Cristiane Miglioranza, Jornalista, assistente editorial do periódico Horizontes Antropológicos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
Horizontes Antropológicos (vol. 26, no. 58), em dossiê temático organizado por João Pacheco de Oliveira (Museu Nacional/UFRJ) e Pablo Quintero (UFRGS), propõem o cruzamento entre uma modalidade de fazer antropológico, referida sinteticamente como “antropologia histórica”, e os povos indígenas como sujeitos políticos portadores de direitos e de protagonismo.
No artigo de apresentação “Para uma antropologia histórica dos povos indígenas: reflexões críticas e perspectivas”, Pacheco de Oliveira e Quintero problematizam as práticas decorrentes do que o antropólogo haitiano Michel-Rolph Trouillot (1991) chamou de “lugar do selvagem” (savage slot) e apontam para novas abordagens. “Não é mais possível que pesquisas contemporâneas continuem sistematicamente a tratar os povos indígenas como sociedades estáticas, cujos únicos instrumentos para a compreensão e revalorização são a exotização das diferenças (BENSA, 2015), a relativização das culturas e a negação da coetaneidade entre pesquisador e pesquisado (FABIAN, 2013)”, destacam. “Antropologia e história constituem exercícios voltados para uma profunda compreensão do Outro. Ou seja, de uma forma de existência social bem distinta daquela do narrador e de seu público, seja em termos geográficos ou cronológicos”, explicam (p. 8).
Pacheco de Oliveira e Quintero sinalizam o amplo esforço de superação baseado no exame concreto das práticas de pesquisa, nos seus produtos e implicações. “A antropologia histórica, tal como pensada por diversas/os autoras/es, configura-se como um campo de estudos aberto a novos temas, métodos de investigação e protocolos de conhecimento. No caso específico dos povos indígenas, tal abordagem pretende contribuir para a visibilização e o protagonismo desses povos como atores políticos e sociais dentro de situações históricas específicas, em um movimento analítico no qual a consideração da cultura não implica o abandono da historicidade nem a omissão da reflexividade. Um modo de pesquisa sobre — e com! — os povos indígenas”, enfatizam (p. 16).
Além de apresentar 11 artigos temáticos, o número 58 traz mais quatro na seção Espaço Aberto, dedicada à publicação de pesquisas de excelência não relacionadas ao tema da edição. Três deles apresentam etnografias de experiências da Pandemia na América Latina e Europa. O quarto aborda a trajetória e ascensão política do setor evangélico alinhado ao conservadorismo de direita no Brasil.
Referências
BENSA, A. Después de Lévi-Strauss: por una antropología a escala humana. México: Fondo de Cultura Económica, 2015.
FABIAN, J. O tempo e o outro: como a antropologia estabelece seu objeto. Petrópolis: Vozes, 2013.
TROUILLOT, M. R. Anthropology and the savage slot: the poetics and politics of the otherness. In: FOX, R. (ed.). Recapturing anthropology: working in the present. Santa Fe: School of American Research, 1991. p. 17-44.
Para ler os artigos, acesse
PACHECO DE OLIVEIRA, J. et al. Para uma antropologia histórica dos povos indígenas: reflexões críticas e perspectivas. Horiz. antropol. [online]. 2020, vol. 26, no. 58, pp. 7-31. ISSN: 1806-9983 [viewed 05 January 2021]. https://doi.org/10.1590/s0104-71832020000300001. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832020000300007&lng=pt&nrm=iso
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