Fernanda Cantarim, Pós-doutoranda em Gestão Urbana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
Políticas públicas de gestão de cidades são frequentemente resultado de trocas de experiências e ideias entre realidades semelhantes, que compartilham das mesmas problemáticas urbanas. Tradicionalmente, o diálogo sobre soluções aplicadas às cidades acontece em um eixo norte-sul, sendo ainda escassa a comunicação entre países do sul global (SÁNCHEZ, 2001). É nesse sentido que o pesquisador Leonardo Mercher, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, propõe uma leitura das possibilidades de trocas e difusão de ideias relacionadas à gestão socioambiental de grandes cidades no Brasil e na Índia. Essa discussão é apresentada no artigo “Gestão socioambiental nas grandes cidades: por que olhar do Brasil para as iniciativas das megalópoles indianas?”, publicado na urbe (v. 11).
Os resultados apresentados pelo autor demonstram que o Brasil e a Índia possuem semelhanças em seus cenários sociais, ambientais e políticos. Ferramentas cooperativas e o advento da BRICS (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) são mecanismos que facilitam a troca de experiência entre os países que compõe o grupo, porém existem barreiras que ainda atrapalham o diálogo entre Brasil e Índia. O tratamento das relações internacionais entre os países é limitado às práticas em escala nacional; faltam canais de comunicação entre as grandes cidades brasileiras e indianas com capacidade de atuar como disseminadores de ideias de gestão socioambiental. Marcher explica que sua “[…] pesquisa busca valorizar experiências de gestão pública sob a ótica pós-colonialista: buscar soluções aos desafios brasileiros e boas práticas em ex-colônias em desenvolvimento[…]” (p. 8).
O artigo apresenta uma análise de dados econômicos, demográficos, sociais e ambientais de ambos os países, com base em instituições governamentais e organismos internacionais (como BRICS, PNUD, UN-Habitat, Banco Mundial e think tanks selecionadas). Essa análise confirma uma aproximação dos problemas urbanos enfrentados nas grandes cidades do Brasil e da Índia: sob os efeitos de favelização, alta densidade urbana e corrupção governamental, com dificuldade de conciliar desenvolvimento e sustentabilidade.
Cidade de Mumbai, Índia. Fonte: BUSINESS INSIDER, 2018.
As chamadas “boas práticas” são políticas públicas consideradas modelo com potencial de replicação, e na Índia costumam ser embasadas em uma lógica neoliberal. A escassez de recursos governamentais é o principal motivo de haver uma priorização das parcerias entre Público e Privado, principal característica das políticas públicas neoliberais. O autor aponta esse sistema como mais suscetível aos interesses privados e corrupção, contribuindo para uma maior dificuldade de difusão de boas práticas entre os dois países.
Referências
BUSINESS INSIDER. 2 de Outubro de 2018. Drone photos of Mumbai reveal the places where extreme poverty meets extreme wealth. 2018. Available from: https://www.businessinsider.com/aerial-drone-photos-mumbai-extreme-wealth-slums-2018-9
SÁNCHEZ, F. A reinvenção das cidades na virada de século: agentes, estratégias e escalas de ação política. Rev. Sociol. Polit., n. 16, p. 31-49, 2001. ISSN: 0104-4478 [viewed 20 November 2019]. DOI: 10.1590/S0104-44782001000100004. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782001000100004&lng=en&nrm=iso
Para ler o artigo, acesse
MERCHER, L. Gestão socioambiental nas grandes cidades: por que olhar do Brasil para as iniciativas das megalópoles indianas?. urbe, Rev. Bras. Gest. Urbana, v. 11, e20190009, 2019. ISSN: 2175-3369 [viewed 20 November 2019]. DOI: 10.1590/2175-3369.011.e20190009. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-33692019000100406&lng=en&nrm=iso
Link externo
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana – URBE: www.scielo.br/urbe
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