O que se entende por terceiro estágio da revolução digital dos periódicos?

Por Eduardo Diniz, Editor-chefe Revista de Administração de Empresas – RAE, São Paulo, SP, Brasil

rae_logoA Revista de Administração de Empresas (RAE) publica em francês na edição de março/abril de 2015, pela primeira vez em sua história. Já vínhamos desde 2009 promovendo o espanhol como uma das nossas línguas de publicação, junto com o português e o inglês, mas temos ainda restrição de custos para incluir novas línguas, como o francês. Entretanto, abrimos uma exceção e consideramos o argumento dos organizadores do Fórum “Challenging Anglo-Saxon Dominance in Management and Organizational Knowledge”, publicado nesta edição especial, cientes da contribuição do debate em língua francesa sobre esse tema.

Soma-se, portanto, mais um ponto ao esforço que a RAE tem feito para a valorização do multiculturalismo na publicação científica. Aceitamos o risco de incluir o francês nesta edição, ainda que excepcionalmente, por estarmos antecipando o que entendemos ser o terceiro estágio da revolução digital dos periódicos científicos.

No seu primeiro estágio, essa revolução já promoveu grandes mudanças no mundo da publicação científica ao elevar o impacto dos periódicos considerados “não elite” (sobre esse tema, ver o artigo “Rise of the rest: the growing impact of non-elite journals”, publicado em 9 de outubro de 2014, na arXiv, por Acharya et al.)1 e colocar no centro do debate acadêmico a questão do acesso aberto (vale ler o editorial da tradicional Science, de 19 de setembro de 2014, sobre a motivação para criar a sua versão aberta).

Um segundo estágio está ainda em seu início. A facilidade de se reproduzirem cópias digitais mudou as práticas dos pesquisadores e também dos periódicos, incentivando um aprofundamento na discussão sobre plágio (e autoplágio) e a integridade da produção (interessante artigo sobre o tema “Not all plagiarism requires a retraction”2,3 de Praveen Chaddah, publicado na Nature em 9 de julho de 2014). A RAE, sintonizada com o estado da arte no setor, recém implantou um sistema antiplágio, assunto que comentaremos com mais detalhes futuramente.

As ferramentas de tradução podem representar o início de um terceiro estágio da revolução digital no universo dos periódicos acadêmicos. Esse terceiro estágio ainda é embrionário e pouco perceptível. De fato, há muitas dúvidas sobre a eficácia das traduções automáticas, mas é notável a evolução dessas ferramentas nos últimos anos. Se não estamos no ponto em que essas traduções possam ser consideradas confiáveis, não é difícil antecipar um tempo em que teremos acesso ao que pensam os que não falam a mesma língua que nós, sem necessariamente termos de usar o atalho comum do inglês.

Àqueles que acreditam que corremos o risco de ficar “invisíveis” ao aderirmos – ainda que eventualmente – a uma língua que não o inglês, com a velocidade de evolução dessas ferramentas, não seria absurdo pensar que, em mais alguns anos, teremos tradução de alta qualidade disponível a custo baixo. E, quando isso acontecer, a incorporação de ferramentas de tradução automática tornar-se-á essencial ao ambiente digital dos periódicos científicos.

Enquanto não atingimos esse patamar de eficiência na tradução automática, temos que considerar as questões de custo, entre outras, para lidar com um ambiente multilingual. Por isso, continuaremos limitados às nossas atuais três línguas. Quiçá, num futuro não tão distante, consigamos ampliar o leque de línguas e culturas nas quais temas emergentes de gestão possam ser debatidos com desenvoltura e propriedade e, muito importante, sem perda na qualidade da compreensão.

Notas:

1ACHARYA, A., et al. Rise of the rest: the growing impact of non-elite journals. arXiv:1410.2217v1 [cs.DL],  8 Oct 2014. [viewed March 31th 2015]. Available from: http://arxiv.org/pdf/1410.2217v1.pdf

2CHADDAH, P. Not all plagiarism requires a retraction. Nature. 2013, vol. 511, n ° 7508. [viewed March 31th 2015]. Available from: http://www.nature.com/news/not-all-plagiarism-requires-a-retraction-1.15517.

3Ethical publishing – should plagiarized pieces be retracted ? – well, perhaps not all. SciELO in Perspective. [viewed March 31th 2015]. Available from: http://blog.scielo.org/en/2014/08/13/ethical-publishing-should-plagiarized-pieces-be-retracted-well-perhaps-not-all/

Para ler os artigos, acesse:

Diniz, E. TRADUÇÃO AUTOMÁTICA, TERCEIRO ESTÁGIO DA REVOLUÇÃO DIGITAL DOS PERIÓDICOS. Rev. adm. empres. [online]. 2015, vol. 55, n° 2, pp. 119-119. [viewed March 31th 2015]. ISSN 0034-7590. DOI: 10.1590/S0034-759020150201. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902015000200119&lng=pt&nrm=iso

TAUPIN, B. L’APPORT DE LA SOCIOLOGIE PRAGMATIQUE FRANÇAISE AUX ÉTUDES CRITIQUES EN MANAGEMENT. Rev. adm. empres. [online]. 2015, vol. 55, n° 2, pp. 162-174. [viewed March 31th 2015]. ISSN 0034-7590. DOI: 10.1590/S0034-759020150206. Available from:  http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902015000200162&lng=pt&nrm=iso

CHANLAT, J.F. LE CHAMP DES ÉTUDES ORGANISATIONNELLES: LE REGARD CRITIQUE D’UN CHERCHEUR PLURILINGUE. Rev. adm. empres. [online]. 2015, vol. 55, n° 2, pp. 226-230. [viewed March 31th 2015]. ISSN 0034-7590. DOI: 10.1590/S0034-759020150212. Available from:  http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902015000200226&lng=pt&nrm=iso

Link externo:

Revista de Administração de Empresas – http://www.scielo.br/rae

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

O que se entende por terceiro estágio da revolução digital dos periódicos? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2015 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2015/04/20/o-que-se-entende-por-terceiro-estagio-da-revolucao-digital-dos-periodicos/

 

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