Danilo Moreira Xavier, Mestrando no Programa de Estudos Culturais (EACH-USP), pesquisador na área das artes visuais, São Paulo, SP, Brasil
Silviano Santiago é romancista, crítico literário e professor. O periódico ARS publicou, neste ano, dois ensaios seus: “Os astros ditam o futuro. A história impõe o presente (Artaud vs. Cárdenas)”, que saiu na ARS 29, e “Hélio Oiticica em Manhattan”, um perfil especialmente elaborado para o Dossiê Hélio Oiticica (ARS 30).
Além da participação no Seminário Internacional Hélio Oiticica e no lançamento do Dossiê Hélio Oiticica (ARS 30), Silviano Santiago esteve no Instituto de Estudos Avançados da USP, em 24 de outubro de 2017, para falar sobre o livro Machado, publicado pela Companhia das Letras em 2016 e ganhador do 59.o Prêmio Jabuti 2017, na categoria Romance. O evento foi coordenado pela professora Dária Jaremtchuk (EACH, ECA e IEA), editora do periódico ARS e organizadora do Dossiê Hélio Oiticica, e contou também com a participação do professor Adriano Schwartz (EACH).
Santiago afirmou, no encontro, que tentou inserir o romance Machado numa categoria que faria sentido aos “anos felizes”, aos quais prefere chamar “anos de sobrevivência” (SANTIAGO, 2016). A sobrevivência aparece como uma categoria poética presente também em outros romances publicados como Cheiro forte (1995), De cócoras (1999) e Mil rosas roubadas (2014). Para que o leitor compreenda-a nos romances é necessário, segundo ele, atentar-se a uma “arquitetura secreta” nos seus livros, tomando emprestado o termo de Baudelaire em Flores do Mal.
Essa arquitetura secreta que estrutura o romance e costura a poética da sobrevivência, aparece em Machado por meio de sua inclusão como protagonista, combinando a velhice em ambos os autores. “Combinação”: palavra utilizada por Santiago ao evidenciar as costuras realizadas nas escritas dos seus romances pela similaridade de autor e personagens que surgem. Um “acaso” presente em “encontros desencontrados” que constituem a narrativa que podemos pensar como linhas para nossas costuras imagéticas, do contato crítico dos leitores com a obra que Silviano diz precisar o romance.
O interesse pela escrita de um período específico da vida de Machado de Assis (seus quatro últimos anos de 1905 a 1908 em suas cartas publicadas) compreende três aspectos principais, passando pela viuvez, pela velhice e pelo agravamento da epilepsia. Pesquisa detalhada que fica expressa na leitura fluída de um romance que costura os fatos históricos do período do final do século XIX e início da República no Brasil. Para Santiago, a pesquisa realizada em torno de termos e literaturas desconhecidas e distantes da sua formação foi proporcionando encontros e coincidências nas relações entre ele e a pesquisa de um Machado, desse Machado e outros personagens que surgem na narrativa. Acasos também na forma de “duplos”, como as iniciais de “M de A” (Machado de Assis e Mário de Alencar) ou na data 29 de setembro coincidente entre Machado e ele.
Santiago afirmou na conferência no IEA que “tomar as chances que o acaso proporciona para construir um retrato que não é uma mera biografia” (SANTIAGO, 2017). Nesse romance, temos as contribuições de um período histórico no tratamento da epilepsia, no contexto de um Rio na virada do século, das instituições médicas e como pensam, tratam e medicam a doença. Trata-se de um retrato “ambientado” de Machado e dos caminhos que percorre. Na mesma palestra pontou “a biografia é também um trabalho do leitor. A objetividade do biógrafo não pode ser a objetividade do leitor, mas sua subjetividade, sendo ele que constrói um pouco a biografia se consultar as fontes, pois irá compreender os significados de cada verbete e não somente a biografia do pesquisado”. Pensemos nesse leitor que não descobre as coisas atreladas à história do biografado, mas aprende por sua alocação no mundo das coisas, além do movimento sincrônico-assincrônico que esta pesquisa permitirá.
No dia seguinte ao encontro no IEA, Santiago participou do Seminário Internacional Hélio Oiticica com um depoimento sobre as relações com o artista em Nova York durante os anos 1970. Selecionamos para a Semana Especial da ARS no Blog Scielo alguns trechos da conversa ocorrida no IEA e, em especial, um momento em que Oiticica é relembrado em sua relação com a cidade, evidenciando os percursos que a fala de Santiago toma e os ritmos dos “acasos” em que o escritor conduz, orquestrando as intersecções que foram trazidas por ele na fala sobre o romance e a lembrança que surge da obra de Oiticica na cidade do Rio.
Referências
SANTIAGO, S. Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
SANTIAGO, S. Silviano Santiago fala sobre Machado e impasses da literatura contemporânea no IEA. 2017. Disponível em: http://www.iea.usp.br/noticias/silviano-santiago-estara-no-iea-para-falar-de-machado-e-impasses-da-literatura-contemporanea
Para ler os artigos, acesse
SANTIAGO, S. Os astros ditam o futuro. A história impõe o presente. (Artaud vs. Cárdenas). ARS (São Paulo) [online]. 2017, vol.15, n.29, pp.216-229. [viewed 23 November 2017]. ISSN 1678-5320. DOI: 10.11606/issn.2178-0447.ars.2017.131504. Available from: http://ref.scielo.org/tkjwhy.
SANTIAGO, S. Hélio Oiticica em Manhattan. ARS (São Paulo) [online]. 2017, vol.15, n.30, pp.207-216. [viewed 23 November 2017]. ISSN 1678-5320. DOI: 10.11606/issn.2178-0447.ars.2017.138521. Available from: http://ref.scielo.org/mn63f7
Link externo
ARS (São Paulo) – ARS: www.scielo.br/ars
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