O que pensam e aprendem as crianças são alguns dos temas do número 249 da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos

Elaine de Almeida Cabral, Editoria Executiva da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP), Brasília, DF, Brasil

O número 249 da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP) apresenta 15 textos, que trazem discussões sobre metodologias de ensino e processos pedagógicos, formação inicial e continuada de professores, políticas e programas educacionais e qualidade dos materiais de formação fornecidos a professores e estudantes, além de reflexões relativas à história e à teoria da educação. Reflexões tais que pretendem proporcionar ao leitor uma percepção atualizada sobre o cenário educacional, sem desconsiderar os processos históricos ligados ao campo da educação.

As crianças demonstram possuir uma noção mais clara da relação entre os âmbitos afetivo-emocional, cognitivo e sociointeracional que os adultos, que tendem a tratar a afetividade e a cognição enquanto instâncias distintas da psique e a fragmentar o ser humano em facetas que pouco interagem entre si. O artigo “Dando voz às crianças: percepções acerca do papel da dimensão afetiva na atividade pedagógica”, de Helga Loos Sant’Ana e Priscila Mossato Rodrigues Barbosa, baseou-se nas representações de crianças sobre a interação entre aluno e professor. Observou-se que, para os alunos, características e atitudes do professor, como atenção com as crianças, conversa, ajuda, afeto, carinho, estima e proximidade refletem no desejo de aprender dos alunos, e que o bom desempenho destes impacta no desejo de ensinar do professor.

O estudo, de caráter exploratório e qualitativo, foi realizado com 12 crianças do 5º ano do ensino fundamental de uma escola municipal de Curitiba (PR). Foram utilizados como instrumentos: desenhos com histórias, produzidos pelos alunos; histórias inacabadas, a serem completadas por eles; e entrevista semiestruturada. No estudo, as autoras resgatam as contribuições de Henri Wallon (1879-1962), Lev Vigotsky (1896-1934) e Jean Piaget (1896-1980) sobre o papel da afetividade nos processos de desenvolvimento e aprendizagem.

O que diferentes grupos têm em comum em relação a dificuldades de aprendizagem matemática? O que as crianças podem aprender com o estudo de frações e como essa aprendizagem ocorre? Esses são questionamentos do artigo “The comprehension of numerical relationships in the learning of fractions: a comparative study with Brazilian and Portuguese children”, de Isabel Cristina Peregrina Vasconcelos, Ema Paula Botelho da Costa Mamede e Beatriz Vargas Dorneles. O estudo, que reuniu pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade do Minho, em Portugal, buscou investigar a compreensão dos estudantes a respeito da relação inversa entre numerador e denominador na aprendizagem de frações, fundamental para a assimilação das noções de quantidades e equivalência. Os resultados demonstraram que os estudantes têm mais dificuldades para compreender a inversão entre numerador e denominador ao lidarem com situações parte-todo do que ao lidarem com situações quociente. O estudo também demonstrou que os estudantes apresentam melhor desempenho na resolução de problemas de ordenação de frações do que naqueles de equivalência.

A pesquisa foi realizada com 90 estudantes brasileiros e 73 portugueses do 5º ano do ensino fundamental, com idades entre nove e dez anos, todos de escolas públicas e com nível de conhecimento similar em relação a números e operações. Para a coleta de informações, foram aplicados junto aos alunos questionários contendo 16 problemas com frações e modelos visuais para apoiar as situações-problema.

Fato relevante é que, em ambas as situações, os estudantes portugueses se saíram melhor do que os brasileiros na resolução de problemas com frações. Isso pode ser explicado, em parte, pelo fato de o Programa de Matemática para a Educação Básica de Portugal incluir o estudo de números racionais desde o primeiro ciclo da escolarização, enquanto no Brasil tal conteúdo está previsto apenas para o segundo ciclo do ensino fundamental, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais. Tal perspectiva corrobora com estudos de Hecht (1998), para quem a habilidade com frações está relacionada ao seu exercício constante em sala de aula.

Inspiradas nos estudos de Stafylidou e Vosniadou (2004) e Behr et al. (1984), as autoras buscaram explorar a aprendizagem de frações para a compreensão de conceitos matemáticos, considerando que as dificuldades dos alunos não se apresentam apenas ao longo da educação básica, mas se estendem para estudantes da educação superior.

Com os demais textos deste número, a RBEP convida estudantes, professores, pesquisadores e gestores a repensarem as práticas em sala de aula e a analisarem a educação brasileira no contexto internacional, de forma a identificar os desafios para a melhoria da qualidade da aprendizagem dos nossos estudantes.

Referências

BEHR, M. J. et al. Order and equivalence of rational numbers: a clinical teaching experiment. Journal for Research in Mathematics Education, Reston. 1984, v. 15, n. 5, p. 323-341.

HECHT, S. A. Toward an information-processing account of individual differences in fraction skills. Journal of Educational Psychology. 1998, v. 90, n. 3, p. 545-559.

STAFYLIDOU, S.; VOSNIADOU, S. The development of students’ understanding of the numerical value of fractions. Learning and Instruction, Oxford. 2004, v. 14, p. 503-518.

Para ler os artigos, acesse

Rev. Bras. Estud. Pedagog. vol.98 no.249 Brasília May/Aug. 2017

Link externo

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – RBEPED: www.scielo.br/rbeped

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

CABRAL, E. A. O que pensam e aprendem as crianças são alguns dos temas do número 249 da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2017 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/11/16/o-que-pensam-e-aprendem-as-criancas-sao-alguns-dos-temas-do-numero-249-da-revista-brasileira-de-estudos-pedagogicos/

 

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