Ana Carolina dos Santos Bortolini, Doutoranda em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.
O artigo “Morar-trabalhar e a axiomatização capitalista: um estudo baseado em mídia do segmento de arquitetura, decoração e design” escrito por pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e publicado no periódico Cadernos EBAPE.BR (vol. 18, no. 1) apresenta o “morar-trabalhar” como um axioma da axiomatização capitalista (DELEUZE; GUATTARI, 2004; HUR, 2015). O estudo mostra como a axiomatização capitalista, associada à noção de trabalho imaterial (LAZZARATO; NEGRI, 2001), interfere no lar – espaço por excelência da privacidade e da intimidade.
Metodologicamente, considerou-se a afluência e a influência da mídia na produção de sentidos, o que se evidencia por textos e/ou imagens, relativos ao que é pensado, falado, sentido, praticado a respeito de um tema (THOMPSON, 2005). Sobretudo porque os “[…] axiomas do capitalismo não são evidentemente proposições teóricas, nem fórmulas ideológicas, mas enunciados operatórios […] que entram como partes componentes nos agenciamentos de produção, de circulação e de consumo” (DELEUZE; GUATTARI, 2004, p. 163). Optou-se, assim, pela revista Casa Cláudia considerando-se seu conteúdo (produção), abrangência nacional (circulação) e alcance em número de leitores (recepção). A coleta de dados deu-se com a busca extensiva a acervos particulares, bibliotecas, revistarias e sebos, que recolheu 120 edições impressas da revista – de julho de 2006 a junho de 2016.
Da análise empreendida resultou a identificação de dois eixos de análise: (i) (com)posição do tema na revista; e (ii) (re)funcionalização, rentabilização e naturalização do lar para o trabalho.
Ao associar a axiomatização capitalista ao trabalho imaterial, a análise dos eixos permitiu identificar o “morar-trabalhar” como um axioma da axiomatização capitalista que avança, sem constrangimentos, sobre os menores e mais inusitados espaços da vida íntima, modulando modos de viver, trabalhar, habitar, atinentes ao avanço sem limites do capital/trabalho.
Novas formas de produzir e trabalhar – teletrabalho, trabalho em rede, trabalho por projeto, trabalho por demanda – transcendem limites tradicionais de espaço e tempo, (re)desenham a vida cotidiana e ilustram que o dentro e o fora já não se diferenciam. Em uma captura estimulada, disseminada e dissimulada – a axiomatização capitalista tem no “morar-trabalhar” um axioma que se estende e avança sobre o lar, espaço por excelência da privacidade e da intimidade.
Referências
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O anti-édipo: capitalismo e esquizofrenia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004.
HUR, D.U. Axiomática do capital e instituições: abstratas, concretas e imateriais. Revista Polis e Psique [online]. 2015, vol. 5, no. 3, pp. 156-178. e-ISSN: 2238-152X [viewed 29 April 2020]. DOI: 10.22456/2238-152X.58450. Avaliable from: https://seer.ufrgs.br/PolisePsique/article/view/58450
LAZZARATO, M.; NEGRI, A. Trabalho imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2001.
THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2005.
Para ler o artigo, acesse
BORTOLINI, A. C. dos S.; GRISCI, C. L. I. and COSTA, A. E. da. Living-working and the axiomatic of capitalism: a study based on media outlets in the architecture, decoration, and design segments. Cad. EBAPE.BR [online]. 2020, vol. 18, no. 1, pp.142-157, ISSN 1679-3951 [viewed 8 May 2020]. DOI: 10.1590/1679-395174603x. Available from: http://ref.scielo.org/9fvbf3
Links externos
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