Andréa Cerqueira Souza é especialista em marketing, atua com comunicação e marketing científico em publicações da Fundação Getulio Vargas, São Paulo, SP, Brasil
Autor do artigo “Os periódicos brasileiros da área de Administração no contexto de internacionalização da produção científica”, o professor Eduardo Diniz, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), aproveita sua experiência como editor-chefe da RAE-Revista de Administração de Empresas entre 2009 e 2015, para refletir sobre o panorama da gestão do processo editorial científico, as estratégias de internacionalização, os mecanismos de divulgação científica e a necessidade de uma política de internacionalização para periódicos do Brasil.
Segundo o professor, a internacionalização dos periódicos já é uma realidade, pois internacionalizar um periódico não se trata de um projeto isolado, pelo contrário, faz parte do contexto da produção acadêmica na qual disseminar os resultados das pesquisas é apenas uma das características. Nesse sentido, quando pesquisadores brasileiros publicam artigos em periódicos estrangeiros, eles já estão inseridos no contexto de internacionalização. Embora já estejam inseridos nesse contexto, os periódicos científicos do Brasil precisam mudar para não serem preteridos pelos periódicos estrangeiros, afirma Diniz.
O primeiro desafio encontra-se no atual modelo brasileiro de incentivo para a internacionalização que, segundo o professor, prestigia os periódicos internacionais em detrimento dos nacionais. Para serem competitivos, Diniz destaca que é imprescindível compreender bem as etapas do processo editorial com o objetivo de elaborar estratégias eficientes de internacionalização: a certificação, gestão editorial e pós-publicação. Tais etapas precisam estar claras para toda a comunidade acadêmica. A primeira delas, a certificação, tem como objetivo principal garantir a qualidade dos artigos. Segundo o autor, é preciso tomar cuidado para não confundir o processo de certificação com todo o processo editorial, pois tal erro induz a equívocos no planejamento de políticas de internacionalização dos periódicos. A segunda etapa, chamada de gestão editorial, requer um trabalho profissionalizado para gerar maior eficiência e qualidade na apresentação do artigo. Como consequência de uma boa gestão editorial, tem-se a valorização do periódico, o que contribui diretamente para sua internacionalização. Diniz defende que, devido a sua importância, esse é um trabalho que não deveria ser realizado de forma voluntária ou amadora, antes, deve ser priorizada a profissionalização do processo. A terceira e última etapa, a pós-publicação, compreende ações de divulgação para aumentar a visibilidade dos artigos publicados e requer o monitoramento quantitativo e qualitativo de vários indicadores, como acesso e citação, por exemplo. Diniz afirma que a ausência de um trabalho sistemático de pós-publicação compromete os esforços feitos nas etapas anteriores.
Olavarrieta (2016) afirma que a pesquisa na área de Administração está evoluindo na América Latina devido a grandes mudanças estruturais, dentre elas, o aumento da pressão e concorrência entre as escolas de negócios latino-americanas, regulamentos de acreditações internacionais e aumento de subsídios para pesquisas. No entanto, investir na profissionalização, qualidade e divulgação dos periódicos implica em custos elevados, a questão é, quem paga a conta? Se de um lado estão as editoras tradicionais incentivando a ideia do leitor pagar, do outro está o acesso aberto, que garante a gratuidade ao leitor e prevê a possibilidade de o autor pagar pelos custos de publicação. É importante observar que grande parte dos periódicos nacionais são mantidos por instituições de ensino superior privadas ou públicas e, como não há retorno financeiro direto, o investimento nos periódicos em geral não garantem o avanço no nível de qualidade e competitividade. Tonelli (2016) lembra que a questão da qualidade não é responsabilidade apenas dos periódicos, mas também da relação dos programas de pós-graduação com os órgãos que avaliam os periódicos e, ainda, da articulação entre vários atores sociais, como professores, alunos, editores, coordenadores de programa e congressos acadêmicos.
Independentemente da discussão de quem deve pagar, os periódicos nacionais precisam se profissionalizar. Diniz (2015) alerta para a questão da estrutura de publicação que temos à disposição dos periódicos científicos. Segundo o professor, essa estrutura geralmente é precária e amadora, ainda que muitas vezes heroica, na concorrência com multinacionais poderosas e muito mais bem estruturadas.
Neste vídeo, Eduardo Diniz fala um pouco mais sobre o contexto de internacionalização dos periódicos do Brasil.
Referências
DINIZ, E. Em busca de alternativas para fortalecer os periódicos [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2015 [viewed 21 August 2017]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2015/08/27/em-busca-de-alternativas-para-fortalecer-os-periodicos/
TONELLI, M. J. RAE debate qualidade de pesquisas científicas e periódicos acadêmicos [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2016 [viewed 21 August 2017]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2016/09/16/rae-debate-qualidade-de-pesquisas-cientificas-e-periodicos-academicos/
Para ler os artigos, acesse
DINIZ, E. H. Periódicos brasileiros da área de administração no contexto de internacionalização da produção científica. Rev. adm. empres. [online]. 2017, vol.57, n.4, pp.357-364. [viewed 29 August 2017]. ISSN 0034-7590. DOI: 10.1590/s0034-759020170406. Available from: http://ref.scielo.org/6t2pcf
OLAVARRIETA, S.. USING EXPERT JUDGMENTS TO RANK 45 LATIN AMERICAN BUSINESS JOURNALS. Rev. adm. empres. [online]. 2016, vol.56, n.3, pp.302-314. [Viewed 21 August 2017]. ISSN 0034-7590. DOI: 10.1590/S0034-759020160304. Available from: http://ref.scielo.org/nvw3hh
Sobre Andréa Cerqueira Souza
Publicitária (Claretiano Faculdade) e especialista em marketing (FGV), atua com comunicação e marketing científico em publicações da Fundação Getulio Vargas. E-mail: andrea.csouza@fgv.br
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