Nos bastidores da absolvição de Capitu: correspondências inéditas de Helen Caldwell

Tiago Seminatti, Assistente editorial da Machado de Assis em linha – revista eletrônica de estudos machadianos, São Paulo, SP, Brasil

Machado de Assis em linha (v. 12, n. 27) apresenta o estudo “Helen Caldwell, Cecil Hemley e os julgamentos de Dom Casmurro”, de Hélio de Seixas Guimarães, professor da Universidade de São Paulo, acerca de correspondência em que o principal foco é a tradução que Helen Caldwell fazia do romance Dom Casmurro para o inglês. O pesquisador mostra que no diálogo postal entre a professora e crítica norte-americana com seu editor, Cecil Hemley, no início dos anos 1950, ocorreu o amadurecimento da tese presente em The Brazilian Othello of Machado de Assis (1960):  a de um texto permeado pela ambiguidade e ciúme masculino. O livro da norte-americana foi o primeiro a defender, de maneira contundente, a parcialidade do discurso narrativo de Dom Casmurro.

A análise de Guimarães mostra que os questionamentos de Caldwell a respeito da veracidade do discurso de Dom Casmurro surgem em meio ao processo de tradução do romance. Tais inquietações permeiam as cartas trocadas com Cecil Hemley entre setembro e dezembro de 1952. Editor responsável pela tradução de Dom Casmurro (1953) para o inglês, Hemley endossa a hipótese Caldwell, ou seja, também percebe muita fragilidade nas “provas” apresentas por Bento Santiago. Conforme se lê em trechos pinçados e analisados no transcorrer do artigo, Caldwell e Hemley problematizaram, no transcorrer dos meses, a intepretação que os brasileiros faziam do romance, compreendido como uma história do adultério feminino.

Assim, Guimarães articula tal correspondência com estudos sobre Dom Casmurro e revisita os pontos fundamentais da recepção desse romance, que apresenta julgamentos que vão na direção oposta à proposta por Caldwell, como ocorre em leituras posteriores à dela. O pesquisador observa que Caldwell, colocando-se em posição delicada em relação aos intérpretes brasileiros de Dom Casmurro, alcançou tamanha agudeza analítica não apenas em razão de ser estrangeira, mas também por seu questionamento à autoridade do narrador, fundamental para a leitura inovadora de um texto canônico.

Contudo, conforme nota Guimarães, Helen Caldwell não teve o devido reconhecimento no Brasil, e seus estudos críticos, fundamentais para os estudos machadianos, ainda não receberam a devida atenção de pesquisadores brasileiros, equívocos que a pesquisa principia por desfazer.

Referências

ASSIS, M. de. Dom Casmurro. Translated by Helen Caldwell with an Introduction by Waldo Frank. New York: The Noonday Press, 1953.

CALDWELL, H. The Brazilian Othello of Machado de Assis. Berkeley; Los Angeles: University of California Press, 1960.

SANTIAGO, S. Retórica da verossimilhança [1969]. In: SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos. 2. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p. 27-46.

Para ler o artigo, acesse

GUIMARÃES, H. de S. Helen Caldwell, Cecil Hemley e os julgamentos De Dom Casmurro. Machado Assis Linha, v. 12, n. 27, p. 113-141, 2019. ISSN: 1983-6821 [viewed 25 October 2019]. DOI: 10.1590/1983-6821201912277. Available from: http://ref.scielo.org/ff9ndt

Link externo

Machado de Assis em Linha – MAEL: www.scielo.br/mael

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SEMINATTI, T. Nos bastidores da absolvição de Capitu: correspondências inéditas de Helen Caldwell [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/11/12/nos-bastidores-da-absolvicao-de-capitu-correspondencias-ineditas-de-helen-caldwell/

 

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