Como interpretar os sentimentos dos funcionários em uma organização?

Janette Brunstein e Silvia Marcia Russi De Domenico, Editoras-chefe da RAM – Revista de Administração Mackenzie São Paulo, SP, Brasil

Vitória Batista Santos Silva, Suporte técnico da RAM – Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil

Os sentimentos dos empregados de uma organização afetam significativamente o cotidiano de trabalho das mais diversas modalidades e situações organizacionais. Ainda que o indivíduo compareça todos os dias ao trabalho e alcance as inúmeras metas previamente definidas, este ambiente nem sempre traz estímulos significativos, o que tende a gerar a perda do sentido do trabalho realizado. A RAM – Revista de Administração Mackenzie reuniu em sua última edição (20.2) dois artigos que abordam temas ainda pouco explorados no campo das organizações: a solidão e o presenteísmo.

O artigo de Siqueira, Dias e Medeiros (2019), intitulado “Loneliness and contemporary work: multiple perspectives of analysis” busca entendimento sobre algumas abordagens do sentimento de solidão, interpretando-o sob três lentes: “1) como afeto da convivência e da interação social; 2) como sintoma do mal-estar no trabalho, resultado da ideologia gerencialista; e 3) como fonte para o desenvolvimento, revigoramento e formação do indivíduo” (p. 2).

Os pesquisadores utilizam diversos autores que abordam o tema da solidão, dentre eles Enriquez (2004/2005), na tentativa de sinalizar que o ser humano pode se sentir solitário, mesmo quando está cercado por outros. Também é evidenciado que a interdisciplinaridade, utilizada para a análise da solidão neste estudo, contribui para tecer outras interpretações sobre o conceito de solidão, tais como a possibilidade de esta ser fundamental para a constituição do sujeito, como nos lembraria Touraine e Khosrokhavar (2004), e para seu próprio revigoramento.

O artigo de Garrido et al. (2019), “Metrics of presenteeism and its relations with cooperation: an empirical evidence”, traz um tema muito pertinente à atualidade, que é a questão do presenteísmo, que pode ser definido como a presença física de um profissional em seu local de trabalho, mas sem que haja foco ou atenção nas atividades realizadas, resultando em baixa produtividade. O foco dos autores, portanto, não está voltado para as atividades relativas ao trabalho, mas buscam meios de mensurar as relações entre o presenteísmo e a cooperação, e conseguem identificar algumas métricas.

No que se refere à parte teórica, Garrido et al. (2019), após situarem o leitor sobre os conceitos de presenteísmo e de cooperação separadamente, constroem a relação entre eles, utilizando para tanto autores que já tentaram propor métricas que avaliassem o presenteísmo, como é o caso de Ospina et al. (2015), explicando que muitas vezes ocorrem algumas confusões entre o conceito propriamente dito e outros fatores que resultam em perda de produtividade para os trabalhadores.

Pode-se dizer que ambos os artigos trazem importantes contribuições para o estudo das condições emocionais dos funcionários nas organizações, se inserindo em um campo vasto de estudo, mas que ainda possui muitas dificuldades no sentido da definição precisa de conceitos e sua operacionalização.

Referências

ENRIQUEZ, E. Da solidão imposta à uma solidão solidária.  Cronos, v. 5/6, n. 1/2, p. 19-33, 2004/2005. ISSN: 1982-5560 [viewed 31 May 2019]. Available from:  https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/view/3230

OSPINA, M. B. et al. A systematic review of measurement properties of instruments assessing Presenteeism. Am J Manag Care, v. 21, n. 2, e171-185, 2015. e-ISSN: 1936-2692 [viewed 31 May 2019]. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25880491

TOURAINE, A.; KHOSROKHAVAR, F. A busca de si: diálogos sobre o sujeito. Rio de Janeiro: Difel, 2004.

Para ler os artigos, acesse

GARRIDO, G. et al. Métricas do presenteísmo e suas relações com a cooperação: uma evidência empírica. RAM, Rev. Adm. Mackenzie, v. 20, n. 2, eRAMG190107, 2019. ISSN: 1678-6971 [viewed 31 May 2019].  DOI: 10.1590/1678-6971/eramg190107. Available from: http://ref.scielo.org/qrmsg3

SIQUEIRA, M. V. S., DIAS, C. A. and MEDEIROS, B. N. Solidão e trabalho na contemporaneidade: as múltiplas perspectivas de análise. RAM, Rev. Adm. Mackenzie, v. 20, n. 2, eRAMG190058, 2019. ISSN: 1678-6971 [viewed 31 May 2019]. DOI: 10.1590/1678-6971/eramg190058. Available from: http://ref.scielo.org/k7kkxw

Link externo

RAM. Revista de Administração Mackenzie – RAM: www.scielo.br/ram

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

BRUNSTEIN, J., DOMENICO, S. R. M. and SILVA, V. B. S. Como interpretar os sentimentos dos funcionários em uma organização? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/07/10/como-interpretar-os-sentimentos-dos-funcionarios-em-uma-organizacao/

 

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