Maria da Graça Jacintho Setton e Cassia Geciauskas Sofiato, Editoras Assistentes de Educação e Pesquisa, São Paulo, SP, Brasil
Educação e Pesquisa, em seu fluxo contínuo de 2018 cumpre o compromisso de divulgar resultados de pesquisas que tem mobilizado o campo acadêmico da Educação, no Brasil e fora dele. Em primeiro lugar, manifestando uma preocupação legítima sobre o movimento global de conflitos e violências que afligem a comunidade escolar (DEBARBIEUX, 2006), a investigação “Religions, discriminations et racisme en milieu scolaire (ReDISCO)”, conduzida pela Professora Françoise Lanthaume, da Université de Lyon 2, na França, e publicada no periódico como “Religião e educação: um desafio para o trabalho docente – entrevista com Françoise Lantheaume”, por Setton e Valente (2018), traça um panorama de realidades sociais diferentes, mas que possuem em comum a dificuldade de lidar com a configuração escolar da atualidade prenhe de desajustes culturais. Segundo resultados parciais, a condução de uma pedagogia baseada na justiça social, apresenta-se como um dos aspectos primordiais da vida escolar. A escuta e um trabalho pedagógico permanente entre os que enfrentam tais situações, são práticas que se impõem.
Seja a discriminação racial, religiosa, de gênero ou étnica, a Escola e seus agentes, professores, alunos e comunidade em torno, vem enfrentando desafios complexos.
- Como lidar com o social e culturalmente diferente?
- Como respeitar valores que não são comuns a todos?
- Como dar voz àqueles que até há pouco tempo estavam invisíveis no espaço escolar?
Questões que envolvem a sociedade global e que precisam ser respondidas a fim de diminuir o sofrimento de uma ampla parcela da população.
A pesquisa da professora Françoise Lanthaume, deverá estender-se até 2020 e conta com a colaboração de um consórcio de laboratórios franceses e estrangeiros, entre os quais se inclui, no Brasil, a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal de Pernambuco, a Universidade Federal do Paraná, a Universidade Federal do Amazonas e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Metodologicamente, a pesquisa em tela empreendeu um amplo levantamento de dados com entrevistas e questionários e tem como teoria base a Sociologia Pragmática de Luc Boltanski e Laurent Thévenot.
Nesta linha de discussão o artigo do pesquisador chileno Patricio Lepe-Carrión, intitulado “Educación, racismo cultural y seguridad nacional: la escuela intercultural en contextos de violência”, traz resultados também parciais de uma pesquisa realizada no departamento de Estudos Pedagógicos da Universidade do Chile. O investigador conclui sobre a necessidade de os agentes escolares trabalharem tendo como base uma visão intercultural crítica que contemple os problemas de realidades multiculturais que extrapolam questões objetivas de inclusão, mas que apontem sobretudo soluções para conflitos identitários dos povos atingidos.
Tal investigação tem como objetivo analisar o discurso educativo intercultural em contextos de violência escolar. A investigação toma como foco específico, a função que uma escola intercultural cumpre no interior do conflito armado que o Estado chileno mantém com o povo mapuchena, na região de Araucanía.
O artigo denominado “Inclusão de alunos com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento: atravessamentos nos currículos escolares”, cuja autoria é de Alexandro Braga Vieira, Inês de Oliveira Ramos e Renata Duarte Simões, traz à tona um tema atual e complexo para o campo da Educação Especial: currículos escolares e escolarização das pessoas com deficiência. O objetivo de tal estudo é apresentar reflexões sobre alguns desafios relacionados aos currículos escolares na perspectiva da educação inclusiva, com base nas contribuições de Meirieu (2002, 2005) e, além disso, promover um diálogo reflexivo-crítico a partir de alguns pensamentos produzidos em cotidianos escolares acerca da apropriação de conhecimentos por alunos com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento (TGD). Um dos desafios da educação inclusiva, na escola contemporânea, é garantir a permanência dos alunos com deficiência e TGD e o acesso ao currículo é um dos aspectos que interfere nesta dinâmica. O direito a apropriação do conhecimento escolar deve estar garantido e, no estudo em questão, os autores discutem aspectos relacionados a prática docente e algumas dificuldades encontradas ao longo do processo de inclusão escolar, tendo como centralidade a questão curricular. Como contribuição ficam reflexões que podem mobilizar uma ação docente efetiva, levando-se em consideração que, muitas vezes, o professor se sente paralisado frente ao desafio de ensinar um aluno com deficiência na escola comum.
Referências
BOLTANSKI, Luc; THÉVENOT, Laurent. De la Justification – les économies de la grandeur. Paris: Gallimard, 1991.
DEBARBIEUX, Éric. Violence à l’école: un défi mondial? Paris: Armand Colin, 2006.
NASCHI, Mohamed. Introduction à la sociologie pragmatique. Paris: Armand Colin, 2006.
Para ler os artigo, acesse
LEPE-CARRION, P. Educación, racismo cultural y seguridad nacional: la escuela intercultural en contextos de violencia. Educ. Pesqui. [online]. 2018, vol.44, e174819. ISSN 1517-9702. [viewed 12 November 2018]. DOI:10.1590/s1678-4634201844174819. Available from: http://ref.scielo.org/bczxym
SETTON, M. G. J. and VALENTE, G. A. Religião e educação: um desafio para o trabalho docente – entrevista com Françoise Lantheaume.Educ. Pesqui. [online]. 2018, vol.44, e201844002002. ISSN 1517-9702. [viewed 12 November 2018]. DOI: 10.1590/s1678-4634201844002002. Available from: http://ref.scielo.org/wkv4r9
VIEIRA, A. B., RAMOS, I. O. and SIMÕES, R. D. Inclusão de alunos com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento: atravessamentos nos currículos escolares. Educ. Pesqui., v. 44, e180213, 2018. ISSN: 1517-9702 [viewed 12 November 2018]. DOI: 10.1590/s1678-4634201844180213. Available from: http://ref.scielo.org/gkbtx6
Link externo
Educação e Pesquisa – EP: www.scielo.br/ep
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