Danilo Moreira Xavier, Mestrando no Programa de Estudos Culturais (EACH-USP), pesquisador na área das artes visuais, São Paulo, SP, Brasil
A montagem de cinco instalações do Bloco-experiências in cosmococa: programa in progress, de autoria de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, em exposição permanente no Instituto Inhotim (MG), é tema do artigo publicado na ARS 30, “Legal no ilegal: as Cosmococas, a Subterrânia e os jardins do Museu” e também da apresentação que Maria Angélica Melendi fez no Seminário Internacional Hélio Oiticica. Aproveitamos a presença da pesquisadora em São Paulo para uma breve entrevista para a Semana Especial da ARS no Blog SciELO.
Maria Angélica Melendi revisita o trabalho de Oiticica com a finalidade de escrever uma análise crítica das montagens atuais. A autora põe em xeque a montagem na Galeria Cosmococas, em Inhotim, ressaltando a impossibilidade de restituição atual dos sentidos originais das Cosmococas, uma obra, segundo Melendi, intrincadamente aderida ao tempo e espaço em que foi elaborada: o contexto underground de Nova York, nos anos 1970, momento em que Oiticica se “autoexilou” na cidade, buscando alternativas ao conservadorismo e ao autoritarismo da ditadura militar brasileira.
A pesquisadora lembra que as Cosmococas nunca foram montadas em situação de exposição pública enquanto Oiticica estava vivo. Porém, sabe-se de algumas montagens particulares no seu loft em Manhattan, época em Oiticica se aproximou da produção de Jack Smith, acontecimento que narra em uma das cartas trocadas com Lygia Clark, afirmando que o apartamento de Smith servia de set de filmagem e era um “labirinto de coisas inacreditáveis, que parecem filmes, e tudo o que acontece é como se estivesse acontecendo num tempo de filme” (FIGUEIREDO, 1996, p. 204). Inegável que as projeções de slides com trilha sonora de Smith marcam profundamente Hélio, sendo uma referência de seus “quasi-cinemas”.
Melendi enfatiza que, mesmo nos anos 1970, a probabilidade de exposição pública das Cosmococas já era remota, considerando as reações que o tema das drogas sempre provocou no cenário das artes, embora Oiticica tenha redigido instruções para que fossem montadas num espaço público (PROJETO HÉLIO OITICICA, 1996). Em Inhotim e em mostras recentes, a obra incorpora sentidos outros que se desviam das proposições de Hélio. Fotografias que aparecem em publicações sobre as Cosmococas mostram um público comedido e satisfeito, em situações de contemplação, relaxamento ou interação discreta.
A pesquisadora ressalta que Cosmococas é uma das maiores atrações de Inhotim e, apesar de existir no local um texto de parede explicativo, “este é lido sem maiores reflexões e os visitantes não hesitam em seguir as instruções de tirar os sapatos e rapidamente mergulham no hall escuro em direção às Cosmococas. Em cada uma delas, os participadores, muitos dos quais crianças ou adolescentes, agem freneticamente, às vezes impulsados por seus pais, às vezes por conta própria”(MELENDI, 2017, p. 154). Melendi pergunta: “quando as Cosmococas se transformaram num playground e por quê?”(MELENDI, 2017, p. 155). Essa e outras questões são tratadas no artigo publicado no Dossiê Hélio Oiticica (ARS 30).
Referências
FIGUEIREDO, L. (Org). Lygia Clark – Hélio Oiticica: cartas 1964-74. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996.
PROJETO HÉLIO OITICICA. Hélio Oiticica. Paris/ Rio de Janeiro/ Rotterdam: Jeu de Paume/ Projeto Hélio Oiticica/ Witte de With, 1996.
Para ler o artigo, acesse
MELENDI, M. A. Legal no ilegal: as Cosmococas, a Subterrânia e os jardins do Museu. ARS (São Paulo) [online]. 2017, vol.15, n.30, pp.149-160. [viewed 23 November 2017]. ISSN 1678-5320. DOI: 10.11606/issn.2178-0447.ars.2017.138503. Available from: http://ref.scielo.org/6yvptk.
Link externo
ARS (São Paulo) – ARS: www.scielo.br/ars
Sobre Danilo Moreira Xavier
Danilo Moreira Xavier, bacharel em Artes Visuais com ênfase em História, Teoria e Crítica da Arte na Universidade Federal do Rio Grande. É mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais na área de Crítica da Cultura (Artes e Literatura) na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Tem interesse em arte contemporânea e a produção dos anos 80. São Paulo – SP, Brasil. Email: danilo.xavier@live.com
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