Germana Barata, Pesquisadora do Labjor/Nudecri, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Editores científicos (ABEC), Campinas, SP, Brasil
Com quase uma década de existência, a altmetria tem sido adotada por grandes editoras de periódicos científicos comerciais e indexadores para apontar artigos que mais foram comentados, compartilhados no ambiente on-line, dando nova dimensão ao impacto da pesquisa e tirando a centralidade do artigo como meio de comunicação apenas entre pares (como valorizam as métricas tradicionais como o fator de impacto e as citações). A altmetria falha, no entanto, em capturar a atenção pública de pesquisas em países periféricos como o Brasil e a América Latina.
O artigo “Por métricas alternativas mais relevantes para a América Latina”, publicado na Transinformação (v. 31) pela pesquisadora em comunicação científica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Germana Barata, contextualiza o debate acerca das promessas e entusiasmos sobre a altmetria, mas também aponta algumas limitações que deixam no escuro a atenção recebida por revistas brasileiras, apesar das ações de divulgação científica em redes sociais das mesmas.
Uma das limitações que mais salta aos olhos analisadas por Barata é a subrepresentação da maior rede social do mundo e também a mais usada no Brasil: o Facebook. Segundo dados de um dos provedores de dados altmétricos mais influente, a inglesa Altmetric.com, a rede registra menos atividade do que o Twitter (MARICATO; LIMA, 2017), rede social preferida por apenas 6% dos brasileiros (STATISTA, 2019). Parte dessa invisibilidade do que ocorre no Facebook está na falta de acesso aos dados e no rastreamento de postagens públicas apenas de grupos e páginas institucionais (ENKHBAYAR; ALPERIN, 2018). Ou seja, a riqueza da rede que se concentra em trocas de postagens públicas entre indivíduos não está sendo registrada, dando a falsa impressão de que a rede não é relevante.
O provedor de dados altmétricos também rastreia atenção social aos artigos científicos em blogs e notícias jornalísticas (ALTMETRIC, 2019) a partir de uma coleção prévia que inclui uma maioria de veículos da língua inglesa e depende do pedido de auto-cadastramento de páginas de interesse. Com isso, mesmo artigos de autores brasileiros publicados em revistas internacionais de prestígio e que foram bastante compartilhados em blogs e notícias jornalísticas não têm sua atividade computada.
Por outro lado, o artigo também chama lembra que a comunidade também compartilhar DOI (identificador digital de objeto, uma espécie de RG do artigo) e links dos artigos corretamente para que sejam rastreados pela altmetria. Uma análise das estratégias de divulgação de artigos no Facebook do SciELO em 2017 identificou links “quebrados” que não remetem ao artigo ou postagens que levam ao blog ou ao sumário das edições, portanto, não passível de serem rastreados pela altmetria.
Mapa que representa em escala mundial o número de documentos indexados no Web of Science em 2016 por autores de cada país. Fonte: ALPERIN, 2018. Nota: A altmetria deve estar atenta para não reproduzir a mesma pouca representatividade do Hemisfério Sul em indexadores internacionais.
A altmetria é ainda um conjunto de métricas recentes, em desenvolvimento. Mas o amadurecimento da comunidade de pesquisadores tem proporcionado um olhar mais crítico que contribui para avançarmos em direção a indicadores mais relevantes para o impacto mais nacional e regional da ciência na sociedade. Por ora é importante lembrarmos, como traz uma das conclusões do artigo:
“É importante enfatizar a necessidade de uso moderado e relativizado da altmetria de modo a evitar que se conclua, erroneamente, que a ciência nacional ou regional não tem sido capaz de gerar atenção social” (p. 8 ).
Algumas limitações da altmetria
Subestima relevância do Facebook no uso de artigos científicos
Maior representatividade de blogs e veículos jornalísticos de língua inglesa
Baixa cobertura de artigos da coleção SciELO
Erro no compartilhamento de DOI e links de artigos
ENKHBAYAR, A. and ALPERIN, J. P. Challenges of capturing engagement on Facebook for Altmetrics. Ithaca, N.Y.: Cornell University, 2018. Available from: https://arxiv.org/abs/1809.01194
MARICATO, J. M. and LIMA, E. L. M. Impactos da altmetria: aspectos observados com análises de perfis no Facebook e Twitter. Informação e Sociedade: estudos, v. 27, n. 1, p. 137-145, 2017. e-ISSN: 1809-4783 [viewed 4 December 2019]. DOI: 10.22478/ufpb.1809-4783.2017v27n1.30921. Available from: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/view/30921
BARATA, G. Por métricas alternativas mais relevantes para a América Latina. Transinformação [online]. 2019, vol.31, e190031. [viewed 4 December 2019]. ISSN 0103-3786. DOI: 10.1590/2318-0889201931e190031. Available from: http://ref.scielo.org/hvyn7f
BARATA, G. Ciência na América Latina requer indicadores de atenção social relevantes para a região [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/12/05/ciencia-na-america-latina-requer-indicadores-de-atencao-social-relevantes-para-a-regiao/
Com quase uma década de existência, a altmetria tem sido adotada por grandes editoras de periódicos científicos comerciais e indexadores para apontar artigos que mais foram comentados, compartilhados no ambiente on-line, dando nova dimensão ao impacto da pesquisa e tirando a centralidade do artigo como meio de comunicação apenas entre pares (como valorizam as métricas tradicionais como o fator de impacto e as citações). A altmetria falha, no entanto, em capturar a atenção pública de pesquisas em países periféricos como o Brasil e a América Latina.
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