Louise Moraes, Pesquisadora em Informações e Avaliações Educacionais, Brasília, DF, Brasil
No artigo “Diálogos entre ciência e religião: a temática sob a ótica de futuros professores”, de Bernardo Valentim Riceto e Pedro Donizete Colombo Junior, publicado no número 254 da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, temas que circundam a dicotomia ciência-religião são abordados como desafios para o docente em sala de aula. O ambiente escolar reúne atores de diferentes matizes socioculturais e, se por um lado o encontro entre alunos e professores com múltiplas trajetórias, crenças e formas de pensar o mundo enriquece o processo de ensino e aprendizagem, por outro suscita o embate de ideias. Nessas circunstâncias, opiniões divergentes podem confundir e dificultar o discernimento do que é estudado. Assim, espera-se que os professores estejam preparados para trabalhar temáticas controversas.
O estudo contemplou diferentes áreas do conhecimento — humanas, exatas e biológicas — e perfis de crença: ateus, agnósticos, evangélicos, espiritualistas e católicos, sendo que cerca de 58% dos participantes pertenciam a essas duas últimas duas categorias. Dentre diversas análises, foi avaliada a aceitação de trabalhos científicos sobre temas polêmicos pelos licenciandos, como clonagem de animais, mercado de carbono, clonagem de humanos, experimentação animal e células-tronco embrionárias. Observe abaixo um dos resultados, que evidencia a percepção dos alunos sobre a aceitação da evolução biológica.
Os resultados sugerem a influência da visão religiosa nas respostas e no entendimento de mundo/ciência dos licenciandos. Apontaram ainda que “em determinados cursos com perfis mais religiosos, há uma acentuada curva pela não aceitação ou rejeição de suas bases teóricas” e que, sendo tais alunos professores em formação, “suas interpretações/posicionamentos podem culminar e influenciar sua futura atuação em sala de aula diante de discussões sobre ciência e religião”. Houve ainda redução do índice de rejeição entre o início e o fim do curso e aumento da abertura para comentar, discutir e/ou opinar sobre o tema ciência e religião.
Assim como Lima e Menin (2006) discutem em seu trabalho a característica doutrinária de algumas escolas, que transmitem valores religiosos como definitivos e não deixam espaço para a descoberta por parte dos alunos, os autores destacam o papel formador de opiniões do ambiente escolar e ponderam sobre a possibilidade de influência do professor nesse processo. Não obstante a resistência em discutir sobre a interface entre ciência e religião no meio acadêmico e os meandres da temática, o artigo convida o leitor a refletir sobre o desafio das instituições formadoras ao preparar o futuro docente na mediação neutra e reflexiva em sala de aula.
Referência
LIMA, A. P. and MENIN, M. S. de S. O papel dos valores religiosos em escolas públicas do interior paulista. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, v. 1, n. 2, p. 143-151, 2006. e-ISSN: 1982-5587 [viewed 3 July 2019]. DOI: /10.21723/riaee.v1i2.440. Available from: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/440
Para ler o artigo, acesse
RICETO, B. V. and COLOMBO JUNIOR, P. D. Diálogos entre ciência e religião: a temática sob a ótica de futuros professores. Rev. Bras. Estud. Pedagog. [online]. 2019, vol.100, no.254, pp.169-190 ISSN 0034-7183 [viewed 3 July 2019]. DOI: 10.24109/2176-6681.rbep.100i254.3797. Available from: http://ref.scielo.org/gn2td3
Link externo
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – RBEPED: www.scielo.br/rbeped
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