos de João Paulo Barreto e Gabriel Maia, encontramos a sistematização de um pensamento Yepamahsã em torno do tripé conceitual formado pelo tripé formado pelos kihti ukuse, os bahsese e os bahsamori.
Nosso intuito é mostrar como estes conceitos e práticas do pensamento Yepamahsã oferecem novos instrumentos para a pesquisa filosófica, excluindo a necessidade de associá-los às subáreas consolidadas da filosofia ocidental. Nos pensamentos indígenas, encontramos novas cartografias do saber, que podem servir de auxílio na tarefa de decolonização da filosofia amazônica e brasileira.
Para ler o artigo, acesse
FELLOWS, T. M. Sobre a possibilidade de uma filosofia amazônica. Trans/Form/Ação [online]. vol. 48, no. 6, p. 1-17 [viewed 03 December 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2025.v48.n6.e025153. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/ywsnVqTx9x8jMw4GczGrPpr/
Referências
BARRETO, J. P. O mundo em mim: uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro. Brasília: Mil Folhas, 2022.
BARRETO, J. P. et al. Omerõ. Constituição e circulação dos conhecimentos Yepamahsã (Tukano). Manaus: EDUA, 2018.
HOUNTONDJI, P. Sobre a “filosofia africana”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2024.
MAIA, G. S. Bahsamori: o tempo, as estações e as etiquetas sociais dos Yepamahsã (Tukano). Manaus: EDUA, 2018.
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Sobre Theo Machado Fellows
É doutor em filosofia pela Technische Universität Berlin, na Alemanha, e professor associado do departamento e do Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Amazonas.
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